segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Uma Velha Atitude Para Um Novo Ano
Paz e Feliz 2010 !


À procura de um amigo



*Foi então que apareceu a raposa.

- Olá, bom dia! - disse a raposa.
- Olá, bom dia! - respondeu delicadamente o principezinho que se voltou mas não viu ninguém.
- Estou aqui - disse a voz - debaixo da macieira.
- Quem és tu? - perguntou o principezinho. - És bem bonita...
- Sou uma raposa - disse a raposa.
(...)
- Anda brincar comigo - pediu-lhe o principezinho.
- Estou triste...- Não posso ir brincar contigo - disse a raposa. - Não estou presa...
(...)
- O que é que "estar preso" quer dizer - disse o principezinho?
- É a única coisa que toda a gente se esqueceu - disse a raposa. - Quer dizer que se está ligado a alguém, que se criaram laços com alguém.
- Laços?
- Sim, laços - disse a raposa. - Ora vê: por enquanto, para mim, tu não és senão um rapazinho perfeitamente igual a outros cem mil rapazinhos. E eu não preciso de ti. E tu também não precisas de mim. Por enquanto, para ti, eu não sou senão uma raposa igual a outras cem mil raposas. Mas, se tu me prenderes a ti, passamos a precisar um do outro. Passas a ser único no mundo para mim. E, para ti, eu também passo a ser única no mundo...
(...)
- Mas a raposa voltou a insistir na sua ideia:
- Tenho uma vida terrivelmente monótona. Eu, caço galinhas e os homens, caçam-me a mim. As galinhas são todas iguais umas às outras e os homens são todos iguais uns aos outros. Por isso, às vezes, aborreço-me um bocado. Mas, se tu me prenderes a ti, a minha vida fica cheia de sol. Fico a conhecer uns passos diferentes de todos os outros passos. Os outros passos fazem-me fugir para debaixo da terra. Os teus hão-de chamar-me para fora da toca, como uma música. E depois, olha! Estás a ver, ali adiante, aqueles campos de trigo? Eu não como pão e, por isso, o trigo não me serve de nada. Os campos de trigo não me fazem lembrar de nada. E é uma triste coisa! Mas os teus cabelos são da cor do ouro. Então, quando eu estiver presa a ti, vai ser maravilhoso! Como o trigo é dourado, há-de fazer-me lembrar de ti. E hei-de gostar do barulho do vento a bater no trigo...A raposa calou-se e ficou a olhar durante muito tempo para o principezinho.
- Por favor...Prende-me a ti! - acabou finalmente por dizer.
(...)
- E o que é que é preciso fazer? - perguntou o principezinho.
- É preciso ter muita paciência. Primeiro, sentas-te um bocadinho afastado de mim, assim, em cima da relva. Eu olho para ti pelo canto do olho e tu não me dizes nada. A linguagem é uma fonte de mal entendidos. Mas todos os dias te podes sentar um bocadinho mais perto...

O principezinho voltou no dia seguinte.
(...)

Foi assim que o principezinho prendeu a raposa. E quando chegou a hora da despedida:
- Ai! - exclamou a raposa - ai que me vou pôr a chorar...
- A culpa é tua - disse o principezinho.
- Eu bem não queria que te acontecesse mal nenhum, mas tu quiseste que eu te prendesse a mim...
- Pois quis - disse a raposa.
- Mas agora vais-te pôr a chorar! - disse o principezinho.
- Pois vou - disse a raposa.
- Então não ganhaste nada com isso!
- Ai isso é que ganhei! - disse a raposa. Por causa da cor do trigo...
(...)
E então voltou para o pé da raposa e disse:
- Adeus...
- Adeus - disse a raposa. Vou-te contar o tal segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos...
- O essencial é invisível para os olhos - repetiu o principezinho, para nunca mais se esquecer.
- Foi o tempo que tu perdeste com a tua rosa que tornou a tua rosa tão importante.
- Foi o tempo que eu perdi com aminha rosa... - repetiu o principezinho, para nunca mais se esquecer.
- Os homens já se esqueceram desta verdade - disse a raposa. Mas tu não te deves esquecer dela. És responsável por aquilo que cativas para todo o sempre por aquilo que está preso a ti. Tu és responsável pela tua rosa...
(...)

*(O Principezinho -( Antoine de Saint-Exupéry) Versão em Portugal
(O Pequeno Príncipe - (Antoine de Saint-Exupéry) Versão em português
FELIZ ANO NOVO, COM PAZ E BEM !
Gislaine Becker

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Então é Natal e Ano Novo também...





EDUCAÇÃO
Podemos fazer a diferença...

A professora Rosa conta que no seu primeiro dia de aula parou em frente aos seus alunos da 5ª série primária e, como todos os demais professores, lhes disse que gostava de todos por igual. No entanto, ela sabia que isto era quase impossível, já que na primeira fila estava sentado um garoto chamado João Luiz.
Ela, aos poucos, notava que ele não se dava bem com os colegas de classe e muitas vezes suas roupas estavam sujas e cheiravam mal.
Houve até momentos em que ela sentia um certo prazer em lhe dar notas vermelhas ao corrigir suas provas e trabalhos.
Ao iniciar o ano letivo, era solicitado a cada professor que lesse com atenção a ficha escolar dos alunos, para tomar conhecimento das anotações.
Ela deixou a ficha de João Luiz por último, claro! Mas quando a leu teve uma grande a sua surpresa...
Ficha do 1º ano:
“João Luiz é um menino brilhante e simpático. Seus trabalhos sempre estão em ordem e muito nítidos. Tem bons modos e é muito agradável estar perto dele.”

Ficha do 2º ano:
“João Luiz é um aluno excelente e muito querido por seus colegas, mas tem estado preocupado com sua mãe que está com uma doença grave e está desenganada pelos médicos. A vida em seu lar deve estar sendo muito difícil.”

Ficha do 3º ano:
“A morte de sua mãe foi um golpe muito duro para João Luiz. Ele procura fazer o melhor, mas seu pai não tem nenhum interesse e logo sua vida será prejudicada se ninguém tomar providências para ajudá-lo.”

Ficha do 4º ano:
“João Luiz anda muito distraído e não mostra interesse algum pelos estudos. Tem poucos amigos e muitas vezes dorme na sala de aula.”

Ela se deu conta do problema e ficou terrivelmente envergonhada...
E ficou pior quando se lembrou dos lindos presentes de Natal que ela recebera dos alunos, com papéis coloridos, exceto o de João Luiz, que estava enrolado num papel de supermercado. Lembrou que abriu o pacote com tristeza, enquanto os outros garotos riam ao ver que era uma pulseira faltando algumas pedras e um vidro de perfume pela metade. Apesar das piadas ela disse que o presente era precioso e pôs a pulseira no braço e um pouco de perfume sobre a mão. Naquela ocasião João Luiz ficou um pouco mais de tempo na escola do que o de costume.
Relembrou, ainda, que ele lhe disse:
- A senhora está cheirosa como minha mãe!
E, naquele dia, depois que todos se foram, a professora chorou por longo tempo...
Em seguida, decidiu mudar sua maneira de ensinar e passou a dar mais atenção aos seus alunos, especialmente a João Luiz.
Com o passar do tempo ela notou que o garoto só melhorava.
E quanto mais ela lhe dava carinho e atenção, mais ele se animava e aprendia.
Ao finalizar o ano letivo, João Luiz saiu como o melhor da classe.
Sete anos depois, recebeu uma carta de João Luiz contando que havia concluído o segundo grau e que ela continuava sendo a melhor professora que tivera.
As notícias se repetiram até que um dia ela recebeu uma carta assinada pelo Dr. João Luiz de Almeida, seu antigo aluno, mais conhecido como João Luiz.
Mas a história não terminou aqui...
Tempos depois recebeu o convite de casamento e a notificação do falecimento do pai de João Luiz.
Ela aceitou o convite e no dia do casamento estava usando a pulseira que ganhou de João Luiz anos antes, e também o perfume.
Quando os dois se encontraram, abraçaram-se por longo tempo e João Luiz lhe disse ao ouvido:“Obrigado por acreditar em mim e me fazer sentir importante, demonstrando-me que posso fazer a diferença.”
E com os olhos banhados em lágrimas sussurrou: “Engano seu! Depois que o conheci aprendi a lecionar e a ouvir os apelos silenciosos que ecoam na alma do educando.
Mais do que avaliar as provas e dar notas, o importante é ensinar com amor mostrando que sempre é possível fazer a diferença.
Afinal, o que realmente faz a diferença?
É o fazer acontecer a solidariedade, a compreensão, a ajuda mútua e o amor entre as pessoas...
O resto vem por acréscimo...
É este o segredo do Evangelho.
Tudo depende da Pedagogia do Amor.
“Ensina a criança o caminho que deve andar e, ainda, quando for velho, não se desviará dele”.

“Nisto todos saberão que sois meus discípulos: Se vos amardes uns aos outros como eu vos amei” (Jo 13, 34-35).



