segunda-feira, 29 de março de 2010

PLA - Projeto Livro Aberto
Em Portugal

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O Projecto Livro Aberto (PLA) foi criado e desenvolvido a partir do ano 2000, fundamentado na idéia de que mudar o mundo, por meio da leitura, poderá começar mesmo com um pequeno número de participantes. E esses participantes poderão ser incentivados a começarem no seu próprio contexto físico, social e /ou educativo, numa projeção futura para o mundo, esperando-se alguns efeitos em cadeia, quer para o próprio, quer para aqueles que, de alguma forma com ele convivem. Afinal, contar histórias, descrever seres, sons e ambientes, expressar emoções e expor idéias e opiniões são necessidades comuns a todos nós. Por isso, o homem criou a linguagem, a representação do pensamento por meio de sinais, permitindo a comunicação.

Entre muitas das práticas, o Projecto Livro Aberto promove o desenvolvimento global do educando de uma forma lúdica livre, sem deixar de respeitar suas potencialidades, tendo como objetivo principal proporcionar ao educando a capacitação que permita sua participação, enquanto cidadão, nas diversas atividades exigidas pela vida moderna, ou seja, prepará-lo para o exercício da cidadania consciente e democrática, bem como o desenvolvimento da sua construção lingüística. Vale ressaltar que a forma lúdica de ensinar vem ao encontro da liberdade nata que o aluno tem em aprender e que corresponde não a um espaço único de aprendizagem, mas que faz de todos os espaços um encontro entre a pessoa que aprende ( e se desenvolve) e aquilo que pode ser aprendido.

A ideia de uma escola que estimula e desenvolve o prazer da leitura é uma ideia viável, oportuna e bastante exeqüível que nasceu da constatação, como professora, de quanto a formação escolar vem, ao longo dos anos, negligenciando a formação de leitores.

Esta ideia já foi aplicada no Brasil, conforme poderá/deverá ser testado em novos horizontes.

Em Portugal, nossos investidores principais são as Câmaras Municipais interessadas em implantarem o Projeto para as suas escolas, além das oficinas particulares que disponibilizamos para públicos distintos.


**Ilustração de Contes de ma Mère l'Oye por Gustave Doré

segunda-feira, 22 de março de 2010

O Prazer do Texto
Roland Barthes


“(…) Se leio com prazer esta frase, esta história ou esta palavra, é porque foram escritas no prazer (este prazer não está em contradição com as queixas do escritor). Mas e o contrário? Escrever no prazer me assegura – a mim, escritor – o prazer de meu leitor? De modo algum.
Esse leitor, é mister que eu o procure (que eu o “drague”), sem saber onde ele está. Um espaço de fruição fica então criado.
Não é a “pessoa” do outro que me é necessária, é o espaço: a possibilidade de uma dialética do desejo, de uma imprevisão do desfrute: que os dados não estejam lançados, que haja um jogo.
(…)
Se aceito julgar um texto segundo o prazer, não posso ser levado a dizer: este é bom, aquele é mau. Não há quadro de honra, não há crítica, pois esta implica sempre um objetivo tático, um uso social e muitas vezes uma cobertura imaginária.
Não posso dosar, imaginar que o texto seja perfectível, que está pronto a entrar num jogo de predicados normativos: é demasiado isto, não é bastante aquilo; o texto (o mesmo sucede com a voz que canta) só pode me arrancar este juízo, de modo algum adjetivo: é isso!
E mais ainda: é isso para mim!
(…)”.

