quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

O Ano Novo de Drummond (1930)


Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.


Carlos Drummond de Andrade; Alguma Poesia; 1930.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

O Professor e a Literatura


"E continuou dizendo: "Ditosa idade e século ditoso, aquele em que hão de sair à luz as minhas famigeradas façanhas dignas de gravar-se em bronze, esculpir-se em mármores, e pintar-se em painéis para lembrança de todas as idades! Ó tu, sábio encantador, quem quer que sejas, a quem há de tocar ser o cronista desta história, peço-te que te não esqueças do meu bom Rocinante, meu eterno companheiro em todos os caminhos e carreiras"
(Dom Quixote de La Mancha).



Analisando o papel do professor de literatura, em outros tempos tínhamos a idéia de que deveria ser o professor a fornecer indicações de livros, assim como ensinar o percurso da literatura feito pelos escritores ao longo dos tempos. É uma forma de aprendizagem, bem verdade, mas não é a única e nem deve ser mais a única, porque o uso de tais práticas tem distanciado o aluno das obras literárias e se é uma (des) construção de aprendizagem não combina com E- DUCAÇÃO, porque e-ducação é antes de tudo formar o homem no todo, considerando seu passado, presente e o seu futuro. Afinal, a idéia de ter à frente um professor que repassa conteúdos, com objetivos específicos, atendendo à demanda mercantilista, é um ato consciente, no mínimo, devastador para a formação do aluno enquanto leitor e na sua formação de SER humano.

A utópica idéia de mudar o mundo, por meio da leitura, não pode ser concretizada se não começar por um número pequeno de participantes, entretanto, seletos, pois estão em formação humana dentro do ciclo da vida. E esse número reduzido de participantes deverá ser incentivado a começar no seu espaço físico alcançável, numa projeção futura para o mundo e, no mínimo com resultados para seu mundo, que conseqüentemente agirá sobre os demais. E assim, sucessivamente, a engrenagem de mudança começar a andar. Uma ação comunitária benéfica para todos.

A literatura é uma arte e como toda arte nasce da ação criativa de imaginar, inserir e retratar o ser humano, da mesma forma que coexiste na aprendizagem para adquirirmos cultura, conhecimento da nossa e das demais sociedades, sejam elas atuais ou passadas e para nos conhecermos a nós próprios, mas acima de tudo ela é uma arte bem como lembra-nos Umberto Eco quando diz:
“As obras literárias convidam-nos à liberdade de interpretação porque nos propõem um discurso a partir dos inúmeros planos de leitura e nos colocam perante as ambigüidades da linguagem e da vida de uma forma única e mágica”. (ECO, 2003:9-23).

Uma opção que nos parece plausível e justa, aplica-se a partir da prioridade que devemos ter sobre todo esse entendimento de mudanças que as sociedades atravessaram e entendermos que diante de nós está um aluno do século XXI e não dos séculos passados, o qual se utiliza de uma linguagem totalmente diferenciada dos textos que precisam estudar. E para, além disso, são leitores de tempo algum, a não ser do que lhes interessa.

Nosso olhar não é ingênuo e é claro que o papel do professor para além de ser um formador de opiniões, é o de mediador, atuando como um “filtro” para escolha do material a ser trabalhado. Logo, vai estar inserido em seu, digamos, “filtro” o nosso próprio contexto histórico-social-cultural que tem sua nascente, desde muito recente e resumidamente, em sua formação acadêmica.

Esta fusão de ambos contextos, de professor e aluno, deve ter como prioridade não excluir o que nosso aluno gosta de ler diariamente, mas selecionar este material e a partir dele aplicar métodos para se chegar às obras literárias.

Não queremos dizer com isto que o nosso aluno não deva conhecer a literatura e seus autores, bem pelo contrário, é por sentirmos esta necessidade que queremos deixar claro que a inserção da obra marginal é justamente a Literacia que entendemos para formar leitores proficientes para leituras das obras consideradas literárias e que esta leitura seja explorada e transformada em uma ação real para suas vidas.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Algumas....dicas? Você quem sabe :)

Ilustração Collin Thompson

Com a chegada do ano lectivo, alguns livros são considerados importantes, apesar de entendermos que a importância passa a ter um real significado dependendo de quem a observa. Da mesma forma que sabemos que tal significado está muito ligado ao contexto de quem lê e das diversas vivências que cada um tem de si e do mundo.

Entretanto, gostamos de algumas leituras e pensamos que seria importante dividí-las, apesar de percebermos que tais leituras possam ter um significado diferente para si. Todavia, é nessa troca de significados e de importâncias que crescemos e adquirimos o real conhecimento.

Nossas leituras :)

  • Coleção Harry Potter – J. K. Rowling;
  • A saga Crepúsculo (Incluindo Lua nova, Eclipse e Amanhecer) – Stephenie Meyer
  • Gossip Girl – Cecily von Ziegesar
  • Coração de Tinta – Cornelia Funke
  • Querido Diário Otário – Jim Benton
  • O Diário da Princesa – Meg Cabot
  • A Série Eragon (Incluindo Eldest e Brisingr ) – Cristopher Paolini
  • O Ladrão de Raios – Rick Riordan
  • O Pequene Príncipe - Antoine de Saint-Exupéry
  • Contos de Beedle, o Bardo – J. K. Rowling

Alguns olhares literários para 2010 da Turma PLA:


  • Marley vai para escola - Jonh Grogan;
  • Casos de Direito Galáctico - Mário- Henrique Leiria;

  • Marina - Carlos Ruiz Zafon;

  • As Raparigas que sonhavam ursos - Marco Lanagan;

  • Os Olhos Amarelos dos Crocodilos - Katherine Pancol;

  • Hans - O Cavalo Inteligente - Miguel Rocha;

  • O Castelo de Gormenghast - Marvyn Peake;
  • As Gêmeas no Colégio de Santa Clara - Enid Blyton;

  • Perseguida - Kristin Cast e P.C. Cast;

  • Star Island - Carl Hiaasen;

  • Duna - Frank Herbert;


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terça-feira, 31 de agosto de 2010

Novo Ano Letivo Começando
Qual é mesmo o Sentido da Vida?

Michelangelo Buonarroti, 1511, Capela Sistina.

Mais um ano letivo começa a dar seus primeiros passos e sempre que me pego a pensar sobre “quem” sou e o que farei para que este ano seja melhor do que o ano passado, deparo-me com outro questionamento: “Como” sou?

Para falar a verdade, nem me interesso em saber quem sou e muito menos para onde vou, isto para mim é fato consumado. Entretanto, penso que o que faz a diferença é a ação de como sou. Penso que é nesta questão que gravita toda a existência humana. Se meus alunos me perguntassem, hoje, quem eles são ou o que serão, dira que poderiam ser qualquer coisa, desde que a diferença estive pautada de como eles são ou serão, independente de quem são.

E, uma coisa leva-nos à outra porque é por meio de “como” sou que determino quem sou, mas os valores perderam o rumo e o homem passou a dar uma importância muito maior em “ter” do que “ser”. E nesse jogo acabou por escolher as piores cartas e o que é mais insano ainda, não tem tempo para refletir a respeito e talvez não tenha tempo, justamente, pelas cartas escolhidas.


Lembrando de Robert Happé, aliás, nunca mais vou esquecer-me de Happé que faz uma análise cronológica das dependências humanas desde que o homem existe e de como somos micro e mesquinhos diante da idéia do macro.

Tudo que escrevo não está fundamentado em nada ou está em tudo, se considerarmos que todo, até então, dito está alicerçado em minhas existências. E a questão de quem eu sou torna-se nada se eu não perceber que ela somente vai fazer sentido a partir do outro, da minha ação (e posso escolher que ação tomar, mas nunca esquecendo que toda ação gera uma reação) comunitária.


Todavia, falar, pensar, imaginar, filosofar e escrever é fácil. O “ser peripatético” de Sócrates era válido, é bem verdade, porque jogava o homem a refletir sobre suas ações, entretanto é na prática que as mudanças acontecem. É quando desligo este computador (ou não, porque hoje muitos relacionamentos aqui estão) e me encontro com o outro, é a partir daí que justifico minha estada neste mundo, mas isto tem de acontecer de verdade.

Se levarmos em conta que nada somos individualmente e imaginarmos que estamos todos soltos em um vasto universo, presos em um geóide enorme (sem sustentabilidade atual ou futura), penso que teríamos mais consideração a tudo que nos rodeia, da mesma forma que estamos todos no mesmo barco e que nossas ações é que permitirão a liberdade verdadeira e não essa liberdade efêmera, a qual o homem busca.

Não adianta buscar existências em outras terras ou tentar imaginar que podemos habitar outros planetas. Nossa existência aqui é única e atualmente (ou sempre) estamos de passagem e nunca nos veremos outras vezes, fisicamente falando.

Então, caso eu acredite em tudo isto que estou a escrever, o que faz a diferença realmente? A diferença está na ação do encontro com o outro.