Um Feliz Natal e Um Ano Novo cheio de Paz e Bem!
Gislaine Becker

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

A Literatura, O Vestibular e os Exames Nacionais


Tanto no Brasil como em Portugal, os alunos prestam exames para o ingresso em Universidades. No Brasil, além de muitos alunos concorrerem para diversas instituições de ensino ao mesmo tempo, o processo pelo qual eles são submetidos para ingressar numa faculdade chama-se vestibular, que é nada mais que um momento específico no qual ele vão, via provas em todas disciplinas, mostrar o conhecimento adquirido, principalmente nos últimos anos escolares. Diga-se de passagem, um sistema falho, de um momento que não garante e muito menos mostra o conhecimento de cada aluno, porque bem sabemos que o momento de prova é um momento relativo e nessa relatividade estão intrínsecos muitos fatores.
Em Portugal, apesar desse processo ter outro nome, Exames Nacionais, o processo é praticamente o mesmo e com um agravante: o aluno vai prestar exames diante de uma escolha feita no 9º ano, ou seja, se a vontade dele em ser matemático foi escolhida, vai cursar todo secundário direcionado para essa escolha. Caso queira mudar é mais complicado ainda. Logo, passa-se a ter uma ressalva à metodologia da aplicação das provas que trabalha com a escolha profissional do aluno. E, em Portugal organiza-se num sistema binário: o ensino universitário e o ensino politécnico.
Mas o que a Literatura tem a ver com isso? Tratando-se de um conteúdo que faz parte desse processo de seleção, tudo.
Independente da forma organizacional das provas para o ingresso à faculdade, imagino que, no caso da literatura, há uma (des) aprendizagem ao longo de toda escolaridade do aluno e uma amostra disso é justamente porque as obras que “caem” nesses exames são somente estudadas no último ano do Ensino Médio ou do Secundário como é chamado aqui em Portugal, ou no máximo passam a fazer parte do cotidiano escolar a partir do penúltimo ano desse grau escolar. E quando analisamos as questões das provas do vestibular ou mesmo dos Exames Nacionais, ficamos mais surpreendidos quando nos deparamos com perguntas completamente robotizadas, as quais percebemos que quem leu o livro ou pegou um bom resumo da internet consegue responder.
Não quero entrar na questão da (des) aprendizagem escolar literária porque isso levaria folhas e folhas a fio.Tudo isso é somente para dizer que Literatura é muito mais que isso. Que enquanto tivermos professores ensinando linearmente, cronológicamente a literatura, nunca teremos alunos vivenciando a literatura, contextualizando essa disciplina a tal ponto dela ser um cotidiano na vida do aluno.
Hoje, há uma onda mundial em formar leitores, outro processo desvinculado à literatura, como se tivéssemos dois momentos específicos: um de formar leitor e outro de ler. Parece confuso, entretanto todo processo atual dá-se, justamente, pelo desligamento da literatura ao longo do percurso escolar.
A Literatura, para aqueles professores que esqueceram e para os que não sabem, é formadora do homem e atua de forma significativa na vida do indivíduo. Diante do papel humanizador da literatura todo processo se dá a partir do momento em que nosso aluno consegue fazer do ensinamento da literatura uma aprendizagem ao longo da vida.
Todo processo de se ensinar Literatura para que os alunos passem no vestibular, ou nos Exames Nacionais é furado, é mentiroso porque nada tem a ver com a essência literária de criação e somente mascara um grande sistema falho que busca apenas uma questão: A entrada do aluno na Universidade.
Quero terminar esse breve artigo com as palavra de António Cândido para que alguns se lembrem o que o mestre disse.
“A literatura pode formar; mas não segundo a pedagogia oficial. [...]. Longe de ser um apêndice da instrução moral e cívica, [...], ela age com o impacto indiscriminado da própria vida e educa como ela [...]”.(CANDIDO, 1972).

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Reforma Ortográfica - Algumas Coisas Não Resolvidas

Sempre importante percebemos que a Língua Portuguesa possui suas variações, e tais variações vão depender do coloquial falado em cada região.
Por mais que a reforma ortográfica tenha como intenção romper as fronteiras geográficas e linguísticas, mantendo os falantes da mesma língua mais próximos, sempre haverá diferença linguística entre os falantes.
Vale a pena observarmos o texto a seguir para percebermos que, nesse caso, a reforma ortográfica assinada pela CPLP (Comunidades dos Países da Língua Portuguesa) não consegue fazer tal aproximação.


  • Homens de camisola e calcinhas?



Depois de dez minutos e uma grande bicha na paragem, subimos no autocarro e tivemos uma péssima surpresa: ele estava lotado por uma claque! Foi desagradável viajar ao lado daqueles homens barulhentos, todos vestidos com camisolas iguais, então perdemos a paciência e descemos antes da hora. Andamos um troço a pé e logo chegamos à praia.
Foi um sábado bué fixe, mesmo eu tendo-me esquecido do fato de banho... fiquei um pouco envergonhado porque tive de nadar de calcinhas! Mais tarde comemos umas sandes de fiambre, compramos umas imperiais e sumo para o puto, e também uns rebuçados e pastilhas elásticas.
No dia seguinte estava um briol, deixamos o pequeno no hotel lendo uma banda desenhada e fomos a uma casa de pasto muito gira, mas cheia de betos. À noite, pegamos o comboio de volta para casa. Com o preço das portagens, não vale a pena viajar de automóvel!
Percebeste?

Tradução
“Em brasileiro”, como dizem os portugueses, a história fica assim:

Depois de dez minutos e uma longa fila no ponto, subimos no ônibus e tivemos uma péssima surpresa: ele estava lotado por uma torcida organizada! Foi desagradável viajar ao lado daqueles homens barulhentos, todos vestidos com camisetas iguais, então perdemos a paciência e descemos antes da hora. Andamos um trecho a pé e logo chegamos à praia.
Foi um sábado muito legal, mesmo eu tendo esquecido o calção... fiquei um pouco envergonhado porque tive de nadar de cueca! Mais tarde comemos uns sanduíches de presunto, compramos uns chopes e suco para o menino, e também umas balas e chicletes.
No dia seguinte estava muito frio, deixamos o pequeno no hotel lendo uma história em quadrinhos e fomos a um restaurante muito chique, mas cheio de mauricinhos. À noite, pegamos o trem de volta para casa. Com o preço dos pedágios, não vale a pena viajar de automóvel!
Entendeu?

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Formação de Leitores -De 6 a 12 Meses

Ler em família é o melhor incentivo para os primeiros leitores.
Segundo o PNL, há quem pense que as crianças só começam a aprender a ler quando vão para a escola.
Na verdade, a capacidade de ler desenvolve-se desde o primeiro ano de vida e deve ser treinada regularmente com a ajuda da família.

Algumas dicas são importantes, observe:

O que a criança faz com livros:
  • Observa os livros e estica-se para os agarrar;
  • Leva os livros à boca;
  • Vira as páginas com a ajuda dos adultos;
  • Tem interesse por imagens e caras de pessoas;
  • Reage às imagens e à voz dos adultos com sons e gestos.

O que os pais devem fazer:

  • Sentar a criança confortavelmente mostrar-lhe o livro, apontar as imagens, dizer o nome do que está representado na ilustração, das cores, dos sentimentos, etc;
  • Repetir o nome de cada coisa para ajudar a criança a ligar o som das palavras ao significado;
  • Brincar com as palavras e encorajar a criança a responder. A comunicação estimula o desenvolvimento e reforça os laços afectivos;
  • Ajudar a criança a virar as páginas;
  • Observar a criança para a interessar sem cansar. Captar as reacções para continuar ou parar;
  • Brincar e interagir, dando atenção à criança e mostrando-lhe que compreende o que ela quer fazer.

Livros mais adequados:

  • Coloridos, com fotografias de crianças ou imagens grandes e nítidas de objectos familiares;
  • De cartão grosso, de pano ou plastificados;
  • Com páginas fáceis de virar;
  • Resistentes e laváveis;
  • Macios, com diferentes texturas ou com buracos para a criança os poder explorar com os dedos;
  • Interactivos, com partes móveis (agradam às crianças, mas não são resistentes).

domingo, 22 de novembro de 2009

Escrever Para Quem?




O artigo que me proponho a fazer vem ao encontro da necessidade de esclarecer algumas dúvidas que tenho, e que muitas pessoas têm, com relação aos textos que tenho lido ultimamente.
Certa vez, em um seminário, debatíamos um artigo colocado em pauta para uma de nossas sessões de doutoramento. O artigo proposto partia de uma tentativa de explicar a reforma educacional de 1905, em Portugal. Texto interessante que tentava, e penso que conseguiu, depois de muitas interpretações dos componentes da mesa, mostrar historicamente como esse processo deu-se dentro da história educacional de Portugal. Quero ressaltar que o autor do artigo era doutor no assunto que se propunha a escrever. Mas nisso tudo tinha um detalhe que prejudicou todo o artigo e nos deixou horas falando dele: o autor não sabia colocar o que queria dizer.
Um artigo científico para ser considerado como tal deve seguir o esclarecimento de algumas questões estruturáveis. E o guião estrutural parte da problemática, se é clara com seus objetivos e relevancia da mesma; da fundamentação teórica, se esta é adequada ao problema e atualizada, da metodologia, se está devidamente explicada e adequada; escolha dos participantes, se os dados foram bem recolhidos e são apropriados; bem como se as conclusões sustentam o estudo. Todavia, por maior que sejam os dados e o tempo dedicado ao assunto, se nada disso for bem explicado, tudo parecerá um labirinto sem saída .
Eco (2008:161) deixa-nos claro que devemos ser humildes na hora da escrita. Explico.
Caso eu resolva fazer um artigo literário para uma comunidade de literatos, não seria muito relevante fazer um histórico da literatura. Primeiro, porque estaria sendo redundante e em segundo porque estaria subestimando meus leitores quanto ao saber histórico da literatura.
O que acontece na maioria dos casos, seja com artigos científicos ou não, é que nossos “escritores” pensam que todo mundo sabe do que eles estão falando. E isso tudo me lembra aquela professora de um curso de licenciatura em Letras, que entra em sala de aula, olha para seus alunos e diz: “Como vocês já sabem, Camões foi o maior poeta português de todos os tempos. E todo mundo se olha e pensa: Foi? Aliás, essa afirmaçao que todo professor tem que afirma o saber como se todo mundo tivesse a obrigação de saber é muito fora de contexto deixando qualquer um sem graça e para além disso insenta o professor de ter de explicar.
É claro que se essa pergunta fosse feita em uma turma de matemática seria pior ainda, mas quem garante o conhecimento do aluno de Letras sobre Camões? E o melhor a pensar: qual o grau de saber desse aluno. Não podemos dizer que ele seja conhecedor de Camões só porque está cursando Letras. Supomos que um aluno matriculado em Letras saiba sobre Camões muito melhor do que uma questão de algebra, mas isso não garante que ele saiba que Camões foi o maior poeta português e muito menos como se tornou o maior. Logo, sempre é importante colocar para os alunos os fatos das coisas e como elas são e porque são.
Da mesma forma quando escrevemos. Não devemos supor que nosso leitor tenha uma varinha mágica e de nada custa fazer uma revisão rápida e clara sobre o que estamos mencionando em nosso texto.
Por fim quero falar de um professor de Teoria Literária que tive.
Começávamos nosso primeiro semestre em Letras e uma das nossas primeiras cadeiras dentro do curso era com um gênio em Teoria Literária, ele era realmente bom, enquanto conhecedor no assunto. Fato esse que só vim a descobrir anos depois quando efetuei muitas leituras sobre a cadeira.
Então, nosso professor era ótimo, todavia começou a sua disciplina falando em José de Alencar e dos arquétipos. Não sabíamos do que se tratava e que representavam as qualidades positivas e negativas que existinham dentro de cada personagem de Alencar. Todos nós sabíamos quem tinha sido Alencar, alguns já tinham lido na adolescência, outros na revisão do vestibular. Considerando que todos eram iniciantes e por mais que disséssemos ter lido muito sobre Alencar, existia um percurso de “mil anos luz” até nós(iniciantes), Alencar e os arquétipos.
E o pior não era somente isso, como se não bastasse os arquétipos passaram a existir em nossas vidas do nada e sem antecedentes.
Devemos sempre pensar no leitor quando escrevemos e sempre no aluno quando explicamos, caso contrário corremos o risco de tudo que dissermos não fazer sentido para ninguém, afinal a linguagem é uma metalinguagem, ou seja, uma linguagem que fala de outras linguagens.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