*BARTHES, Roland. Le Plaisir du Texte, Éditions du Seil, 1973.
**Ilustração Dom Quixote; Candido Portinari.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Hábitos de Ler: parceiros fundamentais

O domínio da linguagem oral está ligado directamente à quantidade de recursos verbais que se possui, e uma das melhores formas de adquirir esses recursos é por meio da leitura, quanto maior for nosso vocabulário, mais fácil será nosso domínio linguístico.
Tudo aquilo que lemos fica guardado em nossa memória, diferente dos outros meios de informação como a televisão e o rádio que desfilam em nosso subconsciente. A percentagem de armazenamento dos vocábulos, por meio da leitura, está em oitenta vezes a mais do que em outros casos.
A leitura proporciona-nos a expansão do imaginário, do intelecto e, consequentemente, dos recursos para persuadir, via palavra. Logo, não podemos pensar em persuadir caso não sejamos bons leitores. E ser bom leitor depende de você, por mais que não goste, comece aos poucos. Procure ler aquilo que lhe agrada, seja do género científico, romântico, poético, policial ou de terror.
Enfim, o género não diz respeito, o que importa é que você comece a ler para criar o hábito. Uma vez com este hábito aperfeiçoado, procure ampliar seu género textual, chegará a um patamar em que ler passará a ser fundamental e, a partir daí, tudo será fácil.
Não esqueça: Cada palavra lida é oitenta por cento absorvida e essa dimensão alcançada, em cada palavra, vai fazer você mais confiante, pois agora tem como aliado um parceiro fundamental: o domínio linguístico por meio da leitura.
O hábito e a interpretação de textos, como livros, notícias, propagandas, panfletos, histórias em quadrinhos, mapas históricos e geográficos, possibilitam ao aluno obter informações do mundo e suas dimensões linguísticas e assim desenvolver a sua competência de leitor e escritor. Entretanto, para isso é preciso que o aluno compare e compreenda, não somente aquilo que o texto possibilita, mas também os recursos expressivos utilizados pelo autor e as várias interpretações que o texto proporciona, bem como a organização dos diferentes tipos de textos.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Hábitos da leitura - Criar

O hábito da leitura deve ser começado pelo prazer de ler. Todo leitor deve estar envolvido pelo texto que lê. Logo, comece a desenvolver o hábito da leitura pelas leituras que lhe agrade. Sem tempo determinado, reserve um período do seu dia para a prática da leitura. Perceba que estamos em fase inicial de formação e ler textos densos, complexos, momentaneamente, não faz sentido, a menos que esta leitura LHE AGUCE A CURIOSIDADE;

  • O companheiro de viagem: Faça do livro um companheiro de viagem. Tenha-o sempre em sua companhia durante o dia. Vários são os momentos livres e que você pode aproveitar para dar continuidade à sua leitura;

  • Sábado de Leitura: Faça do seu hábito diário um hábito semanal. Para além do tempo escolhido durante a semana (aquele que você lê sempre que sobra um tempo), eleja um dia dessa semana, sábado pela manhã, por exemplo, para praticar a sua leitura mais demoradamente. Vá a um café, encontre-se com amigos para discutirem o que estão lendo ou mesmo em casa dedique um período maior para a sua leitura. Não esqueça: Ler tem de ser prazeroso!;

  • Alternativas de Leituras: Se é daqueles que não conseguem sair da frente do computador, procure exercitar com os inúmeros e-books disponíveis gratuitamente nos sites de leituras e bibliotecas on line. Para, além disso, pode também criar um repositório de suas leituras e comentários sobre o que leu e convidar seus amigos a participarem e que façam o mesmo. O círculo do livro deve ser criado em qualquer ambiente;

  • Aperfeiçoe a sua leitura: À medida que vai lendo, seja no tempo que for ou no espaço que for, comece a fazer a interrelação com aquilo que lê e aquilo que vive; tente entender, à sua maneira; o que está co-relacionado com a história para entender em que período os fatos acontecem. Mas, não esqueça a leitura tem de ser prazerosa, ao mesmo tempo, que precisamos contextualizar para fazer sentido. Depois que já está mais familiarizado com a obra, procure ler alguns comentários a respeito e repare o que o outro percebeu. Por enquanto, apenas isso. Não esqueça, ainda estamos em fase inicial de formação;