Praticando este acreditar, enquanto professora (porque exercemos vários papéis, até os que não são nossos e ainda, muitas vezes, queremos exercer o do outro) penso que minha prática de mudança dar-se-á a partir do momento que considero meu aluno como um todo, aliás um “único todo” e que deve ser respeitado como tal. Meu papel não é nem encaminhá-lo, mas sim tentar perceber quem está sentado a minha frente e a partir desta percepção, de como ele é ou está, tentar encaminhá-lo. Claro que minha percepção depende muito de quem sou e meu “quem sou” é o resultado de “como sou”.

Se todos empresários considerassem seus operários para além dos portões de suas fábricas e todos os professores levassem em conta que seus alunos são muito mais que alunos, poderíamos imaginar que logo ali, na frente, eles entenderiam que não foram enganados e que as ações eram em benefício de todos. Uma troca sem cobrança; a existência misteriosa, mas que habita somente no outro.

Leonardo Boff fala-nos que o mistério está no outro e não em nós, é no outro que habita o maior desafio porque este entendimento obriga-nos a sair de nós mesmos e a partir do momento que o outro se concretiza a nossa frente nasce à ética, justamente porque o outro nos exige uma atitude prática. O outro significa uma proposta de vida que pede uma res-posta com res-ponsa-bilidade. E pensar de forma contrária é, no mínimo, pretensioso.

Tudo isso podemos traduzir e
m um sentimento que conhecemos pela palavra AMOR. Amor de compreensão, amor de encaminhamento, amor de vida, amor que torna o outro muito mais importante do que ele pensa ser, amor que transforma sem romper limites, amor que ama de verdade sem dar e nem receber, somente existe naturalmente e é a única forma existencial eterna.
É tão simples, somos todos irmãos, todavia, ainda, não percebemos.


Lembrei-me agora de um menino que nasceu há 2010 anos e que dizia assim:
“Amai o próximo como a ti mesmo”.

Se analisarmos um pouco a questão dos escritos, dos Evangelhos canônicos (não quero defender religião alguma, até porque não tenho uma), a grandeza da criação, dá-se a partir da revelação do outro.

Acredito fielmente que se nossas ações não forem individualmente benéficas a todos, de nada vai ter valido a pena, mesmo que nossa alma não seja pequena.

Por fim, o homem busca respostas a questionamentos complexos, mas tudo está em um ato muito simples: Amar o outro. Enquanto pensam, esquecem de praticar.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Simplesmente Genet
Às Margens da Loucura Criadora
Literamente Marginal


“A sociedade, tal como vocês a constituem, eu a odeio. Eu sempre a odiei e vomitei. (...) Desde que encontrei na literatura um exutório, meu ódio tomou uma outra forma, menos pessoal: ele não se traduz mais num impulso interior mais ou menos acidental, ele se deduz de uma filosofia aclarada pela experiência. De um rancor nasce uma idéia. E essa idéia torna-se, à medida que avanço dentro de minha obra, mais serena e mais indestrutível. Eu o sei, eu o testemunho: a ordem social não se mantém senão ao preço de uma infernal maldição que aflige os seres, dentre os quais os mais vis, os mais nulos estão próximos de mim – quer isso agrade a vocês ou não – que qualquer burguês virtuoso e assegurado. Para sempre eu me fiz intérprete dos dejetos humanos, dos resíduos que apodrecem nas prisões, debaixo das pontes, no fundo da fétida podridão das cidades”. ( Genet, 1919- 1986)



O Funâmbulo


Jean Genet


"Uma lantejoula de ouro é um disco minúsculo feito de metal dourado, trespassado por um orifício. Tão fina e tão leve que pode flutuar sobre a água. Às vezes, uma ou duas ficam agarradas nos cachos de cabelos de um acrobata.
Este amor – mas, quase desesperado; mas, carregado de ternura – que deves demonstrar ao teu arame, terá a mesma força desse fio de ferro que suportará o teu peso. Conheço os objetos: sua crueldade, sua perversidade e também sua gratidão. O arame estava morto – mudo, cego, como quiseres – ei-lo: agora ele vai viver e vai falar.
Tu o amarás, e de um amor quase carnal. Cada manhã, antes de começar teus treinos, quando ele estiver tenso e vibrante, vai dar-lhe um beijo. Pede que te suporte e te conceda a elegância e um jarrete ágil. Ao fim de cada sessão, reverencia-o, agradece-lhe. E quando, à noite, ele ainda estiver enrolado, guardado em sua caixa, vai vê-lo e o acaricia. E, então, coloca docemente tua face contra a dele.
Certos domadores usam de violência. Podes tentar domar teu arame. Mas, não te fies nisso. O arame, como a pantera e, segundo se diz, como o povo, gosta de sangue. Assim, é melhor tentar domesticá-lo.
Um ferreiro – só um ferreiro de bigodes grisalhos e largas espáduas pode se permitir tais delicadezas – saudava assim, a cada manhã, sua amada, sua bigorna:
- Oh! Minha bela!
De noite, o dia já findo, sua mão calejada a acariciava. A bigorna não parecia insensível àquele gesto e o ferreiro se surpreendia comovido.
Incumbe ao arame executar a mais bela expressão possível; não a tua, mas a dele. Teus pulos, teus saltos, tuas danças – na gíria dos acrobatas, teus volteios, saltos mortais, estrelinhas etc – serão executados não para que brilhes, mas para que o arame, que jazia morto e sem voz, possa, enfim, cantar. E, assim, ele te será grato: se fores perfeito em tuas atitudes, não em busca de tua glória, mas da dele.
Que o público, maravilhado, o aplauda:
_Que arame maravilhoso! Como ele suporta tão bem seu bailarino e como ele o ama!
Ao chegar a tua vez o arame será para ti o mais maravilhoso bailarino.
E, então, será o chão que te fará tropeçar!"

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

O Escritor Que Sabia Demais

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Orwell tinha uma frase muito sábia que dizia assim: “existem coisas em que só os intelectuais são loucos em acreditar”.

As leituras de férias são sempre compostas por aqueles títulos que deixamos para depois. Leituras igualmente importantes das realizadas fora do período de férias, mas que podem esperar um tempo para serem lidas.
Pois bem, em uma dessas leituras importantes, mas que podia esperar, deparei-me com um artigo muito interessante (com vários), mas esse, especialmente, tratava de uma entrevista ao escritor João Lobo Antunes, irmão do escritor Nuno Lobo Antunes e do escritor António Lobo Antunes, uma família de médicos e escritores. Aliás, interessante desse tríptico formado de nomes e de profissões.

Voltando ao artigo da revista LER - Livros & Leitores, publicada em julho/agosto de 2010, na seqüência da entrevista, na página 20, bem no alto da página havia duas perguntas assim ao escritor:

P1- Queria ainda perceber melhor o que é que espera da Crítica Literária?;
R- O que espero, mas se calhar isto não é legítimo, é uma capacidade de selecção, uma capacidade pedagógica, de me ensinar. Quero alguém cujo magistério me possa ser útil. Que me diga assim: “ Leia isto que vale a pena ler:” Alguém em que eu tenha suficiente confiança para dizer: “ Com certeza, vou seguir o conselho, vou ler.” (João Lobo Antunes)

P2- Para isso é preciso estabelecer um elo de confiança com esse leitor que escreve sobre o que leu
R- Pois é. Há muita crítica literária- e, uma vez mais, digo isto com a maior das humildades- que consiste basicamente em extrair do livro largos excertos da prosa do autor. Mas, como disse, se calhar o problema é meu.(João Lobo Antunes)

Bem, imagino que há uma enorme confusão, tanto no questionamento, como na resposta às duas perguntas. Caso o autor pretenda ter uma dica de leitura por um especialista, neste caso o crítico literário, imagino que ele esteja mencionando a prática pedagógica dentro de uma universidade ou mesmo fora dela, mas efetuada por um especialista e mesmo assim não há garantia de uma boa leitura. Afinal, quem nos garante a certeza na análise do crítico? Como analisa? De que ponto de vista parte e com que autonomia refere-se “àquilo” que não escreveu?

O crítico literário, bem lembrado na concepção do professor Binho, quando lê, aprende a ler com filtros teóricos. Tem a perda de algo que nunca teve de verdade: a leitura inocente, a relação do puro prazer com a literatura. Não tem nenhum ato de linguagem inocente, toda sua leitura é crítica. Falar, escrever, ler e interpretar são ações que acontecem à luz da ideologia que nos constitui, até mesmo quando pregamos a não-ideologia. Esse, às vezes, esquece disso e reflete um vazio de sentido naquilo que rabisca. Escreve para manter a pose intelectual sintonizado com o próprio tempo. Experimenta uma inteligência artificial que periga apagar para sempre sua sensibilidade. Fica, muitas vezes, confuso e impotente com tantas teorias da interpretação. Tece para uma academia que declarou o fim da leitura livre e instaurou o discurso da crítica acadêmica mecanicamente especializada.