A Escrita - Um Ato Sentido

Criada e desenvolvida pelas sociedades ao longo do tempo, a escrita representa a forma comunicativa verbal ou não verbal. Esse processo tecnológico de comunicação é a representaçao de idéias ou palavras.
Dentro da comunicação humana o ato de escrever está assegurado via a troca de informações entre duas ou mais pessoas, na qual o emissor e o receptador conseguem construir uma ponte entre diversos assuntos e com isso crescerem à medida que vão se comunicando.
O crescimento humano dentro da comunicação, via escrita, gera muitas polêmicas porque nem sempre quem lê concorda com aquilo que lê e isso não se dá em diferentes processos de comunicação. Todavia, é na troca dessa informação que dá o crescimento humano.
Poderíamos ficar meses escrevendo sobre a comunicação humana, sobre a linguística anos a fio, mas antes de ficar escrevendo sobre a linguística.
Resumidamente, a linguística é a ciência que estuda a linguagem, Portanto, a função de um linguista é estudar toda e qualquer manifestação linguística como um fato merecedor de descrição e explicação dentro de um quadro científico adequado. Nessa ciência temos as principais observações que nos auxiliam, por exemplo, na hora da escrita:

Fonética, o estudo dos diferentes sons empregados em linguagem;
Fonologia, o estudo dos padrões dos sons básicos de uma língua;
Morfologia, o estudo da estrutura interna das palavras;
Sintaxe, o estudo de como a linguagem combina palavras para formar frases gramaticais.
Semântica, podendo ser, por exemplo, formal ou lexical, o estudo dos sentidos das frases e das palavras que a integram;
Lexicologia, o estudo do conjunto das palavras de um idioma, ramo de estudo que contribui para a lexicografia, área de atuação dedicada à elaboração de dicionários, enciclopédias e outras obras que descrevem o uso ou o sentido do léxico;
Terminologia, estudo que se dedicada ao conhecimento e análise dos léxicos especializados das ciências e das técnicas;
Estilística, o estudo do estilo na linguagem;
Pragmática, o estudo de como as oralizações são usadas (literalmente, figurativamente ou de quaisquer outras maneiras) nos atos comunicativos;
Filologia é o estudo dos textos e das linguagens antigas.
Seguindo o raciocínio, se consigo me comunicar, via sinais ou não, se sou sabedora de todos os conhecimentos da linguística, eu sei escrever?
A resposta é NÃO!
Este artigo sobre o ato de escrever nasceu de resposta a uma afirmação que li esses dias de um senhor que em resposta a outro artigo meu titulado "Para os Que Gostam de Escrever Corretamente III (última)", na verdade foram três dicas que dei para auxiliar o ato da escrita e esse artigo era o último, no qual eu afirmava que escrever é um ato Divino e de Dom e se esse ato fosse aprimorado, melhor seria. Pois bem, recebi desse senhor, de forma muito carinhosa entre outras observações, a seguinte: “Querida Gislaine! Concordo com você, quando diz que devemos ler pelo menos sessenta minutos por dia, para que com o tempo passemos a escrever bem,mas dizer que escrever bem é um dom, discordo plenamente. O ato de escrever é apenas um processo sistemático de leitura e muita práticidade. Só isso!” (Elizeu Paulino Pinto).
Bem, fiquei a pensar no comentário dele, que muito agradeço a todos que comentam sempre meus artigos, mas ele me fez pensar de uma forma diferente, entre tantos pensares. Porque sei que o ato de escrever não é um processo sistemático de leitura e de prática. E asseguro que por mais que todos detenham o conhecimento isso não garante a escrita, digo, a boa escrita. Para além disso, fiquei a pensar o que levou esse senhor a pensar isso. Sim! Porque a afirmação dele é muito mais complexa que uma simples afirmação ou opinião.
Trabalho no Projeto Livro Aberto, de minha autoria, há quase dez anos. Hoje, é objeto de estudo em meu doutoramento e esse projeto, em suma, forma leitores e/ou resgata aqueles que perderam a vontade de ler. E nessa minha experiência como professora de Literatura e Lingua Portuguesa, confesso que nunca formei um escritor, porque ser escritor não é treino de literatura e muito menos de gramática. Esse assunto dá pano para muitas mangas, mas vou explicar.
Dentro do processo aprendizagem, no qual o meu projeto é alicerçado, sempre tive consciência que se tivessemos bons leitores, estaríamos formando para vida indivíduos que além de possuirem sua opinião, estariam, via leitura, agregando outras opiniões, conhecimentos do outro e de si e com isso formando e se formando. Sempre entendi e tive como objeto de pesquisa e de experiência, resgatar ou formar o leitor, fato esse que somado pela utópica ideia de mudar o mundo, por meio da leitura, e sempre defendi que não poderíamos fazer disso um ato concreto, se não começassemos por um número pequeno de participantes, entretanto, seletos e respeitados nas suas opções literárias, pois estariam em formação humana dentro do ciclo da vida. Quando me refiro a um número pequeno de participantes, falo, por exemplo, de um número de alunos em sala de aula. E esse número reduzido de participantes deverá ser incentivado a começar no seu espaço físico alcançável de leitura, na contexetualização do lido com o vivido, numa projeção futura para o mundo e, no mínimo, com resultados para seu mundo, que conseqüentemente agirá sobre os demais. E assim, sucessivamente, a engrenagem de mudança começa a andar. Uma ação comunitária benéfica para todos, na qual a leitura, disfarçadamente, resgata o leitor, e o leitor aprende a ler.
Sempre acreditei que a literatura existe para adquirirmos cultura, conhecimento da nossa e das sociedades passadas, mas para além, muito além disso ela é o registro da arte da escrita e com ela carrega o papel psicológico, dentro da humanização de formar indivíduos.
E por fim, sempre defendi que ela deveria ser um ato de escolha, ou seja, ser ensinada via obras que falem à leitura do aluno, e que a escola deve estar atenta, pois para se fazer bom leitor é necessário respeitar gosto e idade. È apresentar ao aluno variedades de leituras para que ele se “ache” num livro, que encontre seu dia-a-dia, a sua realidade e, assim, aprender a transformar e formar a sociedade em que vive.
Pois bem, voltando à questão que me fez elaborar esse artigo, quero dizer o que sempre disse aos meus alunos: todos nascemos com o Dom da escrita. TODOS!
Diferentemente do que algumas pessoas pensam, o ato de escrever não é algo que pode ser desenvolvido ao longo dos anos, até pode e deve ser exercitado, mas não é isso que vai formar um escritor, porque o ato de escrever, o DOM da escrita está em SENTIR o que vamos escrever.
Seria muito óbvio dizer que com conhecimento das regras e com o treino da escrita eu serei um bom escritor, ou mesmo um escritor. Penso que dessa forma estaríamos burlando as regras e passando, de forma ilegal, na frente daqueles que não possuem o conhecimento. Mas, se quem não detem o conhecimento consegue escrever, então fico a pensar...., mais uma vez, o que faz com que eles consigam escrever? Sim, porque posso dar mil exemplos aqui, desde Camões, até Chico Buarque, que não tiveram escolaridade superior para o domínio da escrita, mas mesmo assim conseguiram fazer do ato da escrita a maior representação. Mas de que representação estou falando? Pois, cheguei onde queria chegar.
Todo ato de escrita é o ato de sentir. Assim como na vida, precisamos sentir o que estamos vivendo para poder viver. O ser humano precisa tocar e se deixar tocar para fazer que a arte nasça, para que esse ato Divino, esse Dom aconteça.
Lembro de um aluno “inteligentíssimo”, do terceirão, aliás, eu tinha de estudar mais quando ia ministrar para ele porque ele me fazia buscar mais alternativas para o grupo e esse exemplo quero dar porque é o maior que tenho entre todas as ciências do mundo inteiro, e ele me dizia: professora nunca vou conseguir fazer um poema, porque não sei escrever. Todavia, bastou estar amando para expressar todo o seu sentimento. Quero ressaltar que esse meu aluno tinha, em todas as matérias, a média 9,0 e para os padrões europeus isso significava 19.
Precisamos sentir, amar o que fazemos para que o Dom aconteça. Só quem ama consegue fazer da escrita e dos demais ato desse universo um ATO DIVINO. E alguém poderia me dizer: “ah!!!, mas escrever é para quem ama escrever, não é para um químico....” Em resposta a essa afirmação eu diria: sim, ser escritor, ser um químico, ser dentista, ser faxineira, ser doutor é para quem ama o que faz e até mesmo a química requer o registro da escrita e se o químico ama o que ele faz, consequentemente ele vai escrever bem sobre a química, a começar pelos regristros simbólicos dos elementos químicos.
Fechando o ciclo, quero dizer com tudo isso é que a leitura exerce sobre nós um processo de ativar nossos sentimentos, porque entre o papel e a escrita está há algo que pulsa, o ser humano, e se um texto for bem lido, bem interpretado, bem analisado, bem dramatizado, bem elaborado, ele desperta no leitor aquilo que o fez escrever, o sentimento. E esse sentimento, com esse sentir desenvolve escritas, com ou sem conhecimento científico, que até ele mesmo duvida.
Ao Sr. Elizeu, meu muito obrigada por me fazer pensar mais um pouco sobre o ato de escrever.

domingo, 1 de novembro de 2009

Projeto Livro Aberto- Formação de Leitores

Ilustração de Colin Thompson*



O Projeto Livro Aberto** tem algumas dicas para que sejam melhorados os aprendizes que dizem respeito à formação de leitores, bem como o resgate do leitor. Algumas metodologias eficazes criam ambientes educativos motivados para a leitura e a produção textual. Em conjunto, essas metodologias aplicadas colocam o aluno em estado de alegria, interesse e acaba por despertá-lo para o encantamento do mundo literário. Segue algumas pequenas dicas que fazem a grande diferença:

I. Exercite leituras para os seus alunos, em voz alta, de diferentes gêneros textuais, todavia incentive a leitura deles em voz alta para toda a turma. O som da própria voz estimula a leitura, bem como os diversos textos, de preferência aqueles que os alunos escolheram para trabalhar. Porque a múltipla escolha, partindo do próprio aluno, faz com que o interesse seja maior e coletivo.
II. Deixe que a arte flua, ande pela rua, ministre aulas em jardins, em museus, criando um espaço teatral, livre, moderno, peripatético, alternativo, que vá de encontro à inibição. Afinal, a maior manifestação concreta das letras se faz na representação do imaginário e incentivar este ato de representar é antes de tudo dar asas à imaginação e fazer com que o aluno exteriorize toda sua capacidade de compreensão e aprendizado.
III. Crie um ambiente de revisão textual feita pelos próprios alunos, porque desta forma o aluno consegue perceber na construção textual do outro a sua própria construção textual e faz com isso um crescimento múltiplo.
IV. Conte casos verídicos com suspenses, casos impressionantes, estimulando a imaginação do aluno, bem como que ele faça o mesmo. Coloque sempre em causa assuntos relevantes, que dizem respeito ao cotidiano da vida deles, bem como soluções para seus problemas. Crie um tempo para isso, que seja em forma de seminários.
V. Faça da sua aula, uma sessão de interação com a turma e a sociedade, buscando sempre a solução dos problemas em conjunto e que sejam ministrados de forma solidarias, como visitas em asilos, orfanatos, casas de detenções, escolas primárias, grupos solidários (como SIDA ou AIDS, luta contra o racismo, ecologia, fome, etc.). À medida que a turma vai se sentindo solidária, a tendência dessa percepção de utilidade é virar uma corrente muito forte e com realizações concretas para o bem de todos, numa engrenagem única e ao mesmo tempo múltipla que só tem a crescer de forma benéfica.
VI. Plante a idéia do trabalho voluntariado com projetos concretos, que busque apoio na própria escola, com a associação de pais e mestres, direção, órgãos públicos, etc. Busque apoio junto com seus alunos.
VII. E, acima de tudo, seja amigo do seu aluno, procure um tempo para ter um contato mais pessoal com ele, que fuja das apostilas(material do programa), das rotinas dos exercícios em sala de aula e faça-o ser atuante, como responsável da sociedade, na qual todos fazem parte.
VIII. A conscientização do aluno é a maior força que uma escola pode ter, assim como a base de cada estado é a educação da juventude.
IX. Esteja sempre aberto para o novo e abrace a ideia literária que seu aluno apresentar.
X. Junte as seguintes "palavrinhas" para fazer das suas aulas de literatura um prazer: Ler e Solidariedade.