  • Livrarias e Atendimento:
    Estamos falando de leitura, formação de leitores e prazer pelo que se lê. Logo, nada mais justo que ir a uma livraria que tenha essas disponibilidades. Ela precisa ter bons livros (aqueles que você gosta de ler), atendentes bem informados, educados e qualificados, da mesma forma que precisamos ter um ambiente acolhedor, com sofás, almofadas, cafés, boa distribuição e catalogação e porque não dizer uma música ambiente que torne o local um lugar calmo e aconchegante.
    Cuide do seu livro: Em outra dica, coloquei vários pontos para que você cuide bem do seu livro. O livro, como em qualquer relacionamento, requer cuidados especiais, por isso trate o seu livro como se fosse o seu melhor amigo. Não esqueça ele é o seu companheiro diários;

  • Olhos e Leitura: Bem, considerando que você não utiliza o alfabeto Braille, a sua ferramenta de leitura são os seus olhos. Cuide bem deles, seja para leituras impressas ou em tela do computador. Ao sinal de cansaço, coceiras, ardência, para além de descansar da leitura, procure um bom oftalmologista e faça o seu teste ótico para ver se você precisa usar óculos ou mesmo aumentar o grau que já possui. Uma grande porcentagem de leitores deixa ou abandona as leituras devido a não percepção deste fato;

  • Leitura e Prazer: Não esqueça que na vida tudo que fazemos com prazer tem resultados relevantes para o nosso desenvolvimento, afinal tudo que fazemos por prazer cria uma predisposição de dar certo. Na leitura isso não se dá de forma diferente, não leia por obrigação. Todavia, digamos que você tem de ler um texto que não lhe agrade muito, que está fora do seu contexto e da sua vontade. Bem sabemos que vai ler, mas também sabemos que não vai ser uma leitura prazerosa e marcante. Agora, se você tiver desenvolvido o hábito da leitura aos poucos, se tiver criado este hábito via os textos que lhe agradam, perceba que ficará mais fácil, que assimilar o conteúdo proposto passa a ser algo alcançável e porque não dizer torna-o conhecedor em outras áreas. Depois, à medida que você vai lendo, passa a compreender as diversas formas de escritas, os inúmeros contextos e pensares. Com o tempo você perceberá que esta intertextualização passa a lhe abrir novos horizontes, dando-lhe fontes para raciocínios e conseqüentemente, diálogos mais abertos, perceptíveis ao seu crescimento;

  • Leia sempre!

