segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Uma Velha Atitude Para Um Novo Ano
Paz e Feliz 2010 !


À procura de um amigo



*Foi então que apareceu a raposa.

- Olá, bom dia! - disse a raposa.
- Olá, bom dia! - respondeu delicadamente o principezinho que se voltou mas não viu ninguém.
- Estou aqui - disse a voz - debaixo da macieira.
- Quem és tu? - perguntou o principezinho. - És bem bonita...
- Sou uma raposa - disse a raposa.
(...)
- Anda brincar comigo - pediu-lhe o principezinho.
- Estou triste...- Não posso ir brincar contigo - disse a raposa. - Não estou presa...
(...)
- O que é que "estar preso" quer dizer - disse o principezinho?
- É a única coisa que toda a gente se esqueceu - disse a raposa. - Quer dizer que se está ligado a alguém, que se criaram laços com alguém.
- Laços?
- Sim, laços - disse a raposa. - Ora vê: por enquanto, para mim, tu não és senão um rapazinho perfeitamente igual a outros cem mil rapazinhos. E eu não preciso de ti. E tu também não precisas de mim. Por enquanto, para ti, eu não sou senão uma raposa igual a outras cem mil raposas. Mas, se tu me prenderes a ti, passamos a precisar um do outro. Passas a ser único no mundo para mim. E, para ti, eu também passo a ser única no mundo...
(...)
- Mas a raposa voltou a insistir na sua ideia:
- Tenho uma vida terrivelmente monótona. Eu, caço galinhas e os homens, caçam-me a mim. As galinhas são todas iguais umas às outras e os homens são todos iguais uns aos outros. Por isso, às vezes, aborreço-me um bocado. Mas, se tu me prenderes a ti, a minha vida fica cheia de sol. Fico a conhecer uns passos diferentes de todos os outros passos. Os outros passos fazem-me fugir para debaixo da terra. Os teus hão-de chamar-me para fora da toca, como uma música. E depois, olha! Estás a ver, ali adiante, aqueles campos de trigo? Eu não como pão e, por isso, o trigo não me serve de nada. Os campos de trigo não me fazem lembrar de nada. E é uma triste coisa! Mas os teus cabelos são da cor do ouro. Então, quando eu estiver presa a ti, vai ser maravilhoso! Como o trigo é dourado, há-de fazer-me lembrar de ti. E hei-de gostar do barulho do vento a bater no trigo...A raposa calou-se e ficou a olhar durante muito tempo para o principezinho.
- Por favor...Prende-me a ti! - acabou finalmente por dizer.
(...)
- E o que é que é preciso fazer? - perguntou o principezinho.
- É preciso ter muita paciência. Primeiro, sentas-te um bocadinho afastado de mim, assim, em cima da relva. Eu olho para ti pelo canto do olho e tu não me dizes nada. A linguagem é uma fonte de mal entendidos. Mas todos os dias te podes sentar um bocadinho mais perto...

O principezinho voltou no dia seguinte.
(...)

Foi assim que o principezinho prendeu a raposa. E quando chegou a hora da despedida:
- Ai! - exclamou a raposa - ai que me vou pôr a chorar...
- A culpa é tua - disse o principezinho.
- Eu bem não queria que te acontecesse mal nenhum, mas tu quiseste que eu te prendesse a mim...
- Pois quis - disse a raposa.
- Mas agora vais-te pôr a chorar! - disse o principezinho.
- Pois vou - disse a raposa.
- Então não ganhaste nada com isso!
- Ai isso é que ganhei! - disse a raposa. Por causa da cor do trigo...
(...)
E então voltou para o pé da raposa e disse:
- Adeus...
- Adeus - disse a raposa. Vou-te contar o tal segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos...
- O essencial é invisível para os olhos - repetiu o principezinho, para nunca mais se esquecer.
- Foi o tempo que tu perdeste com a tua rosa que tornou a tua rosa tão importante.
- Foi o tempo que eu perdi com aminha rosa... - repetiu o principezinho, para nunca mais se esquecer.
- Os homens já se esqueceram desta verdade - disse a raposa. Mas tu não te deves esquecer dela. És responsável por aquilo que cativas para todo o sempre por aquilo que está preso a ti. Tu és responsável pela tua rosa...
(...)