*Ilustração de Colin Thompson, escritor, ilustrador e cineasta. Daltônico e não vendo isso como problema para suas ilustrações, começou a escrever e ilustrar livros infantis em 1990. Vive atualmente em Bellingen, Novo Gales do Sul. http://www.colinthompson.com/

**Criado e desenvolvido, desde 2000, sob autoria de Gislaine Becker, o Projeto Livro Aberto trabalha com projetos que visam por meio da metodologia no ensino da literatura resgatar o prazer da leitura, bem como formar o leitor e tem como objetivo principal ministrar cursos para a formação do sujeito, por meio da leitura. Esses cursos são ministrados para Secretárias de Estado, juntamente com as escolas, para escolas da rede privada, bem como grupos individuais de alunos que precisam desenvolver a leitura e conseqüentemente, ampliar seu entendimento com o mundo.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

José Saramago e Caim







O novo livro de José Saramago, Caim, parece incomodar, novamente, a Igreja Católica e alguns seguidores, reação já sentida, em 1991, com o lançamento do livro O Evangelho segundo Jesus Cristo. Obra essa que foi a gota d´água, por assim dizer, para que José Saramago fixasse residência na Ilha de Lazarote, na Espanha.
Com um estilo próprio nascido em Levantado do Chão, 1980, e posteriormente consagrado com o Memorial do Convento, 1982, José Saramago chega ao Nobel de Literatura, 1998, via obras que falam do povo para o povo.
Quando me refiro do povo para o povo, quero dizer que em cada obra de José Saramago há um retrato da cultura portuguesa, da sua identidade, do seu contexto histórico, das suas lutas e glórias, bem como de seus fracassos sempre superados pelo amor e a esperança, por mais contraditórios que pareçam.
Todos sabemos, ao longo do trajeto, o percurso milenar que a igreja católica fez com suas regras e sua política de exclusão que somente beneficiava a hierarquia católica e seus objetivos. Sem querer entrar no mérito da questão, porque isso daria assunto para muitas mangas, o que está valendo é que os tempos mudaram e o que ontem parecia benéfico, hoje está à merce dos próprios resultados plantados ao longo da história católica apostólica romana.
Mas, como bem diz o próprio escritor, a respeito do seu novo livro: “os católicos não irão se ofender, porque os católicos não leem a bíblia, quem sabe os Judeus se ofedam, mas isso pouco me importa”.
E, se em O Evangelho segundo Jesus Cristo Saramago deu-nos uma visão nova, via a própria visão saramaguiana, do Novo Testamento, em Caim, Saramago faz uma viagem para dentro dos primeiros livros da Bíblia.
Com uma rota contrária a toda religião católica, percorre cidades decadentes e estábulos, palácios de tiranos e campos de batalha pelos passos dos próprios protagonistas do Antigo Testamento, dando ao texto todo o seu humor sarcástico, elemento característico da sua obra.
Uma das imagens que se cria em minha mente quando falo ou escrevo algo sobre a obra desse gênio da literatura, desse mago das letras, é a imagem que Saramago vai escrevendo e rindo baixinho, como que a dizer: força! Aguentem mais essa.
Caim é, acima de tudo, um exercício de liberdade, de libertação e revela a magnitude do escritor em re-escrever uma história que já bem conhecemos do princípio ao fim e que na surpreendente luta, re-escrita, entre criador e criatura, fazer-se encontrar tantos portugueses, como outros povos.
E, se é mesmo como os defensores da igreja católica dizem, que esse livro é mais uma publicidade saramaguiana, fato que não acredito ser verídico e sim ser mais uma art manha de defesa dos opositores que por muito tempo fizeram das verdades algo oculto, sinceramente, lamento informar, mas ele conseguiu, de forma genial e criativa, mais uma vez e bem diferente de muitos que fizeram história.
Sem dúvida nenhuma, uma leitura para ontem !

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Estruturas de Participação


Dentro das Estruturas de Participação são articulados alguns pensamentos ligados aos diversos pontos que fazem com que a comunicação em sala de aula seja manifestada de forma diversa e correta. Esses estados de comunicação fazem com que o aluno prenda a sua atenção no orador, bem como consiga manifestar sua participação para os demais do grupo.
Essas estruturas denominadas por estados de comunicação poderíamos dizer que são resumidas em duas partes: as não-verbais e as verbais. Sabemos, como bem diz o nome, que a primeira vincula toda e qualquer comunicação que não seja escrita ou oralmente produzida, enquanto que a segunda expressa o contrário.
Ao mesmo tempo em que sabemos que ambas, verbais e não –verbais, são cheias de comunicação e que o contexto de sala de aula é muitas vezes imprevisível e complexo, é importante pensar que na maioria das vezes uma manifestação mal articulada, por parte do orador, pode colocar toda turma, ou grande parte da turma em desconcentração total ou pior ainda, se for um primeiro contato perder para sempre o que poderíamos chamar “elo captador” ou seja, o vínculo entre o educando e o educador. Para exemplificar esse fato temos como exemplo aquela matéria, a qual o aluno, mesmo sendo considerado “bom” aluno não prende a atenção e nunca tem comentários a fazer.
Dentro de um prisma para se buscar uma eficiência em utilizar a comunicação verbal, os professores ou oradores precisam buscar recursos nas estratégias institucionais relacionadas ao conteúdo. Tais elementos incluem estratégias que ajudam os alunos a comunicar.
Já dentro da parte comportamental do aluno, os professores precisam de uma variedade de técnicas de gestão, as quais criam estruturas para analisarem o estado, inclusive de distanciamento social, de cada aluno.
Por fim, as não-verbais precisam captar alguns elementos fundamentais, como o olhar, expressões corporais e permissão para o tempo de espera entre o falante e o ouvinte. Esse tempo de espera pode ser a chave para o bom desenvolvimento oral do aluno, bem como toda clareza do que foi dito.
Esse conjunto de estruturas de participação em sala de aula, que busca nos seus elementos comunicativos como gestão de conteúdo, verificação social do aluno, expressões corporais, conteúdos, entre outros fatores, fazem com que o desenvolvimento afetivo e intelectual do aluno trabalhem juntos com o objetivo em harmonizar o principio do prazer com o principio da realidade.
A percepção dessa estratégia necessária em sala de aula faz com que o professor dê asas ao conhecimento científico, assim como respeite os limites do aluno, no sentido da construção, independente do conteúdo, de um ser humano formado para vida e, consequentemente, fazedor de uma sociedade melhor.

Artigo ilustrado por: Sala de aula germânica – século XIV (Staatliche Museum, Berlim.)

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Magalhães e a Educação



O primeiro portátil português desenhado para crianças dos 6 aos 11 anos, será gratuito para os alunos inscritos no primeiro escalão da acção social escolar e custará 20 euros para as crianças do segundo escalão. Os restantes alunos pagarão 50 euros, é o que informa o Jornal de Notícias, da edição de cinco de outubro de 2009, Lisboa.
Segundo Don Tapscott, autor de mais de treze livros sobre tecnologia nas empresas e na sociedade, incluindo “Wikinomics” e o mais recente “Grown Up Digital”, em carta a Barack Obama diz que “Portugal está a se transformar em um lider mundial no repensar do ensino no século XXI”.
Para quem ainda não sabe, o Magalhães é um computador portátil que permite o acesso à Internet, tem uma autonomia de seis horas e é resistente ao choque e aos líquidos. Tem dois sistemas operativos diferentes - Microsoft Windows e Linux -, que incluem vários programas educativos e mecanismos de segurança, permitindo o controle por parte dos pais e encarregados de educação.
Bem sabemos de suas falhas de fabricação, bem como a demora de sua entrega nas escolas portuguesas, mas isso não tira o mérito da iniciativa do governo português que é no mínimo admirável e louvável. Sem contar que a partir de outubro o governo promete ainda portáteis Magalhães com 'software' adaptado a crianças com necessidades educativas especiais. Em números gerais, isso significa que quase nove em cada dez alunos dos primeiros quatro anos de escolaridade têm um portátil nas suas carteiras, fato este que deve se extender às universidades também.
Impressionante essa iniciativa que bem sabemos tem seus problemas, traz seus primeiros ajustes e que carrega consigo alguns comentários do tipo: “o que uma criança que nem sabe ler e escrever vai fazer com um portátil em sala de aula?” Ora pois, diria que em resposta a este questionamento, o aluno vai entre muitas coisas, assimilar o conteúdo de forma lúdica, de forma que venha ao encontro de seus interesses, bem como tornar-se mais questionador e consequentemente mais pesquisador.
O grande lance do Magalhães para educação, além de colocar milhares de crianças em contato com algo nunca visto, porque em 2005 apenas trinta e um por cento dos lares portugueses tinham acesso à internet, é criar uma ferramenta para o aprendizado e nada melhor do que uma criação que esteja atualizada, falando a linguagem do aluno, aproximando suas expectativas com suas práticas. E como se não bastasse o Plano Tecnológico da Educação além de garantir ligações rápidas, redes locais, equipamentos adequados nas escolas, vai investir pesado na formação de professores em TIC.
De parabéns está o governo português que está de olho na melhoria para educação, buscando uma forma de ligar cada vez mais o aprendiz e o conteúdo.
Penso, inclusive, que é muito melhor do que as Olím PIADAS de 2016 !

