segunda-feira, 24 de maio de 2010

Literatura em Pauta

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Realizado pela PUC do Rio Grande do Sul, o II Congresso Internacional de Leitura e Literatura Infantil e Juvenil e o I Fórum Latino- Americano de Pesquisadores de Leitura aconteceram na cidade de Porto Alegre, nos dias 12, 13 e 14 de maio.
Com objetivos voltados para a ampliação da rede de pesquisadores em leitura, o II Congresso criou um espaço dialéctico para tratar das estratégias de promoção de leituras e formação de leitores, bem como ensejou a troca de experiências pelos profissionais que atuam em diversos contextos educacionais e sociais na promoção da leitura, do livro e da literatura. Diversos foram os simpósios apresentados que partiram desde a leitura e a alfabetização até às leituras tecnológicas.
Com presenças marcantes, entre elas a de Francisco Gregório Filho, contador de histórias, Patrícia Correa, da Colômbia, Emmanuel Fraisse, da Universidade de Sorbonne, Affonso Romano, poeta e escritor, esse encontro mostrou as diversas práticas desenvolvidas em todo o contexto latino americano em prol da formação de leitores e seus resultados. Uma atitude louvável de/para cidadania.
A formação de leitores é uma estratégia de inserção do sujeito ao mundo, do conhecimento. Assim como a onda da alfabetização espalhou-se pelos maiores e melhores pontos educacionais de acesso. Maiores e melhores porque ainda temos analfabetos e, consequentemente, não leitores, da mesma forma que temos alfabetizados que também não são leitores. Logo, inúmeros ainda são os sujeitos desse mundo que precisam ser formados, tanto com a antiga alfabetização ou com a nova alfabetização.
Quando tentamos fazer uma ligação entre a intencionalidade da alfabetização e da formação de leitores, percebemos que ambas intenções emergem de um sistema político/educacional que precisa estimular no presente o que deixou de atender no passado.
Das diversas propostas apresentadas ao estímulo à formação de leitores, muitas caracterizadas pelo contato do sujeito com o livro e muitos pela primeira vez, percebe-se um estímulo que atende a um certo programa articulado para formação desses leitores. Todavia, a maioria dos programas não visa estimular o sujeito a partir dele mesmo. Ou seja, um programa que leve em consideração aquilo que o indivíduo já tem como formação da leitura, leitura de si e dos demais.
Partindo da idéia que estamos trabalhando com indivíduos já alfabetizados, precisamos considerar que todos já são leitores. Leitores do seu tempo, do seu espaço, do seu contexto e, principalmente, leitores daquilo que os interessa. Simplificando mais a idéia, todo material para a formação de leitores deveria partir das “mãos dos alunos”, daquilo que eles escolheram para fazer parte do seu dia a dia. Afinal, não podemos esquecer, entre muitos detalhes, que o sujeito que queremos formar como leitor já lê, e considerar aquilo que ele utiliza como leitura diária é fundamental.
Agora, é certo que esta metodologia foge aos programas elaborados, da mesma forma que dá mais trabalho e, acima de tudo, requer profissionais qualificados para fazer a ligação entre o que já é lido com aquilo que se intenciona que o aluno leia, uma leitura intencional que consideramos valida para formação do sujeito.
Outro fator que deve ser levado em consideração e que para nós é primordial é o material preparado, selecionado, recomendado e aprovado, considerado bom para formação de leitores e que faz parte das listas dos programas de leituras pelo mundo a fora. Não se questiona com isso a obra em si, ou talvez se leve em consideração fatores como valores da ética e da moral, os quais a sociedade atual está mergulhada. Entretanto, precisamos ficar atentos se aquilo que se recomenda é, realmente, aquilo que se quer ler, porque se a formação da leitura não passar pela vontade do leitor, pela curiosidade dele, de nada vai adiantar e cada dia mais teremos de criar métodos de leituras para formar pessoas que já lêem, mas que suas leituras não são consideradas. Para além disso, seguir aos programas recomendados, com obras indicadas, dá-nos a idéia de termos, novamente, um método tradicional só que desta vez paralelo a escola. Paralelismo que acaba por se confundir com a própria escola, não considerando seus alunos como seres participativos. Alguns diriam para essa observação que muitos são os fatores que formam e influenciam o sujeito, mas que o nobre educador Paulo Freire nunca leia isso, pois ele bem fez surgir da miséria completa, de fome e de dignidade, quarenta e cinco alfabetizados leitores. Alunos pioneiros de um projeto que ensinava a ler no chão batido de Pernambuco e que traziam para essa “escola”, a céu aberto, as suas experiências de vida como material didático.
Por fim ou para um começo nobre dentro da formação de leitores, não podemos esquecer que estamos formando leitores e formar leitor é um processo inicial e como todo processo inicial precisa começar a partir de um espaço alcançável, “entendível” e que aguce a curiosidade. Ninguém forma leitor com obras consagradas ou indicadas que estão fora do entendimento do sujeito ou mesmo esquecendo que o aluno já é um leitor.
Precisamos considerar e respeitar o espaço que nosso aluno gosta de estar, o mundo dele. Ou entramos nesse mundo e a partir daí o “formamos” contextualizando nosso aluno com tudo que já o faz sujeito ou estamos fadados a inventar modelos, dentro ou fora da escola, que nunca terão bons resultados. Ou será que é essa a verdadeira intenção dentro da alfabetização e da formação de leitores?

**© 1998 The Munch Museum / Munch-Ellingsen Group / Artists Rights Society (ARS), New York./Bridgeman Art