*(O Principezinho -( Antoine de Saint-Exupéry) Versão em Portugal
(O Pequeno Príncipe - (Antoine de Saint-Exupéry) Versão em português
FELIZ ANO NOVO, COM PAZ E BEM !
Gislaine Becker

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Então é Natal e Ano Novo também...





EDUCAÇÃO
Podemos fazer a diferença...

A professora Rosa conta que no seu primeiro dia de aula parou em frente aos seus alunos da 5ª série primária e, como todos os demais professores, lhes disse que gostava de todos por igual. No entanto, ela sabia que isto era quase impossível, já que na primeira fila estava sentado um garoto chamado João Luiz.
Ela, aos poucos, notava que ele não se dava bem com os colegas de classe e muitas vezes suas roupas estavam sujas e cheiravam mal.
Houve até momentos em que ela sentia um certo prazer em lhe dar notas vermelhas ao corrigir suas provas e trabalhos.
Ao iniciar o ano letivo, era solicitado a cada professor que lesse com atenção a ficha escolar dos alunos, para tomar conhecimento das anotações.
Ela deixou a ficha de João Luiz por último, claro! Mas quando a leu teve uma grande a sua surpresa...
Ficha do 1º ano:
“João Luiz é um menino brilhante e simpático. Seus trabalhos sempre estão em ordem e muito nítidos. Tem bons modos e é muito agradável estar perto dele.”

Ficha do 2º ano:
“João Luiz é um aluno excelente e muito querido por seus colegas, mas tem estado preocupado com sua mãe que está com uma doença grave e está desenganada pelos médicos. A vida em seu lar deve estar sendo muito difícil.”

Ficha do 3º ano:
“A morte de sua mãe foi um golpe muito duro para João Luiz. Ele procura fazer o melhor, mas seu pai não tem nenhum interesse e logo sua vida será prejudicada se ninguém tomar providências para ajudá-lo.”

Ficha do 4º ano:
“João Luiz anda muito distraído e não mostra interesse algum pelos estudos. Tem poucos amigos e muitas vezes dorme na sala de aula.”

Ela se deu conta do problema e ficou terrivelmente envergonhada...
E ficou pior quando se lembrou dos lindos presentes de Natal que ela recebera dos alunos, com papéis coloridos, exceto o de João Luiz, que estava enrolado num papel de supermercado. Lembrou que abriu o pacote com tristeza, enquanto os outros garotos riam ao ver que era uma pulseira faltando algumas pedras e um vidro de perfume pela metade. Apesar das piadas ela disse que o presente era precioso e pôs a pulseira no braço e um pouco de perfume sobre a mão. Naquela ocasião João Luiz ficou um pouco mais de tempo na escola do que o de costume.
Relembrou, ainda, que ele lhe disse:
- A senhora está cheirosa como minha mãe!
E, naquele dia, depois que todos se foram, a professora chorou por longo tempo...
Em seguida, decidiu mudar sua maneira de ensinar e passou a dar mais atenção aos seus alunos, especialmente a João Luiz.
Com o passar do tempo ela notou que o garoto só melhorava.
E quanto mais ela lhe dava carinho e atenção, mais ele se animava e aprendia.
Ao finalizar o ano letivo, João Luiz saiu como o melhor da classe.
Sete anos depois, recebeu uma carta de João Luiz contando que havia concluído o segundo grau e que ela continuava sendo a melhor professora que tivera.
As notícias se repetiram até que um dia ela recebeu uma carta assinada pelo Dr. João Luiz de Almeida, seu antigo aluno, mais conhecido como João Luiz.
Mas a história não terminou aqui...
Tempos depois recebeu o convite de casamento e a notificação do falecimento do pai de João Luiz.
Ela aceitou o convite e no dia do casamento estava usando a pulseira que ganhou de João Luiz anos antes, e também o perfume.
Quando os dois se encontraram, abraçaram-se por longo tempo e João Luiz lhe disse ao ouvido:“Obrigado por acreditar em mim e me fazer sentir importante, demonstrando-me que posso fazer a diferença.”
E com os olhos banhados em lágrimas sussurrou: “Engano seu! Depois que o conheci aprendi a lecionar e a ouvir os apelos silenciosos que ecoam na alma do educando.
Mais do que avaliar as provas e dar notas, o importante é ensinar com amor mostrando que sempre é possível fazer a diferença.
Afinal, o que realmente faz a diferença?
É o fazer acontecer a solidariedade, a compreensão, a ajuda mútua e o amor entre as pessoas...
O resto vem por acréscimo...
É este o segredo do Evangelho.
Tudo depende da Pedagogia do Amor.
“Ensina a criança o caminho que deve andar e, ainda, quando for velho, não se desviará dele”.