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Um Olhar Sobre a Crise



Em situação de crise, seja ela pessoal ou empresarial, existem inúmeras chances para crescermos. Inclusive há um ditado, o qual diz: “em tempos de crise, tire o S da palavra crise e CRIE”. O único problema da crise está justamente no espaço psicológico. Ao contrário do que muito se diz, a maior crise está na incapacidade psicológica de administrar as novas facetas que o “mercado” instalou.
Aos bons administradores, e isso não é novidade, cabe a redução dos gastos, o olhar mais voltado para o seu consumidor e repensar as margens de lucro. E, quando chego a mencionar isso, sobre o repensamento da margem de lucro, sempre fico a pensar que este lucro se fosse muito bem pensado, não precisaria ser repensado, ao mesmo tempo que me remete à visão capitalista de sempre querer ganhar mais e mais. A estabilidade empresarial ou pessoal está justamente no ganhar sempre e não ganhar muito. E, dentro desse pensar com “efeito borboleta”, se não tivermos equilibrio para administrar tudo que nos rodeia, com certeza, perderemos “as redeas” da situação.
A arte da guerra consiste, dentro de suas multiplas vertentes, em trazer o inimigo para próximo de si, todavia essa idéia de arte, guerra, inimigo, deveria ser colocada como aliada para uma grande vitoria de todos e o ponto mais alcançável para se ter essa vitória, diante da crise ou não, está no aperfeiçoamento do corpo maciço, seja da visão empresarial ou pessoal.
Empresa ou pessoa alguma dá qualquer passo diante da crise, ou mesmo que não tenhamos uma crise estabelecida, se não investir em si. E, quando digo investimento em si, refiro-me, no caso da empresa, ao aperfeiçoamento do seu pessoal, à prestação de cuidados aos membros da empresa, que passa desde o setor da limpeza até o ao chefe majoritário. Enquanto pessoas, a situação não é diferente, precisamos estar sempre aperfeiçoando nosso conhecimento, investindo em nós mesmos, com cursos, cuidados com nossa saúde, nosso bem estar. Somos iguais a uma máquina e a nossa única diferença é o pensar. Pensar esse que nem sempre é utilizado, por isso refiro-me à ÚNICA DIFERENÇA.
Penso que o grande erro das pessoas é pensarem que elas cresceram de verdade, mas no fundo suas atitudes são infantis e seus cuidados primários diante daquilo que desejam realmente para suas vidas. O que deveria acontecer é um cuidado especial e permanente.
Esses dias lia um texto da escritora Martha Medeiros, enviado por uma amiga, que a autora trabalhava a idéia que sempre estamos nos arrumando ou preparando para os outros. Ou seja, tudo está voltado para que o outro vai ver ou para que o outro vai dizer. Parte do texto de Martha Medeiros, lembrou-me o poeta Mario Quintana, que defendia a idéia que não precisamos caçar borboletas, basta cuidar do nosso jardim porque assim elas virão.
Essa tripa intertextualidade quer dizer uma coisa simples, ela foge dos mágicos palestrantes que querem salvar as pessoas ou as empresas, ela quer dizer que: o segredo da crise é cuidar, exatamente, do que foi abandonado, você.
A partir do momento que este cuidado, direcionado para você, for colocado no topo dessa pirâmede humana, todos serão tratados da melhor forma possível, não teremos tempo para crise, bem pelo contrário, CRIAREMOS.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Volta às aulas


Com a volta às aulas , a Illustramus coloca à disposição suas oficinas de acompanhamento que estão divididas da seguinte forma:


Curso de Oratória;

Curso de Marketing Pessoal e Empresarial;

Curso de Vendas;

Curso Gramatical para estrangeiros;

Projecto Livro Aberto para Imigrantes;

Projecto Livro Aberto ( leitura dinâmica);

Projecto Livro Aberto ( solidariedade e leitura);;

Literatura infanto-juvenil

Interpretação de textos e Redação;

Preparação para Exames Nacionais (Literatura e Gramática);

Orientação Vocacional e Profissional (com testes aplicados).


Maiores informações: illustramus@gmail.com

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Os Reflexos da Má Educação



Lendo o artigo do nobre colega, Professor de Filosofia, Zeferino Lopes, da Escola Secundária de Penafiel, na zona do Porto, o mesmo traz como título “Os Pequenos ditadores”, Zeferino aborda a má educação e aponta que ela nasce dentro de casa. Comenta ainda que esses “ditadores” chegam à escola já “mimados” pelas atitudes dos pais que são formas de suprir a falta do tempo que não têm com seus filhos. “...A criança sente que é ela que, efectivamente, ordena e os pais obedecem, fazendo tudo” “...Muitas, porque trabalham os dois e chegam cansados a casa e sentindo uma certa culpabilidade por não terem acompanhado o filho o dia todo, pensam erroneamente que devem servi-lo, protegê-lo e dar-lhe tudo para o compensar dessa “falta””.
Ao mesmo tempo comenta que essa educação reflete dentro da escola e diz: “ O pior sucede quando o “pequeno ditador” chega à escola. Trata os professores como o mesmo desrespeito e insolência que trata os pais. Se são chamados à atenção, ripostam com arrogância e altivez: “Mas, eu não fiz nada!” “...Se é severamente reprimido por algum comportamento mais descabido, não suportando qualquer frustação porque teve sempre a resposta pronta e desejada dos pais, vai apresentar-lhes queixa...”.
E, por fim, afirma que “os “pequenos ditadores” têm sempre uma saída: em primerio responsabilizam perante os pais, os professores das disciplinas sem exame, mas que sendo exigente, não embarcam no facilitismo da boa nota; em segundo lugar, pedem aos pais que façam pressão na direcção da escola para que o (a) professor(a) seja substituído por um que dê melhores notas por um preço mais baixo como se os professores estivessem à venda”.
Concordo com o artigo do Professor e entendo que as pessoas tomaram um caminho, parece, sem volta e a tendência é cada vez piorar mais e mais, dando-nos a sensação que saímos dos trilhos .
Quando me debruço na reflexão do professor Zeferino, um questionamento surge e a pergunta é: quem são os pais? Sim, porque parece-me que precisamos começar por casa. E dentro de tudo isso não podemos ter uma sala de aula para os filhos e uma para os pais, se bem que a idéia não seria má.
Todavia, respondendo a minha pergunta, quero chamar a atenção para algo que penso ser fundamental: os pais já foram nossos alunos.
E, com essa linha de raciocínio quero me prender em outra parte do artigo do Professor, na parte inicial, a qual o mesmo afirma que: “ Não, não me refiro a alguns directores (as) que pululam por aí em alguns agrupamentos ou escolas e que têm manifestos tiques autoritários. Não seria difícil demonstrar que estes, em vez do “quero, posso e mando” não são mais do que joguetes ou marionetas nas mãos do poder ou de grupos de pressão, representados no Conselho Geral...”
Pois, temos uma categoria desunida, fragilizada pelo sistema que determina quem deve comandar, quem deve estar a frente da escola e consequentemente, em sala de aula. E o pior disso tudo, por anos, por séculos é assim que tem funcionado.
Antes de atirar a primeira pedra , até porque o meu telhado é de vidro, quero buscar na minha lembrança alguma coisa que tenha lido que afirme que a função da escola é somente didatica. Rebusco minhas lembranças e penso que foi ai que nos perdemos, entre um pensar e outro, perdemos o caminho.
E, voltando ao pensar anterior, os pais já foram nossos alunos. Logo, se os pais já foram nossos alunos e hoje são eles quem determinam a educação inicial dos futuros alunos, onde está o começo disso tudo? Vou afirmar que na escola.
Temos o maior poder, ou tínhamos, somos a maior entidade humana na construção do ser. Mas, esse pensar sempre foi negado à escola, porque para ela foi dado somente a função didática. A responsabilidade também é da escola.
Quando falo em responsabilidade social, falo de um todo, todos temos a responsabilidade um sobre os outros e a escola tem de deixar de ser somente didatica. Responsabilizar a escola, não é dar-lhe margens a mais responsabilidades, além das didaticas, mas dar responsabilidade.
Fico a pensar muito nisso, no real papel da escola, de nós professores na formação do indivíduo. É uma corrente que não pode ser rompida, porque se houver falhas, os alunos de amanhã tornar-se-ão pais e suas atitudes vão refletir, é um bumerangue arremeçado e ele volta para as mãos de quem o lançou.
A escola precisa formar para a vida, porque se for determinada para ela somente as funções didáticas, anuncio que ela está no final.
Precisamos formar seres melhores, para que os mesmos desenvolvam suas habilidades e saibam, também, educar seus filhos com competência, para além disso, terem uma profissão que gostem, que não sejam somente corredores capitalistas e com isso tudo consigam ter o equilibrio entre o trabalho e família.
A escola precisa dar um passo maior em direção da formação do ser humano, caso contrário será vítima das suas ações.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Os Varais de Lisboa








Metaforicamente, os varais de Lisboa trazem a representação humana que rompe os limites das paredes para se juntar ao contexto urbano. Em cada peça de roupa estendida, de uma forma bandeirada, fica configurado a identidade de cada morador. Por suas vestimentas, sua cor, seus escritos, seus tamanhos, podemos traçar uma ideia das pessoas que habitam cada moradia.
Ao mesmo tempo em que somos arremessados para esta ideia, conseguimos perceber a forma na qual cada um é colocado para fora de suas janelas, como que anunciar a forma organizada em que é feito. Somado a tudo isso, muitas ideias ficam abertas para o entendimento dos mesmos, bem como ao motivo que os leva para fora de seus limites habitacionais, como a falta de espaço, de luminosidade, de calor e ventilação.
O encontro entre o íntimo e o público da aos varais de Lisboa uma identidade única que, de forma representativa figurada, mostra a junção entre a necessidade e a arte.
Podemos considerar a arte nos varais de Lisboa, a partir do momento em que nosso olhar percebe o linear dos mesmos nas ruelas, como que a desenhar, ou pintar as fachadas velhas das casas fazendo uma simetria harmoniosa entre a arquitectura antiga e paredes gastas com o colorido das "vestias". Este efeito estético determinado, ressalva, também, a importância que os varais de Lisboa têm, como que a humanizar o passado. Quando referimo-nos à humanização do passado, implica-se também a perpetuação do mesmo, pois bem sabemos que os varais de Lisboa são seculares. Este choque de imagens entre as roupas modernas e as paredes antigas torna os varais de Lisboa uma ponte entre o passado e o contemporâneo.
A exposição dos Varais de Lisboa é o resultado expressivo de uma amostra do conjunto da liberdade do movimento, identidade, momento histórico e arte.
Um belo registro dessa cultura secular portuguesa está sendo feito por meio do blog http://varaisdelisboa.blogspot.com/, o qual vale a pena acessar para ver as maravilhas expostas.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Das Obras Marginais às Obras Literárias