Por fim, caso estivéssemos a falar em uma classificação literária, entre a boa e a ruim, para além de questionarmos a condiçao do crítico literário, questiono também a marginalidade da literatura, ou seja, obras hoje consagradas que em outros tempos eram consideradas à margem (Poe, Fante, Jean Genet, Bukowski, Blake, Samuel Beckett, Jack Kerouac, Burroughs, Camões, Junqueira, António Patrício, Gregório de Mattos e Guerra, Chico Buarque, Cora Coralina, Carolina De Jesus, Cruz e Sousa, entre tantos outros ) e muitas, inclusive, proibidas de publicação. E, com isso, o círculo se fecha na intencionalidade dessa classificação.

A prática pedagógica, mencionada pelo escritor, está fora de questão, o que vale mesmo a pena é ( e para todos os casos, se nossa alma não for pequena) nosso aluno ter tempo para poder selecionar uma boa leitura, ou melhor, aquela que ele considera uma boa leitura e a partir daí ter um crescimento literário que possa agregar as demais leituras indicadas.

*______________ Ilustração de Irene Sheri, Ucrânia/1968.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Saramago e o Atos de Ler e Escrever


"Escrever é traduzir, mesmo quando estivermos a utilizar a nossa própria língua.
Transportamos o que vemos e o que sentimos para um código convencional de signos, a escrita e deixamos às circunstâncias e aos acasos da comunicação a responsabilidade de fazer chegar à inteligência do leitor, não tanto a integridade da experiência que nos propusemos transmitir, mas um sombra ao menos, do que no fundo do nosso espírito sabemos bem ser intraduzível, por exemplo, o deslumbramento de uma descoberta, esse instante fugas de silêncio anterior à palavra que vai ficar na memória como o rasto de um sonho que o tempo não apagará por completo". José Saramago.


Quiçá, "às circunstâncias e aos acasos da comunicação" possam ser entendidos como aqueles momentos únicos, vividos em sala de aula, nos quais o professor é o caminho, não atravessador, mas verdadeiramente educador.
Da mesma forma que podem ser entendidos pela oportunidade perdida de não conseguir chegar "à inteligência do leitor".
O estímulo à leitura precisa partir do entendimento que todos são leitores e estimular nem sempre significa aumentar a leitura, mas sim considerar as leituras que nosso aluno já utiliza e a partir delas encorajar que se crie um campo de leitura maior.
Imaginamos que nesse caminho, como dizia o próprio Saramago, não chegaremos a essência entendida da escrita que se quer transmitir, mas um novo campo se cria, um novo espaço dialético se forma e faz coexistir ambas linguagens, sonhos, imaginação, intenção de autor e leitor.

sábado, 26 de junho de 2010

Um Nobre Saramago*____
A Literatura Agradece!


Engraçado como a memória de algumas pessoas entra em colapso e se perde no próprio esquecimento quando alguém morre. Se for alguém famoso então, parece que da noite para o dia tudo muda de figura, inclusive até a própria figura que de tanto desfigurada com os dizeres temporais é relembrada.
Quantas palavras jogadas fora, quanto tempo perdido diria aquele menino de Azinhaga, tímido e de um coração que somente poucos tiveram o privilégio de conhecer.
Imagino que Saramago tenha vivido o que poucos homens viveram nessa vida. Uma vida feita de dizeres que se queria dizer, dizeres soltos no tempo que com o tempo foram, vagarosamente, percebidos. E um grande amor.
Pilar, pilares de uma lembrança de menino.
A saudade deixada por Saramago é para além dos escritos e fica bem dita em suas próprias palavras.


“O homem mais sábio que conheci em toda a minha vida não sabia ler nem escrever. Às quatro da madrugada, quando a promessa de um novo dia ainda vinha em terras de França, levantava-se da enxerga e saía para o campo, levando ao pasto a meia dúzia de porcas de cuja fertilidade se alimentavam ele e a mulher. Viviam desta escassez os meus avós maternos, da pequena criação de porcos que, depois do desmame, eram vendidos aos vizinhos da aldeia. Azinhaga de seu nome, na província do Ribatejo. Chamavam-se Jerónimo Melrinho e Josefa Caixinha esses avós, e eram analfabetos um e outro. No Inverno, quando o frio da noite apertava ao ponto de a água dos cântaros gelar dentro da casa, iam buscar às pocilgas os bácoros mais débeis e levavam-nos para a sua cama. Debaixo das mantas grosseiras, o calor dos humanos livrava os animaizinhos do enregelamento e salvava-os de uma morte certa. Ainda que fossem gente de bom carácter, não era por primores de alma compassiva que os dois velhos assim procediam: o que os preocupava, sem sentimentalismos nem retóricas, era proteger o seu ganha-pão, com a naturalidade de quem, para manter a vida, não aprendeu a pensar mais do que o indispensável. Ajudei muitas vezes este meu avô Jerónimo nas suas andanças de pastor, cavei muitas vezes a terra do quintal anexo à casa e cortei lenha para o lume, muitas vezes, dando voltas e voltas à grande roda de ferro que accionava a bomba, fiz subir a água do poço comunitário e a transportei ao ombro, muitas vezes, às escondidas dos guardas das searas, fui com a minha avó, também pela madrugada, munidos de ancinho, panal e corda, a recolher nos restolhos a palha solta que depois haveria de servir para a cama do gado. E algumas vezes, em noites quentes de Verão, depois da ceia, meu avô me disse: "José, hoje vamos dormir os dois debaixo da figueira". Havia outras duas figueiras, mas aquela, certamente por ser a maior, por ser a mais antiga, por ser a de sempre, era, para toda as pessoas da casa, a figueira. Mais ou menos por antonomásia, palavra erudita que só muitos anos depois viria a conhecer e a saber o que significava... No meio da paz nocturna, entre os ramos altos da árvore, uma estrela aparecia-me, e depois, lentamente, escondia-se por trás de uma folha, e, olhando eu noutra direcção, tal como um rio correndo em silêncio pelo céu côncavo, surgia a claridade opalescente da Via Láctea, o Caminho de Santiago, como ainda lhe chamávamos na aldeia. Enquanto o sono não chegava, a noite povoava-se com as histórias e os casos que o meu avô ia contando: lendas, aparições, assombros, episódios singulares, mortes antigas, zaragatas de pau e pedra, palavras de antepassados, um incansável rumor de memórias que me mantinha desperto, ao mesmo tempo que suavemente me acalentava. Nunca pude saber se ele se calava quando se apercebia de que eu tinha adormecido, ou se continuava a falar para não deixar em meio a resposta à pergunta que invariavelmente lhe fazia nas pausas mais demoradas que ele calculadamente metia no relato: "E depois?". Talvez repetisse as histórias para si próprio, quer fosse para não as esquecer, quer fosse para as enriquecer com peripécias novas. Naquela idade minha e naquele tempo de nós todos, nem será preciso dizer que eu imaginava que o meu avô Jerónimo era senhor de toda a ciência do mundo. Quando, à primeira luz da manhã, o canto dos pássaros me despertava, ele já não estava ali, tinha saído para o campo com os seus animais, deixando-me a dormir. Então levantava-me, dobrava a manta e, descalço (na aldeia andei sempre descalço até aos 14 anos), ainda com palhas agarradas ao cabelo, passava da parte cultivada do quintal para a outra onde se encontravam as pocilgas, ao lado da casa. Minha avó, já a pé antes do meu avô, punha-me na frente uma grande tigela de café com pedaços de pão e perguntava-me se tinha dormido bem. Se eu lhe contava algum mau sonho nascido das histórias do avô, ela sempre me tranquilizava: "Não faças caso, em sonhos não há firmeza". Pensava então que a minha avó, embora fosse também uma mulher muito sábia, não alcançava as alturas do meu avô, esse que, deitado debaixo da figueira, tendo ao lado o neto José, era capaz de pôr o universo em movimento apenas com duas palavras. Foi só muitos anos depois, quando o meu avô já se tinha ido deste mundo e eu era um homem feito, que vim a compreender que a avó, afinal, também acreditava em sonhos. Outra coisa não poderia significar que, estando ela sentada, uma noite, à porta da sua pobre casa, onde então vivia sozinha, a olhar as estrelas maiores e menores por cima da sua cabeça, tivesse dito estas palavras: "O mundo é tão bonito, e eu tenho tanta pena de morrer". Não disse medo de morrer, disse pena de morrer, como se a vida de pesado e contínuo trabalho que tinha sido a sua estivesse, naquele momento quase final, a receber a graça de uma suprema e derradeira despedida, a consolação da beleza revelada. Estava sentada à porta de uma casa como não creio que tenha havido alguma outra no mundo porque nela viveu gente capaz de dormir com porcos como se fossem os seus próprias filhos, gente que tinha pena de ir-se da vida só porque o mundo era bonito, gente, e este foi o meu avô Jerónimo, pastor e contador de histórias, que, ao pressentir que a morte o vinha buscar, foi despedir-se das árvores do seu quintal, uma por uma, abraçando-se a elas e chorando porque sabia que não as tornaria a ver.
Muitos anos depois, escrevendo pela primeira vez sobre este meu avô Jerónimo e esta minha avó Josefa (faltou-me dizer que ela tinha sido, não dizer de quantos a conheceram quando rapariga, de uma formosura invulgar), tive consciência de que estava a transformar as pessoas comuns que eles haviam sido em personagens literárias e que essa era, provavelmente, a maneira de não os esquecer, desenhando e tornando a desenhar os seus rostos com o lápis sempre cambiante da recordação, colorindo e iluminando a monotonia de um quotidiano baço e sem horizontes, como quem vai recriando, por cima do instável mapa da memória, a irrealidade sobrenatural do país em que decidiu passar a viver. A mesma atitude de espírito que, depois de haver evocado a fascinante e enigmática figura de um certo bisavô berbere, me levaria a descrever mais ou menos nestes termos um velho retrato (hoje já com quase oitenta anos) onde os meus pais aparecem: "Estão os dois de pé, belos e jovens, de frente para o fotógrafo, mostrando no rosto uma expressão de solene gravidade que é talvez temor diante da câmara, no instante em que a objectiva vai fixar, de um e de outro, a imagem que nunca mais tornarão a ter, porque o dia seguinte será implacavelmente outro dia... Minha mãe apoia o cotovelo direito numa alta coluna e segura na mão esquerda, caída ao longo do corpo, uma flor. Meu pai passa o braço por trás das costas de minha mãe e a sua mão calosa aparece sobre o ombro dela como uma asa. Ambos pisam acanhados um tapete de ramagens. A tela que serve de fundo postiço ao retrato mostra umas difusas e incongruentes arquitecturas neoclássicas". E terminava: "Um dia tinha de chegar em que contaria estas coisas. Nada disto tem importância, a não ser para mim. Um avô berbere, vindo do Norte de África, um outro avô pastor de porcos, uma avó maravilhosamente bela, uns pais graves e formosos, uma flor num retrato - que outra genealogia pode importar-me? a que melhor árvore me encontraria?"
Escrevi estas palavras há quase trinta anos, sem outra intenção que não fosse reconstituir e registar instantes da vida das pessoas que me geraram e que mais perto de mim estiveram, pensando que nada mais precisaria de explicar para que se soubesse de onde venho e de que materiais se fez a pessoa que comecei por ser e esta em que pouco a pouco me vim tornando. Afinal, estava enganado, a biologia não determina tudo, e, quanto à genética, muito misteriosos deverão ter sido os seus caminhos para terem dado uma volta tão larga... À minha árvore genealógica (perdôe-se-me a presunção de a designar assim, sendo tão minguada a substância da sua seiva) não faltavam apenas alguns daqueles ramos que o tempo e os sucessivos encontros da vida vão fazendo romper do tronco central, também lhe faltava quem ajudasse as suas raízes a penetrar até às camadas subterrâneas mais fundas, quem apurasse a consistência e o sabor dos seus frutos, quem ampliasse e robustecesse a sua copa para fazer dela abrigo de aves migrantes e amparo de ninhos. Ao pintar os meus pais e os meus avós com tintas de literatura, transformando-os, de simples pessoas de carne e osso que haviam sido, em personagens novamente e de outro modo construtoras da minha vida, estava, sem o perceber, a traçar o caminho por onde as personagens que viesse a inventar, as outras, as efectivamente literárias, iriam fabricar e trazer-me os materiais e as ferramentas que, finalmente, no bom e no menos bom, no bastante e no insuficiente, no ganho e no perdido, naquilo que é defeito mas também naquilo que é excesso, acabariam por fazer de mim a pessoa em que hoje me reconheço: criador dessas personagens, mas, ao mesmo tempo, criatura delas. Em certo sentido poder-se-á mesmo dizer que, letra a letra, palavra a palavra, página a página, livro a livro, tenho vindo, sucessivamente, a implantar no homem que fui as personagens que criei. Creio que, sem elas, não seria a pessoa que hoje sou, sem elas talvez a minha vida não tivesse logrado ser mais do que um esboço impreciso, uma promessa como tantas outras que de promessa não conseguiram passar, a existência de alguém que talvez pudesse ter sido e afinal não tinha chegado a ser. Agora sou capaz de ver com clareza quem foram os meus mestres de vida, os que mais intensamente me ensinaram o duro ofício de viver, essas dezenas de personagens de romance e de teatro que neste momento vejo desfilar diante dos meus olhos, esses homens e essas mulheres feitos de papel e tinta, essa gente que eu acreditava ir guiando de acordo com as minhas conveniências de narrador e obedecendo à minha vontade de autor, como títeres articulados cujas acções não pudessem ter mais efeito em mim que o peso suportado e a tensão dos fios com que os movia (…)”.
“(…)Termino. A voz que leu estas páginas quis ser o eco das vozes conjuntas das minhas personagens. Não tenho, a bem dizer, mais voz que a voz que elas tiverem. Perdoai-me se vos pareceu pouco isto que para mim é tudo”.