segunda-feira, 1 de março de 2010

TICs Na Educação e Na Formação de Leitores

TICs na Educação e na Formação de Leitores
Entre o Côncavo e o Convexo

A fusão das palavras tecnologia e pedagogia parece-nos formar uma boa dupla diante do mundo globalizado, ou quiçá, formam tal dupla pelo mundo globalizado. As tecnologias aplicadas nas escolas podem ser uma boa ferramenta de estímulos dentro do aprendizado, bem como um atrativo para os aprendizes, uma vez que o aluno do século XXI passa doze horas do seu dia ligado ao computador e muitas dessas horas conectado.
Segundo estudos realizados*,
“surge na Escola a necessidade de uma nova alfabetização – uma alfabetização informática – que possa desenvolver em todos os alunos competências para a nova forma de comunicar e trabalhar, fundamentais tanto para o prosseguimento de estudos como para uma inserção na vida activa profissional”.
Todavia, paradoxalmente a esta idéia inovadora de formação, temos atualmente um quadro assustador que diz respeito à falta de preparo do corpo docente, da mesma forma que à distribuição informatizada nas escolas e nos lares são escassas. Se pretende-se, como diz a pesquisa, que se forme uma nova competência e habilidade diante da necessidade globalizada do aprender/ensinar, faz-se necessário, também, uma distribuição ampla dessas tecnologias e para além disso o preparo dos profissionais que irão lidar com esta nova tendência.
Em um momento de reflexão, esquecendo-se as diversas críticas associadas aos métodos tecnológicos educacionais e suas responsabilidades docentes, também é necessário que se aponte os aspectos positivos para as facilidades inegáveis, ocasionadas por estas ferramentas tecnológicas.
Como podemos presenciar o acervo literário, seja ele disponibilizado em nível acadêmico ou mesmo dentro das obras literárias postado em diversos níveis, desde bibliotecas digitais, repositórios acadêmicos, blogs informais, acabam por proporcionar ao usuário das tecnologias uma forma de ter acesso, muitas vezes gratuita, a todo acervo disponibilizado. Diante desta disponibilização, podemos agregar a idéia que temos leitores ativos nas diversas áreas e nos diversos níveis.
Para a pesquisadora Maria da Glória Bordini**,
“As reais condições materiais para uma aspirada articulação da obra com o sistema literário e cultural dependem da mobilização de tantas variáveis que só os recursos da informática permitem a construção de um cenário em que texto e extratexto se conjuguem. Quando se busca estudar a literatura brasileira incluindo seus autores, seus textos e seu público, bem como a indústria cultural, as instituições que legitimam o objeto literário e a historicidade de todos esses fatores, a reprodução digital de documentos, os bancos de dados, as bibliotecas virtuais, os tratamentos da imagem, o hipertexto, enfim, as facilidades trazidas pelas novas tecnologias manifestam sua plena potencialidade relacional.”
A velocidade temporal ocasionada pelo percurso do leitor ativo dentro das tecnologias é outro fator a ser considerado. Muitos alunos, pesquisadores, escritores e leitores encontram-se nesse espaço comum, ao mesmo tempo e com uma forte tendência a fixarem-se nesta cronologia. Porque se por um lado temos as negativas que cercam esta tendência, por outro lado temos este aspecto cômodo de estarmos em diversos níveis e lugares ao mesmo tempo. Tudo parece-nos fazer parte da globalização.
Analisando por este ângulo, tudo parece-nos correr bem. As tecnologias são uma tendência inegável. Sobretudo, a idéia de liberdade ocasionada pelas tecnologias retratam um reforçamento ao conhecimento, as pesquisas que acabam por escravizar o tempo, o convívio, da mesma forma que nos dão outro tipo de aproximação.
Entre o côncavo e o convexo, na tentativa de ampliar o acesso ao livro e incentivar a formação de leitores, a Internet é reconhecida e validada como "aliada". Vale lembrar que nada vai trocar o prazer de ter o livro, de sentir o livro, de levá-lo como companheiro de viagem de uma forma concreta. Da mesma forma que não devemos e não podemos cair na armadilha de opor a Internet ao livro. Mas, inegavelmente, a Internet leva o jovem ao universo da leitura e da escrita. Vale ressaltar que a leitura e a escrita que estamos a falar não estão em questão, até porque bem sabemos que as palavras são medidas não pelas suas formas, entretanto pelo seu peso. Logo, a parte gramatical escrita e associada para este entendimento já concentra-se na interpretação e codificação da “Internetês”.
O estímulo a leitura de qualidade é importante, todavia é fundamental que se crie o hábito da leitura, via formação de leitores e nada mais justo que se alie a esta formação aquilo que o jovem destaca como ser importante para o seu mundo.
A forma vista, ainda marginalizada, pelo acesso ao livro via Internet, tem causado muitas polêmicas, entre elas as financeiras editoriais, que ainda tentam publicar seus livros de uma forma paga. Talvez, esta nova tecnologia não coloque no lugar certo os diversos anos que os leitores deixaram de ler por não terem acesso aos livros devido aos seus custos. E nessa luta entre ser leitor e ter o livro, muitas oportunidades se abrem e vão moldando os padrões de leituras, via as tecnologias.
É notório que a formação de leitores não está vinculada ao uso da Internet e nunca se desejou tal projeto, como bem afirma Maria Lajolo***,
“(…) apesar de ser algo bem discutido atualmente e ter validação, a formação dos leitores não é função da internet. Sendo necessário investir em educação, o que requer professores bem formados e bem remunerados”.

*http://nautilus.fis.uc.pt/cec/teses/marta/marta/PDF/TIC%20e%20a%20Escola.pdf
**http://www.textodigital.ufsc.br/ ***http://www.faced.ufba.br/rascunho_digital/textos/434.htm