Várias são as críticas apontadas para nossas obras literárias. Partindo do pressuposto de que nada é absoluto e que uma crítica realizada de forma errônea pode afastar para sempre nosso leitor, buscamos entender alguns métodos utilizados por nossos críticos para avaliação das mesmas. Por meio desse entendimento, procuramos apontar alguns aspectos negativos que, de forma, talvez, inconsciente faz com que o crítico literário não trabalhe, em hipótese alguma, com o subjetivo do autor e sim com sua importância à escrita cronológica, dando referência e ressalva ao seu tempo, tornando-se assim marcador de época.
Diante disso, fazem com que a obra seja analisada de forma fria e em geral, calculada, como se todas essas fossem escritas somente para mostrar seu tempo, tornando-se um calendário secular e em nome de uma universalidade classifica o que é bom e ruim.
A partir de Afrânio Coutinho, a crítica literária profissionaliza-se e desde então se fechou em teorias e hermetismo, o que impediria muitos possíveis leitores de serem introduzidos ao universo literário.
Sabemos, e nosso olhar não é ingênuo, que por mais que seja acusada de difícil, hermética e teórica, a crítica literária trouxe-nos excelentes estudos na área da historiografia literária, da sociologia da literatura, da própria crítica literária com sua teoria-crítica, tentando sistematicamente compreender o fenômeno literário particularmente em nossas condições culturais.
Na verdade, o que se esconde por trás dessas construções teóricas-críticas são os valores do crítico, que irão nortear a escolha e importância dada a determinados autores na história da literatura. E esses valores, em certo momento, deixam de seguir uma pura análise para assumir outro papel, uma vez que se profissionaliza, logo se capitaliza, fazendo assim que analisem o que, quiçá, nem leram.
Contudo, bem sabemos que por trás de toda escrita existe “alguma” coisa que pulsa e que por mais que tenha um objetivo calculado, sempre será lido por vários olhos e que cada olhar analisa também com sua subjetividade e com “aquilo” que mais o identifica. Afinal, o objeto da crítica literária é a obra literária e essa somente passa a existir quando interagem, autor, obra e leitor.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Pe. Amaro e o Seu Crime


Primeiro romace realista da literatura portuguesa, O Crime do Padre Amaro revelou um dos maiores romancistas portugueses e chocou a sociedade da época com sua denúncia social e religiosa.
Criado dentro de um sistema, no qual ser padre implicaria uma vida social arranjanda, Amaro ordenou-se, mas nunca deixou de ser homem e se apaixonou por Amélia. Já sacerdote em Leiria, espanta-se, no início, com o cinismo explícito dos seus colegas de batina. Começa a perceber que tudo que o cerca, é de forma pecaminosa. Está, na verdade, disfarçado em uma entidade social.
Segundo Jean Jacques Rousseau, escritor suiço, em seu livro sobre a teoria da personalidade, era a sociedade quem corrompia o homem. Subestimou-se a possibilidade da sociedade reflectir, exatamente, a totalidade das tendências humanas. Outra concepção acerca da personalidade foi baseada na constituição biotipológica, segundo a qual a genética não estaria limitada exclusivamente à cor dos olhos, dos cabelos, da pele, à estatura, aos distúrbios metabólicos e, às vezes, às péssimas formações físicas, mas também, determinaria as peculiares maneiras do indivíduo em relaciornar-se com o mundo: seu temperamento, seus traços afectivos, etc.
Com este entendimento e as demais evidencias do livro, perguntamo-nos se o que Padre Amaro fez querer o título de crime. Ou seja, por mais que Amaro tenha cometido qualquer crime, e queremos aqui abrir um parenteses para dizer que o seu crime maior foi não viver esse amor, porque acreditamos que ele amava Amélia e a partir desta constatação travou uma luta entre seu futuro como padre e suas comodidades e o que sentia, entendemos que nada fez conscientemente e estava envolvido por tudo que trazia em suas memórias como formação do sujeito. Para ele algo estava errado, dentro do quadro que se apresentava, todavia o que mais contou foi tudo que estava armazendo em sua mente.
Para nós, Pe. Amaro foi induzido, carregado, e, por que não dizer, vítima de todo um sistema pronto que condiciona o sujeito de uma tal forma que o mesmo fica sem opções.
Não queremos provar nada, contudo, Amaro, lembra-nos algo muito importante, uma passagem bíblica em que Cristo disse: “ Atire a primeira pedra, quem entre vós não tiver um pecado”.
E, para finalizar, queremos fazer um “gancho” para outra reflexão, desta vez sobre a vida desses quatro personagens: Amaro, Amélia, Cristo e Madalena.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Da Leitura à Oratória


O domínio da linguagem oral está ligado directamente à quantidade de recursos verbais que se possui, e uma das melhores formas de adquirir esses recursos é por meio da leitura, quanto maior for nosso vocabulário, mais fácil será nosso domínio linguístico.
A leitura proporciona-nos a expansão do imaginário, do intelecto e, consequentemente, dos recursos para persuadir, via palavra. Logo, não podemos pensar em persuadir caso não sejamos bons leitores. E ser bom leitor depende de você, por mais que não goste, comece aos poucos. Procure ler aquilo que lhe agrada, seja do género científico, romântico, poético, policial ou de terror. Enfim, o género não diz respeito, o que importa é que você comece a ler para criar o hábito. Uma vez com este hábito aperfeiçoado, procure ampliar seu género textual, chegará a um patamar em que ler passará a ser fundamental e, a partir daí, tudo será fácil.
Não esqueçamos: Cada palavra lida é oitenta por cento absorvida e essa dimensão alcançada, em cada palavra, vai fazer você mais confiante, pois agora tem como aliado um parceiro fundamental: o domínio linguístico por meio da leitura.
O hábito e a interpretação de textos, como livros, notícias, propagandas, panfletos, histórias em quadrinhos, mapas históricos e geográficos, possibilitam ao aluno obter informações do mundo e suas dimensões linguísticas e assim desenvolver a sua competência de leitor e escritor. Entretanto, para isso é preciso que o aluno compare e compreenda, não somente aquilo que o texto possibilita, mas também os recursos expressivos utilizados pelo autor e as várias interpretações que o texto proporciona, bem como a organização dos diferentes tipos de textos.
Lembramo-nos das palavras de William James, o mais destacado professor de Psicologia da Harvard, que escreveu seis frases que poderão ter um profundo efeito em sua vida, leitor, seis frases que são o “abre-te-sésamo” para a caverna do tesouro da coragem de Ali Babá:

Ø Em quase todos os assuntos, você será salvo pela sua paixão por eles;
Ø Se você tiver cuidado suficiente o resultado é certo;
Ø Se você desejar ser bom, será bom;
Ø Se você desejar ser rico, será rico;
Ø Se você desejar aprender, aprenderá;
Ø Somente, então, você, realmente, deverá desejar estas coisas, e desejá-las com exclusividade, e não desejar uma centena de outras coisas incompatíveis, com a mesma intensidade.
A hora é da palavra, o futuro exige o poder da palavra, da persuasão e essa mudança depende de você, somente de você!
Leia sempre!

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Um Olhar Sobre Saramago



A questão de identidade tem sido abordada por Saramago de uma forma, na qual quem a faz é o povo. Por meio de reflexão, o autor coloca o leitor como identificador de si mesmo, fazendo do papel de identidade muito mais que uma criação literária e transformando essa criação em ferramenta para identificação de si e do próprio leitor.
O que nos parece claro é que, para Saramago, a identidade está muito além de que questões práticas dentro de uma ciência que se aprende. Para o autor a identidade existe e co-existe dentro da própria experiência, é o andar que faz o caminho. Assim como fez o próprio Saramago o seu caminho de escritor.
Nota-se um homem humanista, sonhador, talvez, em textos, pelos seus escritos, mas realista na percepção da palavra. Assim, entendemos que José Saramago parece-nos um elo entre aquilo que diz ou dizem ser e o que, verdadeiramente, é. Interessante, também, e revelador como o autor faz comparativos da sua vida, dizendo que à medida que ia escrevendo estaria colocando em prática o que estava vivendo ou que já havia vivido.

“Muitos anos depois, escrevendo pela primeira vez sobre este meu avô Jerónimo e esta minha avó Josefa, tive consciência de que estava a transformar as pessoas comuns que eles haviam sido em personagens literárias e que essa era, provavelmente, a maneira de não os esquecer, desenhando e tornando a desenhar os seus rostos com o lápis sempre cambiante da recordação, colorindo e iluminando a monotonia de um quotidiano baço e sem horizontes, como quem vai recriando, por cima do instável mapa da memória, a irrealidade sobrenatural do país em que decidiu passar a viver”. ( AGUILHERA, Fernado Gómez; A Consistência dos Sonhos, Cronobiografia. Ed. Caminho, Lisboa, 2008) .

Em entrevista dada a Carlos Reis, Saramago afirma a valorização do individuo comum e a própria participação da história, como protagonista, dentro e fora da ficção, momentos estes determinantes para realização de suas obras. Um gesto lúdico, como bem lembra Reis quando diz que a aprendizagem da escrita é como que deslizasse para uma aprendizagem da própria identidade, descoberta também da força dos cruzamentos operados entre o registro da autobiografia e o do outros géneros que com ela convivem: a crónica, que é sobretudo conhecimento do tempo presente, e a narrativa de viagens, que vem a ser conscientização da alteridade e da mudança.

"É esse sentido da pessoa comum e corrente, aquela que passa e que ninguém quer saber quem é, que não interessa nada, que aparentemente nunca fez nada que valesse a pena registrar, é a isso que eu chamo de as vidas desperdiçadas. Talvez eu não tivesse uma consciência muito aguda disso, se não visse de que dependem as vidas das pessoas, de coisas que lhes são totalmente alheias, em que elas não foram parte. E não sendo nenhuma pessoa totalmente livre para dispor de sua vida como entende e sabendo nós que a nossa vida é também orietada, determinada e empurrada pelas outras pessoas sem disso nos darmos conta muitas vezes, eu limito-me a dizer que esta coisa (e é de mim que falo) e que é o seguinte: a minha família toda era formada por camponeses, sem-terra, gente pobre, analfabetos todos ou quase todos; se meu pai não tem vindo para Lisboa, depois de fazer a guerra de 14-18, pensando que tinha de largar a enxada e ir tentar viver de outra maneira na cidade, não existiria o Memorial do Convento, não existiria o Ensaio sobre a Cegueira, não existiria nada disso.” (p.82). REIS, Carlos, Diálogos com José Saramago, Lisboa, Editora Caminho, 1998.