Por JOSÉ SARAMAGO
Estocolmo, 07 de Outubro de 1998.


*__________ Saramago nunca foi o seu apelido (sobrenome) e sim era alcunha (apelido) da família dos Sousa; uma erva daninha, comestível, anual ou bienal, da família das Crucíferas que nasce sem a necessidade do cultivo, da mesma forma que existe por todo país Portugal.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Educação e o Ensino da Literatura

A literatura universal compreende difusões de cultura de diferentes povos; Santos e Pereira (1999:18) comentam “que existem diferentes contribuições à literatura universal, à grande literatura”. Abrindo um pouco com a idéia de literatura universal, os autores complementam que “não existem literaturas menores, mas contribuições distintas no conceito da literatura universal”. Estas contribuições acontecem em vários níveis, entre: os autores; autores e leitores; autores, educadores e leitores, formando um grande grupo literário, o que exige certa compreensão de todos os seus membros, que forma opiniões e necessitando o respeito mútuo, para que seja alcançado um dos principais objetivos da literatura, que é a comunicação por meio da troca de idéias, sem espaço para a distinção cultural e conseqüentemente, inserindo realidades, fazendo ligações entre diversos mundos possíveis a arte literária retrata a própria condição de existir.
Se pararmos para analisar em que o conceito estrutural filosófico e pedagógico está o embasamento da literatura universal, veremos que o da literatura universal, está compreendido a partir de um determinado grupo de obras que emergem de um determinado histórico-social-cultural para fazer parte, fragmentado em diversos períodos que vão determinar a grande literatura. Logo, o que forma a grande literatura e a escola, se não os fragmentos da interação de todos, de cada época literária e do seu tempo correspondente? Ou seja, duas partes que interagem para formar para todos, neste caso para a formação da grande literatura universal e da formação do homem.
Ora, se a literatura é uma das formas de linguagem, para além disso ela dialoga com o leitor e cria no indivíduo um ajustamento para com o mundo e por meio desse ajustamento acaba por inserir o aluno via conhecimento de outros mundos, logo, poderíamos pensar que a mesma é autônoma, para além imaginarmos que ela seja uma ciência por dar um novo prisma para outras áreas.
Essa troca de informações, idéias e cultura, fazem da literatura uma grande expressão da arte, tendo capacidade integradora, em que retoma e atualiza a própria condição existencial de um ser situado, que não conhece o mundo como uma coleção de objetos diante de si, mas como horizonte originário do sentido que se materializa em cada experiência vivida. Lembrando Paulo Freire: “Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo” (FREIRE, 2002).
Logo, muitas questões cercam a intencionalidade da Educação e conseqüentemente da literatura, uma vez que esta é parte integrante da cultura escolar , bem como o conceito da disciplina de literatura, pois a mesma sempre esteve à mercê de seus períodos históricos e sociais que determinavam seu ensinamento.
Quando refletimos sobre a forma metodológica do ensino da literatura, e analisamos a respeito da aversão dos nossos alunos às obras literárias, ocorrem-nos sempre os problemas de ensinamentos dos textos literários. Obras fora do contexto atual e longe da realidade estudantil. Da mesma forma em que há diferenças substantivas e subjetivas na maneira na qual os professores encaram e exercem o ensino da literatura no âmbito da disciplina de Língua Portuguesa.
Todavia, antes de analisarmos a parte comportamental de nossos alunos diante do conteúdo da disciplina de literatura, há de se fazer uma fundamental ressalva na problemática do ensino, neste caso para a formação de professores do Curso de Letras, que reside no tratamento generalizado para o ensino da disciplina de literatura no âmbito da disciplina de Língua Portuguesa.
Essa máquina educacional acaba por produzir em série um corpo discente despreparado, do mesmo jeito que forma sem a preocupação de como esse grupo discente vai se tornar docente (professores de literatura) e como usará as metodologias ensinadas. Na seqüência dos fatos essa mesma máquina institucional acaba por receber um novo grupo de alunos formado por aqueles que ela própria certificou sendo aptos a ministrarem. Sendo assim, o ciclo está fechado de forma viciosa e trazendo consigo a falta de leitores aptos para o mundo literário.
Logo, uma nova competência à capacidade de organizar e de dirigir situações de aprendizagem faz-se necessária, porque cada aluno, sem dúvida alguma, vivência à aula conforme o seu humor, sua capacidade de concentração e tudo que lhe ligue ao mundo que o interessa no que aprendeu e na literatura não se dá de forma desigual.
Desta forma, entendemos que o ensino da leitura literária não pode ser apenas imposto, ele deve sim, ser incentivado, pois, sempre que possível, dar liberdade de escolha. Da mesma forma que entendemos que esse processo somente se dará diante de professores preparados para ministrarem tais ensinamentos.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Literatura em Pauta