“Nisto todos saberão que sois meus discípulos: Se vos amardes uns aos outros como eu vos amei” (Jo 13, 34-35).



Um Feliz Natal e Um Ano Novo cheio de Paz e Bem!
Gislaine Becker

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

A Literatura, O Vestibular e os Exames Nacionais


Tanto no Brasil como em Portugal, os alunos prestam exames para o ingresso em Universidades. No Brasil, além de muitos alunos concorrerem para diversas instituições de ensino ao mesmo tempo, o processo pelo qual eles são submetidos para ingressar numa faculdade chama-se vestibular, que é nada mais que um momento específico no qual ele vão, via provas em todas disciplinas, mostrar o conhecimento adquirido, principalmente nos últimos anos escolares. Diga-se de passagem, um sistema falho, de um momento que não garante e muito menos mostra o conhecimento de cada aluno, porque bem sabemos que o momento de prova é um momento relativo e nessa relatividade estão intrínsecos muitos fatores.
Em Portugal, apesar desse processo ter outro nome, Exames Nacionais, o processo é praticamente o mesmo e com um agravante: o aluno vai prestar exames diante de uma escolha feita no 9º ano, ou seja, se a vontade dele em ser matemático foi escolhida, vai cursar todo secundário direcionado para essa escolha. Caso queira mudar é mais complicado ainda. Logo, passa-se a ter uma ressalva à metodologia da aplicação das provas que trabalha com a escolha profissional do aluno. E, em Portugal organiza-se num sistema binário: o ensino universitário e o ensino politécnico.
Mas o que a Literatura tem a ver com isso? Tratando-se de um conteúdo que faz parte desse processo de seleção, tudo.
Independente da forma organizacional das provas para o ingresso à faculdade, imagino que, no caso da literatura, há uma (des) aprendizagem ao longo de toda escolaridade do aluno e uma amostra disso é justamente porque as obras que “caem” nesses exames são somente estudadas no último ano do Ensino Médio ou do Secundário como é chamado aqui em Portugal, ou no máximo passam a fazer parte do cotidiano escolar a partir do penúltimo ano desse grau escolar. E quando analisamos as questões das provas do vestibular ou mesmo dos Exames Nacionais, ficamos mais surpreendidos quando nos deparamos com perguntas completamente robotizadas, as quais percebemos que quem leu o livro ou pegou um bom resumo da internet consegue responder.
Não quero entrar na questão da (des) aprendizagem escolar literária porque isso levaria folhas e folhas a fio.Tudo isso é somente para dizer que Literatura é muito mais que isso. Que enquanto tivermos professores ensinando linearmente, cronológicamente a literatura, nunca teremos alunos vivenciando a literatura, contextualizando essa disciplina a tal ponto dela ser um cotidiano na vida do aluno.
Hoje, há uma onda mundial em formar leitores, outro processo desvinculado à literatura, como se tivéssemos dois momentos específicos: um de formar leitor e outro de ler. Parece confuso, entretanto todo processo atual dá-se, justamente, pelo desligamento da literatura ao longo do percurso escolar.
A Literatura, para aqueles professores que esqueceram e para os que não sabem, é formadora do homem e atua de forma significativa na vida do indivíduo. Diante do papel humanizador da literatura todo processo se dá a partir do momento em que nosso aluno consegue fazer do ensinamento da literatura uma aprendizagem ao longo da vida.
Todo processo de se ensinar Literatura para que os alunos passem no vestibular, ou nos Exames Nacionais é furado, é mentiroso porque nada tem a ver com a essência literária de criação e somente mascara um grande sistema falho que busca apenas uma questão: A entrada do aluno na Universidade.
Quero terminar esse breve artigo com as palavra de António Cândido para que alguns se lembrem o que o mestre disse.
“A literatura pode formar; mas não segundo a pedagogia oficial. [...]. Longe de ser um apêndice da instrução moral e cívica, [...], ela age com o impacto indiscriminado da própria vida e educa como ela [...]”.(CANDIDO, 1972).