E por fim, dando uma idéia do sentido de tudo, estando ligado a função humanizadora da literatura, Saramago faz e cumpre a necessidade que tem o homem de fantasiar consigo e, como essas necessidades têm sempre sua base na realidade, na literatura, neste caso, atua como instrumento, também de educação, de formação do homem, uma vez que exprime realidades que a ideologia dominante vive. Como bem lembra Antonio Candido quando diz: “A literatura pode formar; mas não segundo a pedagogia oficial”. “[...] Longe de ser um apêndice da instrução moral e cívica, [...], ela age com o impacto indiscriminado da própria vida e educa com ela”.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Da Televisão à Escola



As aulas estão voltando, quero dizer, no Brasil recomeçaram hoje, aqui em Portugal, na segunda quinzena de setembro, voltarão.
Com o retorno às aulas e conversando com uma amiga, falávamos do aproveitamento das crianças nas férias. Entendo que férias são férias e que as crianças devem fazer tudo que não fazem na escola, até porque as férias são tidas como um tempo, no qual as crianças devem descansar do contexto escolar.
Pois bem, e o que resta às crianças (refiro-me, também, aos adolescentes) que não possuem atividades como piscinas, praias, esportes, internet, entre outras opções? Resta-lhes a televisão. E ela vicia, deseduca e o que é pior, ela não ensina.
Atualmente, não há nenhum sinal científico de que o fato de assistir televisão venha a afetar o aprendizado na escola de uma maneira negativa, todavia, lembrando as palavras de Mario Sergio Cortella, filósolo, mestre e doutor em educação: “Conhecimento está úmido de situações histórico – sociais; não há Conhecimento absolutamente puro, sem nódoa. Todo Conhecimento está impregnado de história e sociedade, portanto, de mudança cultural (...) o Conhecimento é também político, isto é, articula-se com as relações de poder. Sua transmissão, produção e reprodução (...) decorre de uma posição ideológica (consciente ou não), de uma direção deliberada e de um conjunto de técnicas que lhe são adequadas.”
Logo, segundo a explicação do educador Cortella, nossas crianças estão à mercê do poder intencional do proprietário da televisão. E, com isso fico a pensar que enquanto as televisões brigam pelo poder de audiência, não tendo uma seleção mais voltada para o interesse na educação, temos de assistir Faustão (programa que tem como objetivo ensinar os telespectadores como serem mal educados, rindo de cenas como os vídeos cacetadas, de como perguntar e responder ao mesmo tempo; sem deixar que o entrevistado faça uso das palavras), Morangos com açúcar (esse com sonhos de adolescentes de um mundo cheio de banalidades que não condizem com a realidade do ser humano), A Diarista (aqui como dar um “jeitinho em tudo”), sem contar as novelas (nessas nem quero pensar), entre tantos outros que circulam pelo mundo.
Com este pensamento, quero fugir da censura, bem sabemos que ela também não cabe em situação alguma, mas precisamos, urgentemente, fazer uma seleção dos programas que vão ao ar, porque bem entendemos que todas as emissoras são concessões públicas e para tal devem servir à sociedade.
Atenção lá; devem servir a sociedade, entretanto não as sociedades que se beneficiam da televisão para se promoverem. A partir daqui, dessa nova corrente de pensamento, penso que as emissoras sempre serão assim e a tendência é piorar cada vez mais porque temos um poder que se beneficia das concessões.
Parece que tudo é um grande jogo, aliás, um péssimo jogo, no qual a televisão ensina tudo que não presta e o que presta está em sinal fechado, no qual somente quem tem acesso é quem pode pagar por ele, enquanto a massa forma-se da pior educação possível.
Tomara que o tempo de assistir televisão seja o menor possível, pelo menos enquanto estes aí estiverem.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Educação Pautada na Globalização


Preocupa-me quando escuto pais falando, orgulhosamente, que seus filhos começaram a estudar bem cedo e mais ainda preocupa-me quando ouço que os filhos fazem aulas de natação, inglês, oficinas disso e daquilo. Nada contra o aprender, aliás, a velha frase é bem conhecida: “Só sei que nada sei”.
Foi-se o tempo em que colocar o filho em oficinas era muito mais que ocupar o tempo dele ou desocupar o tempo dos pais com os encargos dos filhos. Bem sabemos as conseqüências que isso pode trazer para o indivíduo que precisa freqüentar a vida estudantil.
O processo deu-se de uma forma desenfreada, com a leveza da desculpa da globalização, temos crianças multidisciplinares, mas que mesmo assim não correspondem as necessidades do mercado.
Temos alunos cansados em sala de aula, porque além de freqüentarem há tempos a escola, onde passam de doze a quinze anos de suas vidas, precisam freqüentar a mesma coisa, as mesmas metodologias, os mesmos dizeres, as mesmas apostilas, sem contar que vivem a fase universitária, as pós e os mestrados e doutorados da mesma forma.
O que mudou dentro da educação em cinqüenta anos? Que mudanças conseguimos fazer para que o quadro estudantil tenha, realmente, uma relevância em nossas vidas? Pois, atrevo-me a dizer que nada! E, uma pergunta ocorre-me: Formamos pessoas para que? Em que formação estamos pautados? Formamos pessoas para ascenderem em suas carreiras, para passarem em vestibulares, em exames, para terem um acúmulo de canudos? Afinal, para que educamos?
Triste, mas verdadeiro, a educação saiu dos trilhos. Formamos para tudo, menos para humanização e até poderiam me dizer que a escola não tem esta função, mas se não a tem, o que tem? Qual a função da educação em nossas vidas? Ensinar conteúdos? Ora, pois, não sejamos ingênuos, ninguém precisa ensinar o que não seja uma dúvida natural, uma real necessidade do que não entendemos, porque nossa necessidade de aprender é biológica, se faz de dentro para fora.
Penso que Robert Lindner sabia o que dizia em 1956: “As nossas escolas transformaram-se em fábricas enormes para a produção de robôs. Nós já não mandamos os nossos filhos para a escola para serem ensinados e para que lhes sejam dadas ferramentas para pensar; nem sequer para serem informados ou adquirirem conhecimentos, mas para serem "socializados" - o que, na semântica actual significa serem submetidos ao sistema e forçados a se conformar”.

terça-feira, 14 de julho de 2009

A (DES) Motivação Empresarial e Pessoal






Sabemos que toda motivação é particular, intrínseca e momentânea. Todavia, se for estruturada na movimentação de tornar pensamentos em planos e esses tornarem-se sonhos realizados e renovados, teremos um contínuo processo “motivacional”.
A maior falha ou a não percepção das empresas (pessoas), hoje e penso que sempre, quando entendem que sua equipa precisa de motivação, está na aplicação de recursos relâmpagos. É comprovado que isto é como uma droga para qualquer indivíduo, pois à medida que tem a falta de algo, injeta a dose que, aparentemente, vai suprir tal necessidade. E, após um período determinado o efeito é duplamente ao contrário. Ou seja, o que seria algo a melhorar voltaria de forma muito maior e pior.
Não podemos separar o sujeito que trabalha em uma empresa, do sujeito que tem uma vida fora dela, da mesma forma que não podemos considerar o aluno que está dentro da sala de aula e deixar de lado o seu contexto de vida para o aprendizado.
Imagino algo assim: somos uma grande empresa. O mundo é uma macro empresa. Todos trabalham em suas áreas. Aqueles que não trabalham no que gostam, aprendem a gostar no que trabalham e nesta movimentação toda, cada um trabalha por todos e por si. O “todos” seriam as coisas que precisamos fazer e o grupo no qual fazemos parte para atingir nosso objetivo. E, o que nos motiva, de verdade, não é o que precisamos fazer e nem onde trabalhamos, mas o resultado do feito, ou seja, o nosso objectivo pessoal. Logo, se temos perda ela está localizada, exactamente, na falta de continuidade do caminho percorrido. Muitos diriam que esta estratégia pessoal, de somente atingir o objectivo, está correcta, uma vez que se atinge o objetivo pessoal. Entretanto, estamos falando de um todo, de um grande grupo e que a motivação requer, principalmente, vontade e continuidade. Se para uma empresa é preciso sempre ter pessoas motivadas, logo precisam manter as ferramentas que auxiliam para esta motivação, da mesma forma na vida pessoal, se para me manter motivado preciso sempre de objectivos é claro que preciso sempre estar em renovação com meus planos e sonhos.
E, o processo dar-se desta forma, este ciclo que se encerra e recomeça a cada instante. O segredo está em saber manter a motivação entre o que precisamos fazer e o feito, porque somente assim, teremos o equilíbrio permanente em nossas realizações e do grupo, ao qual pertencemos.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

A MOTIVAÇÃO DE ROBERT HAPPÉ


Ontem conversava, rapidamente, com um aluno, confesso que um tanto especial. Foi ele quem puxou pelo assunto e começamos a conversar. Então, falou-me de Robert Happé, como já tinha lido algumas coisas sobre ele e dele, e também visto o vídeo, conseguimos trocar uma ideia sobre a motivação de Happé.
Happé defende a ideia que o mundo ficou louco, que passamos dos dogmas religiosos para os dogmas económicos e que a humanidade aceita porque não tem para quem reclamar, afinal o sistema criador é majoritário e coloca-nos em um posicionamento de aceitação. E a pergunta que Happé não deixa quieta é a seguinte: Como quero viver a minha vida?
Quando revi o vídeo respondi, rapidamente: quero viver, exactamente, como estou vivendo. Logo, outro questionamento apareceu-me: mas, assim? Bem verdade, algumas coisas nos faltam, sempre faltarão. Parece um “movimento de estagnação”, contraditório na concepção da palavra, todavia tão real na prática.
Deixamos de sorrir quando alguma coisa não nos acontece, esquecemos de estimular o correto se o incorrecto impera. A loucura entre viver e ganhar dinheiro fez com que o amor fosse completamente esquecido. E, a credibilidade no que de maior temos, em nós mesmo, parece ter vivido há seculos. Só que, também, esquecemos que somos capazes! Então, neste jogo de esquecimento, entre o que deixamos de ser e o que podemos ser, tornamo-nos inertes. Preferimos aceitar a mudar.
A onda “estimulativa” que Happé defende está no conceito do que queremos para nós e como conseguimos conduzir tudo isso. O processo dá-se de dentro para fora, no sorriso ondulante, no que acreditamos, na integração com o oposto, no crer em nós e na confiança que ao ser estabelecida torna-se criação.
Interessante como Happé faz-me pensar em muitas coisas, principalmente na educação.
Conheci uma menina que tinha problemas sérios com a matemática, (não é para menos, confesso) e chegou a um ponto que não conseguia mais avançar e lá ficou no final do ano, enquanto todos seus colegas passaram de ano. Entretanto, no ano novo houve troca de professores, logo ela tinha colegas novos e professores novos, inclusive de matemática, um novo ciclo escolar iniciava. O problema permanecia, juntava aqui, além da atenção, algumas desconfianças sobre a idade mental da aluna e alguns especialistas começaram a observa-la. Sem nada constatar, a metade do ano chegava e a nova professora tomou uma atitude inesperada diante da turma. Passou à aluna o cargo de supervisora nas aulas de matemática. Naquela época convidava-se os melhores alunos e eles auxiliavam as professoras em sala de aula; quando os colegas precisavam de alguma explicação e a professora estava ocupada, o supervisor dirigia-se até o colega para auxilia-lo. O espanto foi de imediato, principalmente pela aluna que não havia passado no ano anterior. Então, combinaram as oficinas em horários diferentes para que a menina conseguisse aprender e ajudar aos colegas. Agora, além de ter de aprender, tinha também a responsabilidade do cargo confiado. Com muito trabalho o tempo foi passando, e o que a menina não sabia, ainda, a professora atendia e não deixava que os demais percebessem que ela não estava pronta para ensinar. Todos os dias se reuniam, professora e supervisora para, em uma oficina gratuita, repassar o conteúdo do dia e rever algumas dúvidas. Claro, tornaram-se amigas e a medida que a confiança, o amor, a determinação entre o aprender e o ensinar laçavam aprendizagens para sempre, ela conseguiu passar de ano, resgatou o respeito pessoal e sabendo o conteúdo virou motivação.
Alguns poderiam afirmar que não possuem tempo para o individual, para o atendimento pessoal de cada aluno, talvez esteja aí o segredo, não somente na educação, mas na vida toda.
Happé está certo, quando somos estipulados a fazer as coisas certas e quando temos alguém com um sorriso elevado, não deixando que o sistema atropele, eis a diferença. E, o mais impressionante nisso tudo, é a corrente estabelecida no bem, capaz de transformar tudo que nos rodeia.
Assistam ao vídeo, está disponibilizado aqui no blog.Vale a pena !