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Realizado pela PUC do Rio Grande do Sul, o II Congresso Internacional de Leitura e Literatura Infantil e Juvenil e o I Fórum Latino- Americano de Pesquisadores de Leitura aconteceram na cidade de Porto Alegre, nos dias 12, 13 e 14 de maio.
Com objetivos voltados para a ampliação da rede de pesquisadores em leitura, o II Congresso criou um espaço dialéctico para tratar das estratégias de promoção de leituras e formação de leitores, bem como ensejou a troca de experiências pelos profissionais que atuam em diversos contextos educacionais e sociais na promoção da leitura, do livro e da literatura. Diversos foram os simpósios apresentados que partiram desde a leitura e a alfabetização até às leituras tecnológicas.
Com presenças marcantes, entre elas a de Francisco Gregório Filho, contador de histórias, Patrícia Correa, da Colômbia, Emmanuel Fraisse, da Universidade de Sorbonne, Affonso Romano, poeta e escritor, esse encontro mostrou as diversas práticas desenvolvidas em todo o contexto latino americano em prol da formação de leitores e seus resultados. Uma atitude louvável de/para cidadania.
A formação de leitores é uma estratégia de inserção do sujeito ao mundo, do conhecimento. Assim como a onda da alfabetização espalhou-se pelos maiores e melhores pontos educacionais de acesso. Maiores e melhores porque ainda temos analfabetos e, consequentemente, não leitores, da mesma forma que temos alfabetizados que também não são leitores. Logo, inúmeros ainda são os sujeitos desse mundo que precisam ser formados, tanto com a antiga alfabetização ou com a nova alfabetização.
Quando tentamos fazer uma ligação entre a intencionalidade da alfabetização e da formação de leitores, percebemos que ambas intenções emergem de um sistema político/educacional que precisa estimular no presente o que deixou de atender no passado.
Das diversas propostas apresentadas ao estímulo à formação de leitores, muitas caracterizadas pelo contato do sujeito com o livro e muitos pela primeira vez, percebe-se um estímulo que atende a um certo programa articulado para formação desses leitores. Todavia, a maioria dos programas não visa estimular o sujeito a partir dele mesmo. Ou seja, um programa que leve em consideração aquilo que o indivíduo já tem como formação da leitura, leitura de si e dos demais.
Partindo da idéia que estamos trabalhando com indivíduos já alfabetizados, precisamos considerar que todos já são leitores. Leitores do seu tempo, do seu espaço, do seu contexto e, principalmente, leitores daquilo que os interessa. Simplificando mais a idéia, todo material para a formação de leitores deveria partir das “mãos dos alunos”, daquilo que eles escolheram para fazer parte do seu dia a dia. Afinal, não podemos esquecer, entre muitos detalhes, que o sujeito que queremos formar como leitor já lê, e considerar aquilo que ele utiliza como leitura diária é fundamental.
Agora, é certo que esta metodologia foge aos programas elaborados, da mesma forma que dá mais trabalho e, acima de tudo, requer profissionais qualificados para fazer a ligação entre o que já é lido com aquilo que se intenciona que o aluno leia, uma leitura intencional que consideramos valida para formação do sujeito.
Outro fator que deve ser levado em consideração e que para nós é primordial é o material preparado, selecionado, recomendado e aprovado, considerado bom para formação de leitores e que faz parte das listas dos programas de leituras pelo mundo a fora. Não se questiona com isso a obra em si, ou talvez se leve em consideração fatores como valores da ética e da moral, os quais a sociedade atual está mergulhada. Entretanto, precisamos ficar atentos se aquilo que se recomenda é, realmente, aquilo que se quer ler, porque se a formação da leitura não passar pela vontade do leitor, pela curiosidade dele, de nada vai adiantar e cada dia mais teremos de criar métodos de leituras para formar pessoas que já lêem, mas que suas leituras não são consideradas. Para além disso, seguir aos programas recomendados, com obras indicadas, dá-nos a idéia de termos, novamente, um método tradicional só que desta vez paralelo a escola. Paralelismo que acaba por se confundir com a própria escola, não considerando seus alunos como seres participativos. Alguns diriam para essa observação que muitos são os fatores que formam e influenciam o sujeito, mas que o nobre educador Paulo Freire nunca leia isso, pois ele bem fez surgir da miséria completa, de fome e de dignidade, quarenta e cinco alfabetizados leitores. Alunos pioneiros de um projeto que ensinava a ler no chão batido de Pernambuco e que traziam para essa “escola”, a céu aberto, as suas experiências de vida como material didático.
Por fim ou para um começo nobre dentro da formação de leitores, não podemos esquecer que estamos formando leitores e formar leitor é um processo inicial e como todo processo inicial precisa começar a partir de um espaço alcançável, “entendível” e que aguce a curiosidade. Ninguém forma leitor com obras consagradas ou indicadas que estão fora do entendimento do sujeito ou mesmo esquecendo que o aluno já é um leitor.
Precisamos considerar e respeitar o espaço que nosso aluno gosta de estar, o mundo dele. Ou entramos nesse mundo e a partir daí o “formamos” contextualizando nosso aluno com tudo que já o faz sujeito ou estamos fadados a inventar modelos, dentro ou fora da escola, que nunca terão bons resultados. Ou será que é essa a verdadeira intenção dentro da alfabetização e da formação de leitores?

**© 1998 The Munch Museum / Munch-Ellingsen Group / Artists Rights Society (ARS), New York./Bridgeman Art

segunda-feira, 26 de abril de 2010

José Saramago e a Leitura

José Saramago e algumas dicas importantes à formação de leitores:


Estímulo à leitura
José Saramago, Prêmio Nobel da Literatura, diz que "o estímulo à leitura é uma coisa estranha, não deveria ter que haver outro estímulo além da necessidade de um instrumento que permita conhecer", opinou. "As coisas vão mal quando é preciso estimular. Ninguém precisa de estímulos para se entusiasmar com o futebol", disse, lembrando que por trás do esporte há uma "operação de propaganda fabulosa".



Educação
Saramago afirma ainda que atualmente se confunde a "instrução", ligada ao conhecimento, com a "educação", ligada aos valores. "Onde está a educação na escola em que os professores são agredidos, humilhados, desprezados", questionou, dizendo que eles "são os heróis do nosso tempo". No entanto, lembra que há "professores incompetentes", que trabalham "sem vocação". E fez uma recomendação: a leitura em voz alta deve ser encorajada na sala de aula.


Gramática
O Nobel da Literatura também criticou a linha de ensino que prega que a correção ortográfica não é importante. "Qualquer operário sabe que tem que ter suas ferramentas limpas e em condições de serem usadas. A língua é a ferramenta por excelência".



*Fontes preservadas pelo blog.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

O Prazer do Texto
Por Rubem Alves


"(...) Toda aprendizagem começa com um pedido. Se não houver o pedido, a aprendizagem não acontecerá. Há aquele velho ditado: “É fácil levar a égua até o meio do ribeirão. O difícil é convencer a égua a beber“. Traduzido pela Adélia Prado: “Não quero faca nem queijo. Quero é fome“. Metáfora para o professor: cozinheiro, Babette, que serve o aperitivo para que a criança tenha fome e deseje comer o texto...
Onde se encontra o prazer do texto? Onde se encontra o seu poder de seduzir? Tive a resposta para essa questão acidentalmente, sem que a tivesse procurado. Ele me disse que havia lido um lindo poema de Fernando Pessoa, e citou a primeira frase. Fiquei feliz porque eu também amava aquele poema. Aí ele começou a lê-lo. Estremeci. O poema – aquele poema que eu amava – estava horrível na sua leitura. As palavras que ele lia eram as palavras certas. Mas alguma coisa estava errada! A música estava errada! Todo texto tem dois elementos: as palavras, com o seu significado. E a música... Percebi, então, que todo texto literário se assemelha à música. Uma sonata de Mozart, por exemplo. A sua “letra“ está gravada no papel: as notas. Mas assim, escrita no papel, a sonata não existe como experiência estética. Está morta. É preciso que um intérprete dê vida às notas mortas. Martha Argerich, pianista suprema (sua interpretação do concerto n. 3 de Rachmaninoff me convenceu da superioridade das mulheres...) as toca: seus dedos deslizam leves, rápidos, vigorosos, vagarosos, suaves, nenhum deslize, nenhum tropeção: estamos possuídos pela beleza. A mesma partitura, as mesmas notas, nas mãos de um pianeiro: o toque é duro, sem leveza, tropeções, hesitações, esbarros, erros: é o horror, o desejo que o fim chegue logo.
Todo texto literário é uma partitura musical. As palavras são as notas. Se aquele que lê é um artista, se ele domina a técnica, se ele surfa sobre as palavras, se ele está possuído pelo texto – a beleza acontece. E o texto se apossa do corpo de quem ouve. Mas se aquele que lê não domina a técnica, se ele luta com as palavras, se ele não desliza sobre elas – a leitura não produz prazer:queremos que ela termine logo. Assim, quem ensina a ler, isto é, aquele que lê para que seus alunos tenham prazer no texto, tem de ser um artista. Só deveria ler aquele que está possuído pelo texto que lê. Por isso eu acho que deveria ser estabelecida em nossas escolas a prática de “concertos de leitura“. Se há concertos de música erudita, jazz e MPB – por que não concertos de leitura? Ouvindo, os alunos experimentarão os prazeres do ler. E acontecerá com a leitura o mesmo que acontece com a música: depois de ser picado pela sua beleza é impossível esquecer. Leitura é droga perigosa: vicia... Se os jovens não gostam de ler, a culpa não é deles. Foram forçados a aprender tantas coisas sobre os textos - gramática, usos da partícula “se“, dígrafos, encontros consonantais, análise sintática –que não houve tempo para serem iniciados na única coisa que importa: a beleza musical do texto literário: foi-lhes ensinada a anatomia morta do texto e não a sua erótica viva. Ler é fazer amor com as palavras. E essa transa literária se inicia antes que as crianças saibam os nomes das letras. Sem saber ler elas já são sensíveis à beleza. E a missão do professor? Mestre do kama-sutra da leitura...