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Reforma Ortográfica - Algumas Coisas Não Resolvidas

Sempre importante percebemos que a Língua Portuguesa possui suas variações, e tais variações vão depender do coloquial falado em cada região.
Por mais que a reforma ortográfica tenha como intenção romper as fronteiras geográficas e linguísticas, mantendo os falantes da mesma língua mais próximos, sempre haverá diferença linguística entre os falantes.
Vale a pena observarmos o texto a seguir para percebermos que, nesse caso, a reforma ortográfica assinada pela CPLP (Comunidades dos Países da Língua Portuguesa) não consegue fazer tal aproximação.


  • Homens de camisola e calcinhas?



Depois de dez minutos e uma grande bicha na paragem, subimos no autocarro e tivemos uma péssima surpresa: ele estava lotado por uma claque! Foi desagradável viajar ao lado daqueles homens barulhentos, todos vestidos com camisolas iguais, então perdemos a paciência e descemos antes da hora. Andamos um troço a pé e logo chegamos à praia.
Foi um sábado bué fixe, mesmo eu tendo-me esquecido do fato de banho... fiquei um pouco envergonhado porque tive de nadar de calcinhas! Mais tarde comemos umas sandes de fiambre, compramos umas imperiais e sumo para o puto, e também uns rebuçados e pastilhas elásticas.
No dia seguinte estava um briol, deixamos o pequeno no hotel lendo uma banda desenhada e fomos a uma casa de pasto muito gira, mas cheia de betos. À noite, pegamos o comboio de volta para casa. Com o preço das portagens, não vale a pena viajar de automóvel!
Percebeste?

Tradução
“Em brasileiro”, como dizem os portugueses, a história fica assim:

Depois de dez minutos e uma longa fila no ponto, subimos no ônibus e tivemos uma péssima surpresa: ele estava lotado por uma torcida organizada! Foi desagradável viajar ao lado daqueles homens barulhentos, todos vestidos com camisetas iguais, então perdemos a paciência e descemos antes da hora. Andamos um trecho a pé e logo chegamos à praia.
Foi um sábado muito legal, mesmo eu tendo esquecido o calção... fiquei um pouco envergonhado porque tive de nadar de cueca! Mais tarde comemos uns sanduíches de presunto, compramos uns chopes e suco para o menino, e também umas balas e chicletes.
No dia seguinte estava muito frio, deixamos o pequeno no hotel lendo uma história em quadrinhos e fomos a um restaurante muito chique, mas cheio de mauricinhos. À noite, pegamos o trem de volta para casa. Com o preço dos pedágios, não vale a pena viajar de automóvel!
Entendeu?