terça-feira, 7 de julho de 2009

CURSOS DE FÉRIAS



Com o término do ano lectivo europeu, a Illustramus coloca à disposição suas oficinas de férias que estão divididas da seguinte forma:

Curso de Oratória;
Curso de Marketing Pessoal e Empresarial;
Curso de Vendas;
Curso Gramatical para estrangeiros;
Projecto Livro Aberto para Imigrantes;
Projecto Livro Aberto ( leitura dinâmica);
Projecto Livro Aberto ( solidariedade e leitura);
Literatura infantil;
Interpretação de textos e Redação;
Preparação para Exames Nacionais (Literatura e Gramática);
Orientação Vocacional e Profissional (com testes aplicados).


Maiores informações: illustramus@gmail.com

domingo, 5 de julho de 2009

ORIGAMIS E LITERATURA



Fui convidada a participar de uma oficina de Origami e lá estive no dia de ontem. Impressionante como este desenvolvimento de raciocínio traz à tona toda percepção que o indivíduo necessita, suas capacidades e a vontade de vencer seus limites. Essa arte de dobrar (Ori) papel (Kami) vem sendo praticada desde muito tempo. Com a pratica desta arte são trabalhados o potencial pleno de cada sujeito, enfatizando a paciência, a observação, a persistência, a meticulosidade, a concentração e atenção, a autoconfiança, o esforço pessoal, a coordenação motora fina, e principalmente, a criatividade.
Entre uma dobradura e outra, fiquei a pensar como esta prática deve ser incentivada dentro das salas de aulas, independente da matéria em questão.
Antigamente, fazíamos maquetes, lembro que meus alunos fizeram Os Sertões, de Euclides da Cunha, para narrar a saga de Antonio Conselheiro na Guerra de Canudos, em 1897 e outros fizeram jogos para o computador. Se fosse hoje teríamos feito via Origamis. Imaginei Don Quixote sendo ilustrado por Origamis, primeiro o resumo da obra, depois a análise de cada grupo, que genial seria esta ligação entre as artes. Outra situação que pensei seria a visitação em hospitais, asilos e montar, via Origami, desenvolvendo na prática, nada de levar pronto, o cenário respectivo a idade desses senhores e fazer com que eles também aprendam a sentir o papel e trazer da imaginação a construção real do que pensaram sobre as suas épocas.
Claro, um pensamento lança-nos para outro, podemos fazer um cardume com todos membros da família dos peixes e os pequenos precisam ter característica do pai ou da mãe. Infinitamente, podemos trabalhar com os Origamis.
A medida que o tempo ia passando e as dobraduras aumentando minha mente ia se complicando, não pelas dobraduras, mas justamente pela desconstrução física e mental que praticava. A minha frente estava uma senhora e tentávamos fazer uma caixinha com divisória, e a medida que trocávamos ideias sobre as dobras, ficava olhando para ela e imaginando, deveria ter entre 75 e 80 anos, como seria bom se os programas para a terceira idade incluíssem oficinas de Origamis para os idosos. E, confesso, a memória dela muito melhor que a minha, deve ser a pratica do Origami !
Para área de exactas nem preciso comentar uma vez que tudo se dá pelo raciocínio lógico.
Num pensamento maior, imaginei tudo em Origami, inclusive uma biblioteca para os pequenos, afinal tanto papel neste mundo, tantas pessoas, tantos desenhos, tantas letras, tantas crianças nas ruas, tantos idosos abandonados...

terça-feira, 30 de junho de 2009

FIM DO ANO LECTIVO

Com o término do ano lectivo europeu, a Illustramus coloca à disposição suas oficinas de férias que estão divididas da seguinte forma:

  • Curso de Oratória;
  • Curso de Marketing Pessoal e Empresarial;
  • Curso de Vendas;
  • Curso Gramatical para estrangeiros;
  • Projecto Livro Aberto para Imigrantes;
  • Projecto Livro Aberto ( leitura dinâmica);
  • Projecto Livro Aberto ( solidariedade e leitura);
  • Literatura infantil;
  • Interpretação de textos e Redação;
  • Preparação para Exames Nacionais (Literatura e Gramática);
  • Orientação Vocacional e Profissional (com testes aplicados).

Maiores informações: illustramus@gmail.com

segunda-feira, 29 de junho de 2009

AVALIAÇÃO




A avaliação está fundada nos parâmetros primeiros da educação, nos quais se apóiam para avaliar o que o aluno aprendeu em seu tempo de sala de aula, em contradição, sabe-se que nem a avaliação como vem acontecendo mede o aprendizado do aluno, muito menos serve como diagnóstico para um novo encaminhamento do processo. É de certa forma, uma mentira mascarada atrás de uma determinada lei que precisa ter “algo” registrado como forma de ensinamento.
Ora, bem sabemos que cada aluno é único e logo vivencia a aula conforme seu humor, seu estado diário e tudo que lhe ligue ao mundo que o interessa. No mais, quem nos garante que o educador conseguiu transmitir o conhecimento previsto? Neste caso, tal situação, de avaliar o aluno, torna-se fácil e até covarde, pois colocam várias questões que não fazem parte do dia-a-dia da criança, selecionadas por alguém titulado professor e que, muitas vezes, somente ele compreende e sabe as respostas, quando não toma isso como própria propaganda de ser um detentor do saber, um saber que os alunos nunca alcançarão, por enquanto é bem verdade, porque a medida que vão crescendo, saberão de tudo.
Aluno meu não “roda”! Lembro que dizia isto em sala de aula e alguns colegas questionavam este dizer. Todavia, era bem verdade, porque a minha função, enquanto educadora, era esta. Não de passar o meu aluno para o próximo ano, mas de encaminhá-lo de certa forma que ele conseguisse assimilar o conteúdo e seguir. Logo, se tinha certeza deste encaminhamento, ele não “rodaria”.
Avaliar o aluno está no seu acompanhamento diário, dentro da sala de aula, o contexto de vida deve ser considerado porque não podemos dividir o indivíduo em dois: um na vida e outro na vida escolar, no cotidiano e, principalmente, na própria avaliação do professor para consigo em mensurar sua capacidade de ensinar.
As provas poderiam variar de acordo com os objetivos do professor e principalmente que colocassem o conteúdo em forma de desafio para o aluno, um desafio instigador na busca por novos saberes e não como um simples acerto de contas. As provas poderiam também ser com consultas ou com auxílio dos colegas de classe. Afinal, somos conhecedores da facilidade que uns vão adquirindo a mais que outros no processo, por que não se aproveitar disso para o benefício de todos? E tudo deve partir da conscientização da importância do saber e não do terrorismo em alguns dias, nos quais são aplicadas três ou quatro provas para que se faça cumprir um calendário montado em cima dos conteúdos e não em se pautando em que nossos alunos necessitam. O “clima” que causamos em nossas crianças, adolescentes e quase adultos é tão igual àquele que nos lembra uma fila imensa no abatedouro e que lá no final somente passará aquele de rendimento tal, que alcance a referida média.
Fico a pensar para que tudo isto? O que tem a educação a ver com isto? De certa forma, em algum momento o questionamento da relevância do saber do outro se defronta com a concorrência e não com o “partilhamento” deste saber.
E, se o aluno “colar” cem por cento, mesmo sobre os olhos atentos dos “viagiadores” de plantão, e com isso alcançar sua média? Valeu-nos todo nosso ensinamento? Aquele aluno sairá da escola sabendo realmente alguma coisa? Pois bem, aqui, quem ditará o ensinamento é o resultado da prova e não do ensinamento do professor em sala de aula. Impressionante como os valores dentro da educação mudaram ao longo do tempo e para ser mais direta, como nunca foram alcançados.
Creio, neste caso que, se quisermos viver mascarando o ensino, é assim que devemos agir, caso contrário, passamos para a verdadeira conscientização da educação e para nossa também verdadeira função como educadores. Avaliar deve ser uma parte do processo educacional e não uma barreira intransponível e sem sentido para o aluno.
Acredito que poderíamos rever o método de avaliar nossos alunos, porque, por mais que o mundo ande contra o relógio, não podemos entrar nessa corrente, na qual somente é classificado como inteligente aquele que apresenta boas notas em provas. Nossos alunos são muito mais que notas e seus saberes serão demonstrados conforme os ensinamentos disponibilizados a eles.
Bem sei que falar do problema é simples, entretanto segue uma sugestão para que tenhamos provas em forma de trabalhos, avaliação dos trabalhos em grupos, seminários, apresentação teatrais e sem um momento específico para total avaliação, o que resultaria numa posterior avaliação global, do conjunto de atividades e contemplando diferentes habilidades dos alunos. Vários são os métodos avaliativos que podemos criar e com os profissionais capacitados que possuímos, é bem provável que conseguiremos. Vale ressaltar, que o método de avaliação hoje existente é antigo e com raízes culturais que ainda persistem no tempo. Entretanto, podemos começar com alguns aplicativos imediatos que não demonstrem uma mudança radical, mas que sejam de suma importância para o aluno, que é o nosso real interesse.
Isso não é utópico, algumas escolas já aplicam métodos alternativos de avaliação, com a Escola da Ponte, em Portugal e algumas escolas em Porto Alegre, Brasília, São Paulo e Belo Horizonte, e quiçá possamos ser referências em nossa cidade.