APERITIVOS
1.“Analfabeta não é a pessoa que não sabe ler. É a pessoa que, sabendo ler, não gosta de ler.“ (Quem foi que disse isso? Acho que foi o Mário Quintana).
2.A menininha de 9 anos me explicou como as crianças na sua escola aprendiam a ler: “Aqui na Escola da Ponte não aprendemos letras e silabas. Só aprendemos totalidades...“
3.Os compositores colocam em suas partituras indicações para orientar o intérprete: lento, presto, adagio, alegretto, forte, piano, ralentando. Os escritores deveriam fazer o mesmo com seus textos. Há textos que devem ser lidos lentamente, expressivamente, tristemente. Outros que exigem leveza, rapidez, riso. O leitor experiente não precisa dessas indicações. Mas elas poderiam ajudar os principiantes.
4. “Mais valem dois marimbondos voando que um na mão“ (Almanak do Aluá).
5. Graciliano Ramos relata que, quando menino, na escola lhe ensinaram um ditado: “Fale pouco e bem e ter-te-ão por alguém“. Ele repetia o ditado mas ficava com uma dúvida: “Quem será esse ‘Tertião’?“
(Correio Popular, Caderno C, 19/07/2001.) ".

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Literatura, Literacia e Formação de Leitores

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Segundo Benavente, a priori tínhamos a alfabetização como método de acesso do homem com o mundo, todos deveriam saber ler e escrever para estarem inseridos na sociedade, caso não soubessem eram considerados excluídos. Com o passar do tempo e com os primeiros estudos realizados nos Estados Unidos da América, verificou-se que os indivíduos, mesmo alfabetizados, não conseguiam fazer uso deste aprendizado para o dia a dia de suas vidas. Foi então que nasceu a versão da nova alfabetização, ficando esta com a capacidade de domínio destas práticas aprendidas, como ler, escrever e fazer calculos.
No estudo que realizou sobre Literacias em Portugal, Benavente constatou, dentro de um grupo específico sobre periodicidade e tipos de leituras, que a leitura dos livros anda distante , da mesma forma que os tipos de leituras estão longe das obras literárias. A autora diz-nos:

“(…) A leitura de livros é rara dentro do grupo (apenas três jovens a indicam como forma de ocupar os tempos livres), sendo em geral restrita à banda desenhada (…)” (BENAVENTE, 1996: 260-262)

Portugal ocupa o segundo lugar dentro do Continente Europeu de não fazer uso do hábito da leitura. Ao quererem atribuir este fato aos preços dos livros, em entrevista a Rádio Notícias TSF , na época o atual presidente da APEL Rui Beja diz com relação aos preços dos livros que estes estão ligados a demanda de tiragem em cada país, ou seja, quanto maior a tiragem teremos uma queda no preço da obra e que consequentemente os altos preços em Portugal estão ligados diretamente aos níveis de literacias e aos hábitos de leituras no país.
Fato este já percebido e anunciado anteriormente pela escritora Isabel Alçada, que alertava para necessidade de se criar métodos para o desenvolvimento afetivo de leitores com os livros:

“(…) é preciso criar o hábito da leitura (…)”. (ALÇADA, 2007)

Segundo Becker, o professor deve oferecer formas didácticas diferenciadas, que venham ao encontro do que os alunos gostem para que os mesmos sintam o desejo de ler. Na maioria dos casos, os alunos apresentam predisposição para não gostar da disciplina de literatura justamente porque a soma do conteúdo literário estudado em sala de aula, geralmente, como já citamos, com uma escrita requintada para as necessidades sociais de época, mas que para o contexto atual, faz-se completamente fora de sentido e desatualizada dentro da vida do aluno do século XXI e somada a metodologia aplicada fazem com que o aluno tenha uma predisposição a não se interessar pela disciplina.
Daí, a necessidade de implementar uma metodologia que busque ensinar a literatura de uma forma direccionada, afim de resgatar o leitor. Caso contrário, não teremos leitores, mas sim “leitores” para atingir as necessidades, somente curriculares. Entende-se, com isso, que há uma ligação muito próxima entre a literatura e a formação do indivíduo, ultrapassando todo e qualquer parâmetro, somente, curricular, e isso se dará à medida que tivermos autênticos leitores; uma forma de chegar à formação literária pelo o que o nosso aluno gosta de ler. (BECKER, 2005:43).
Uma opção que nos parece plausível, aplica-se a partir da prioridade que devemos ter sobre todo esse entendimento de mudanças que as sociedades atravessaram e entendermos que diante de nós está um aluno do século XXI e não dos séculos passados, o qual se utiliza de uma linguagem totalmente diferenciada dos textos que precisam estudar. E para, além disso, são leitores de tempo algum, a não ser do que lhes interessa.
Inúmeras são as possibilidades de inserção da Literatura Marginal dentro da sala de aula, podemos começar por formar leitores para podermos ensinar a literatura a partir das obras que nossos alunos gostam de ler, que nos parece a mais justa. Quando refletimos a respeito de não termos leitores ou quando nossa reflexão passa para o abandono escolar, sempre nos vem à mente a idéia que estas perdas estão relacionadas ao fato de que a escola não respeita as diversidades culturais existentes dentro dela, da mesma forma que pretende impor seus valores, via suas metodologias.
____________*Leitura no Domaine de Nerige, s/d; Alex Russell Flint ( Reino Unido)
óleo sobre tela

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Quando o Aluno NÃO Lê
Para Professores e Pais


O Projeto Livro Aberto tem algumas dicas para quando o aluno NÃO lê, são elas:


*Ame o que faz;
*Procure perceber e entender o(s) motivo(s)pelo qual o aluno Não lê;
*Leia, o exemplo é muito mais educativo do que mil palavras;
*Nunca troque o que será lido por pontos na média;
*Tenha um olhar individual sobre a turma;
*Não faça da Literatura uma ferramenta para passar nos Exames Nacionais/Vestibular;

A partir daí:


*Faça da leitura um prazer;

*Mostre a importância que o aluno tem para você;

*Valorize a produção do aluno e as leituras que ele JÁ faz;

*Mostre que está possuído pelo texto que você ensina;

*Torne o texto um atrativo;

*Faça do texto um contexto;

*Do texto e contexto atual, interaja esse texto com a vida do aluno;

*Mostre e viva a riqueza da intertextualização;

*Transforme o texto em um cenário;

*Busque recursos para as leituras (criatividade, interação,
imaginação,tecnologias, cenários, figurinos etc);

*Que tal o professor ser o próprio escritor em estudo?;

*Junte as artes da escrita (Literatura), do movimento (Dança) e da dramatização (Teatro);

*Leia em voz alta para o seu aluno;

*Transforme sua sala de aula em um momento mágico de leitura;

*Mostre ao seu aluno a importância da Literatura na formação do Indivíduo;


*E nunca deixe para depois o que pode ser lido hoje. Porque a maior frustação que um aluno pode ter é quando ele chega para o professor, fala sobre o que está lendo e o professor diz: "Podemos ver isso amanhã?"

segunda-feira, 29 de março de 2010

PLA - Projeto Livro Aberto
Em Portugal

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O Projecto Livro Aberto (PLA) foi criado e desenvolvido a partir do ano 2000, fundamentado na idéia de que mudar o mundo, por meio da leitura, poderá começar mesmo com um pequeno número de participantes. E esses participantes poderão ser incentivados a começarem no seu próprio contexto físico, social e /ou educativo, numa projeção futura para o mundo, esperando-se alguns efeitos em cadeia, quer para o próprio, quer para aqueles que, de alguma forma com ele convivem. Afinal, contar histórias, descrever seres, sons e ambientes, expressar emoções e expor idéias e opiniões são necessidades comuns a todos nós. Por isso, o homem criou a linguagem, a representação do pensamento por meio de sinais, permitindo a comunicação.

Entre muitas das práticas, o Projecto Livro Aberto promove o desenvolvimento global do educando de uma forma lúdica livre, sem deixar de respeitar suas potencialidades, tendo como objetivo principal proporcionar ao educando a capacitação que permita sua participação, enquanto cidadão, nas diversas atividades exigidas pela vida moderna, ou seja, prepará-lo para o exercício da cidadania consciente e democrática, bem como o desenvolvimento da sua construção lingüística. Vale ressaltar que a forma lúdica de ensinar vem ao encontro da liberdade nata que o aluno tem em aprender e que corresponde não a um espaço único de aprendizagem, mas que faz de todos os espaços um encontro entre a pessoa que aprende ( e se desenvolve) e aquilo que pode ser aprendido.

A ideia de uma escola que estimula e desenvolve o prazer da leitura é uma ideia viável, oportuna e bastante exeqüível que nasceu da constatação, como professora, de quanto a formação escolar vem, ao longo dos anos, negligenciando a formação de leitores.

Esta ideia já foi aplicada no Brasil, conforme poderá/deverá ser testado em novos horizontes.

Em Portugal, nossos investidores principais são as Câmaras Municipais interessadas em implantarem o Projeto para as suas escolas, além das oficinas particulares que disponibilizamos para públicos distintos.


**Ilustração de Contes de ma Mère l'Oye por Gustave Doré

segunda-feira, 22 de março de 2010

O Prazer do Texto
Roland Barthes


“(…) Se leio com prazer esta frase, esta história ou esta palavra, é porque foram escritas no prazer (este prazer não está em contradição com as queixas do escritor). Mas e o contrário? Escrever no prazer me assegura – a mim, escritor – o prazer de meu leitor? De modo algum.
Esse leitor, é mister que eu o procure (que eu o “drague”), sem saber onde ele está. Um espaço de fruição fica então criado.
Não é a “pessoa” do outro que me é necessária, é o espaço: a possibilidade de uma dialética do desejo, de uma imprevisão do desfrute: que os dados não estejam lançados, que haja um jogo.
(…)
Se aceito julgar um texto segundo o prazer, não posso ser levado a dizer: este é bom, aquele é mau. Não há quadro de honra, não há crítica, pois esta implica sempre um objetivo tático, um uso social e muitas vezes uma cobertura imaginária.
Não posso dosar, imaginar que o texto seja perfectível, que está pronto a entrar num jogo de predicados normativos: é demasiado isto, não é bastante aquilo; o texto (o mesmo sucede com a voz que canta) só pode me arrancar este juízo, de modo algum adjetivo: é isso!
E mais ainda: é isso para mim!
(…)”.

*BARTHES, Roland. Le Plaisir du Texte, Éditions du Seil, 1973.
**Ilustração Dom Quixote; Candido Portinari.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Hábitos de Ler: parceiros fundamentais

O domínio da linguagem oral está ligado directamente à quantidade de recursos verbais que se possui, e uma das melhores formas de adquirir esses recursos é por meio da leitura, quanto maior for nosso vocabulário, mais fácil será nosso domínio linguístico.
Tudo aquilo que lemos fica guardado em nossa memória, diferente dos outros meios de informação como a televisão e o rádio que desfilam em nosso subconsciente. A percentagem de armazenamento dos vocábulos, por meio da leitura, está em oitenta vezes a mais do que em outros casos.
A leitura proporciona-nos a expansão do imaginário, do intelecto e, consequentemente, dos recursos para persuadir, via palavra. Logo, não podemos pensar em persuadir caso não sejamos bons leitores. E ser bom leitor depende de você, por mais que não goste, comece aos poucos. Procure ler aquilo que lhe agrada, seja do género científico, romântico, poético, policial ou de terror.
Enfim, o género não diz respeito, o que importa é que você comece a ler para criar o hábito. Uma vez com este hábito aperfeiçoado, procure ampliar seu género textual, chegará a um patamar em que ler passará a ser fundamental e, a partir daí, tudo será fácil.
Não esqueça: Cada palavra lida é oitenta por cento absorvida e essa dimensão alcançada, em cada palavra, vai fazer você mais confiante, pois agora tem como aliado um parceiro fundamental: o domínio linguístico por meio da leitura.
O hábito e a interpretação de textos, como livros, notícias, propagandas, panfletos, histórias em quadrinhos, mapas históricos e geográficos, possibilitam ao aluno obter informações do mundo e suas dimensões linguísticas e assim desenvolver a sua competência de leitor e escritor. Entretanto, para isso é preciso que o aluno compare e compreenda, não somente aquilo que o texto possibilita, mas também os recursos expressivos utilizados pelo autor e as várias interpretações que o texto proporciona, bem como a organização dos diferentes tipos de textos.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Hábitos da leitura - Criar

O hábito da leitura deve ser começado pelo prazer de ler. Todo leitor deve estar envolvido pelo texto que lê. Logo, comece a desenvolver o hábito da leitura pelas leituras que lhe agrade. Sem tempo determinado, reserve um período do seu dia para a prática da leitura. Perceba que estamos em fase inicial de formação e ler textos densos, complexos, momentaneamente, não faz sentido, a menos que esta leitura LHE AGUCE A CURIOSIDADE;

  • O companheiro de viagem: Faça do livro um companheiro de viagem. Tenha-o sempre em sua companhia durante o dia. Vários são os momentos livres e que você pode aproveitar para dar continuidade à sua leitura;

  • Sábado de Leitura: Faça do seu hábito diário um hábito semanal. Para além do tempo escolhido durante a semana (aquele que você lê sempre que sobra um tempo), eleja um dia dessa semana, sábado pela manhã, por exemplo, para praticar a sua leitura mais demoradamente. Vá a um café, encontre-se com amigos para discutirem o que estão lendo ou mesmo em casa dedique um período maior para a sua leitura. Não esqueça: Ler tem de ser prazeroso!;

  • Alternativas de Leituras: Se é daqueles que não conseguem sair da frente do computador, procure exercitar com os inúmeros e-books disponíveis gratuitamente nos sites de leituras e bibliotecas on line. Para, além disso, pode também criar um repositório de suas leituras e comentários sobre o que leu e convidar seus amigos a participarem e que façam o mesmo. O círculo do livro deve ser criado em qualquer ambiente;

  • Aperfeiçoe a sua leitura: À medida que vai lendo, seja no tempo que for ou no espaço que for, comece a fazer a interrelação com aquilo que lê e aquilo que vive; tente entender, à sua maneira; o que está co-relacionado com a história para entender em que período os fatos acontecem. Mas, não esqueça a leitura tem de ser prazerosa, ao mesmo tempo, que precisamos contextualizar para fazer sentido. Depois que já está mais familiarizado com a obra, procure ler alguns comentários a respeito e repare o que o outro percebeu. Por enquanto, apenas isso. Não esqueça, ainda estamos em fase inicial de formação;

  • Livrarias e Atendimento:
    Estamos falando de leitura, formação de leitores e prazer pelo que se lê. Logo, nada mais justo que ir a uma livraria que tenha essas disponibilidades. Ela precisa ter bons livros (aqueles que você gosta de ler), atendentes bem informados, educados e qualificados, da mesma forma que precisamos ter um ambiente acolhedor, com sofás, almofadas, cafés, boa distribuição e catalogação e porque não dizer uma música ambiente que torne o local um lugar calmo e aconchegante.
    Cuide do seu livro: Em outra dica, coloquei vários pontos para que você cuide bem do seu livro. O livro, como em qualquer relacionamento, requer cuidados especiais, por isso trate o seu livro como se fosse o seu melhor amigo. Não esqueça ele é o seu companheiro diários;

  • Olhos e Leitura: Bem, considerando que você não utiliza o alfabeto Braille, a sua ferramenta de leitura são os seus olhos. Cuide bem deles, seja para leituras impressas ou em tela do computador. Ao sinal de cansaço, coceiras, ardência, para além de descansar da leitura, procure um bom oftalmologista e faça o seu teste ótico para ver se você precisa usar óculos ou mesmo aumentar o grau que já possui. Uma grande porcentagem de leitores deixa ou abandona as leituras devido a não percepção deste fato;

  • Leitura e Prazer: Não esqueça que na vida tudo que fazemos com prazer tem resultados relevantes para o nosso desenvolvimento, afinal tudo que fazemos por prazer cria uma predisposição de dar certo. Na leitura isso não se dá de forma diferente, não leia por obrigação. Todavia, digamos que você tem de ler um texto que não lhe agrade muito, que está fora do seu contexto e da sua vontade. Bem sabemos que vai ler, mas também sabemos que não vai ser uma leitura prazerosa e marcante. Agora, se você tiver desenvolvido o hábito da leitura aos poucos, se tiver criado este hábito via os textos que lhe agradam, perceba que ficará mais fácil, que assimilar o conteúdo proposto passa a ser algo alcançável e porque não dizer torna-o conhecedor em outras áreas. Depois, à medida que você vai lendo, passa a compreender as diversas formas de escritas, os inúmeros contextos e pensares. Com o tempo você perceberá que esta intertextualização passa a lhe abrir novos horizontes, dando-lhe fontes para raciocínios e conseqüentemente, diálogos mais abertos, perceptíveis ao seu crescimento;

  • Leia sempre!

segunda-feira, 1 de março de 2010

TICs Na Educação e Na Formação de Leitores

TICs na Educação e na Formação de Leitores
Entre o Côncavo e o Convexo

A fusão das palavras tecnologia e pedagogia parece-nos formar uma boa dupla diante do mundo globalizado, ou quiçá, formam tal dupla pelo mundo globalizado. As tecnologias aplicadas nas escolas podem ser uma boa ferramenta de estímulos dentro do aprendizado, bem como um atrativo para os aprendizes, uma vez que o aluno do século XXI passa doze horas do seu dia ligado ao computador e muitas dessas horas conectado.
Segundo estudos realizados*,
“surge na Escola a necessidade de uma nova alfabetização – uma alfabetização informática – que possa desenvolver em todos os alunos competências para a nova forma de comunicar e trabalhar, fundamentais tanto para o prosseguimento de estudos como para uma inserção na vida activa profissional”.
Todavia, paradoxalmente a esta idéia inovadora de formação, temos atualmente um quadro assustador que diz respeito à falta de preparo do corpo docente, da mesma forma que à distribuição informatizada nas escolas e nos lares são escassas. Se pretende-se, como diz a pesquisa, que se forme uma nova competência e habilidade diante da necessidade globalizada do aprender/ensinar, faz-se necessário, também, uma distribuição ampla dessas tecnologias e para além disso o preparo dos profissionais que irão lidar com esta nova tendência.
Em um momento de reflexão, esquecendo-se as diversas críticas associadas aos métodos tecnológicos educacionais e suas responsabilidades docentes, também é necessário que se aponte os aspectos positivos para as facilidades inegáveis, ocasionadas por estas ferramentas tecnológicas.
Como podemos presenciar o acervo literário, seja ele disponibilizado em nível acadêmico ou mesmo dentro das obras literárias postado em diversos níveis, desde bibliotecas digitais, repositórios acadêmicos, blogs informais, acabam por proporcionar ao usuário das tecnologias uma forma de ter acesso, muitas vezes gratuita, a todo acervo disponibilizado. Diante desta disponibilização, podemos agregar a idéia que temos leitores ativos nas diversas áreas e nos diversos níveis.
Para a pesquisadora Maria da Glória Bordini**,
“As reais condições materiais para uma aspirada articulação da obra com o sistema literário e cultural dependem da mobilização de tantas variáveis que só os recursos da informática permitem a construção de um cenário em que texto e extratexto se conjuguem. Quando se busca estudar a literatura brasileira incluindo seus autores, seus textos e seu público, bem como a indústria cultural, as instituições que legitimam o objeto literário e a historicidade de todos esses fatores, a reprodução digital de documentos, os bancos de dados, as bibliotecas virtuais, os tratamentos da imagem, o hipertexto, enfim, as facilidades trazidas pelas novas tecnologias manifestam sua plena potencialidade relacional.”
A velocidade temporal ocasionada pelo percurso do leitor ativo dentro das tecnologias é outro fator a ser considerado. Muitos alunos, pesquisadores, escritores e leitores encontram-se nesse espaço comum, ao mesmo tempo e com uma forte tendência a fixarem-se nesta cronologia. Porque se por um lado temos as negativas que cercam esta tendência, por outro lado temos este aspecto cômodo de estarmos em diversos níveis e lugares ao mesmo tempo. Tudo parece-nos fazer parte da globalização.
Analisando por este ângulo, tudo parece-nos correr bem. As tecnologias são uma tendência inegável. Sobretudo, a idéia de liberdade ocasionada pelas tecnologias retratam um reforçamento ao conhecimento, as pesquisas que acabam por escravizar o tempo, o convívio, da mesma forma que nos dão outro tipo de aproximação.
Entre o côncavo e o convexo, na tentativa de ampliar o acesso ao livro e incentivar a formação de leitores, a Internet é reconhecida e validada como "aliada". Vale lembrar que nada vai trocar o prazer de ter o livro, de sentir o livro, de levá-lo como companheiro de viagem de uma forma concreta. Da mesma forma que não devemos e não podemos cair na armadilha de opor a Internet ao livro. Mas, inegavelmente, a Internet leva o jovem ao universo da leitura e da escrita. Vale ressaltar que a leitura e a escrita que estamos a falar não estão em questão, até porque bem sabemos que as palavras são medidas não pelas suas formas, entretanto pelo seu peso. Logo, a parte gramatical escrita e associada para este entendimento já concentra-se na interpretação e codificação da “Internetês”.
O estímulo a leitura de qualidade é importante, todavia é fundamental que se crie o hábito da leitura, via formação de leitores e nada mais justo que se alie a esta formação aquilo que o jovem destaca como ser importante para o seu mundo.
A forma vista, ainda marginalizada, pelo acesso ao livro via Internet, tem causado muitas polêmicas, entre elas as financeiras editoriais, que ainda tentam publicar seus livros de uma forma paga. Talvez, esta nova tecnologia não coloque no lugar certo os diversos anos que os leitores deixaram de ler por não terem acesso aos livros devido aos seus custos. E nessa luta entre ser leitor e ter o livro, muitas oportunidades se abrem e vão moldando os padrões de leituras, via as tecnologias.
É notório que a formação de leitores não está vinculada ao uso da Internet e nunca se desejou tal projeto, como bem afirma Maria Lajolo***,
“(…) apesar de ser algo bem discutido atualmente e ter validação, a formação dos leitores não é função da internet. Sendo necessário investir em educação, o que requer professores bem formados e bem remunerados”.

*http://nautilus.fis.uc.pt/cec/teses/marta/marta/PDF/TIC%20e%20a%20Escola.pdf
**http://www.textodigital.ufsc.br/ ***http://www.faced.ufba.br/rascunho_digital/textos/434.htm

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Imigrantes e Inclusão Social
Projeto Livro Aberto




Oficina de Alfabetização Infantil:

Objetivos:

Proporcionar à criança o primeiro contado com as letras;
inserir a criança no mundo escolar;
com brincadeiras correspondentes à idade fazer iniciação nas primeiras leituras e escrituras.

Público Alvo:
Toda criança, entre 3 e 5 anos, que não tem uma vida ativa escolar.


Oficina de Orientação Educacional:

Objetivos:

Busca, mostrar a importância do conhecimento para seleção de uma vaga de emprego ou mesmo o crescimento dentro da empresa, na qual o indivíduo trabalha;
orientar, ensinar e ajudar o aluno na escolha da profissão que quer seguir ou aperfeiçoar esta escolha;
percorrer todos os cursos universitários, com projeção dentro do mercado de trabalho;
via testes educacionais, ver a aptidão de cada aluno e fazer o encaminhamento educacional.

Público Alvo:
Todo indivíduo adulto que quer entrar para a universidade, com escolaridade secundária terminada ou em andamento.


Oficina de “Alfabetização” Adulta:

Objetivos:

Relembrar os conteúdos básicos escolares, sejam eles secundários ou iniciais;
criar situações de desenvolvimentos dos conteúdos aprendidos nas escolas;
dar ao aluno o reingresso na vida escolar por meio da memorização;

Público Alvo:
Todo indivíduo que quer relembrar os conteúdos escolares e quer seguir uma vida acadêmica.

Curso de Liderança:

Na vida estudantil ou dentro das atividades profissionais todos precisam aperfeiçoar sua capacidade de expressão.
A boa apresentação, o bom atendimento, a postura certa, a dinâmica de leitura e de interpretação de textos fazem do profissional um ser diferenciado, independente de seu ramo.
O domínio destas técnicas é a ferramenta determinante para:

· Vender e comprar;
· Prestar serviços;
· Conseguir emprego;
· Falar em público;
· Preparar um trabalho escolar;
· Educar;
· Apresentar um orçamento;
· Redigir um contrato;
· Escrever um relatório;
· Impressionar e, principalmente, ser um líder diante o mercado globalizado, no qual vivemos.

Objetivo Geral

Orientar o aluno para a importância da oratória no futuro pessoal e, conseqüentemente, no profissional, bem como oferecer métodos auxiliares para o desenvolvimento do poder da linguagem no indivíduo.


Objetivo Específico

· Laborar a mudança pessoal;
· Desenvolver a auto-estima;
· Incentivar a conversação;
· Promover o aprendizado a partir da vivência prática;
· Habilitar para o mercado de trabalho.



Estudos Paralelos:


· Oficina de Iniciação em Leituras;
· Gramática do Brasil e Gramática de Portugal;
· Oficina de Leitura;
· Oficina de Intertextualidade ( A gramática por meio de textos);
· Oficina volta às aulas;
· Oficinas das Obras Literárias;
· Oficina de Literatura Infantil

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

REAPN - Uma Atitude Louvável


A REAPN é uma Ong e com sede em Bruxelas que tem sua representação em cada estado membro da União Européia.
Atuante no Estado Português desde 1991, a Rede Européia Anti Pobreza (REAPN) surge com a preocupação da Comissão Europeia (Direção Geral dos Assuntos Sociais) perante o aumento dos fenómenos da pobreza e da exclusão social na Europa. "Em 1985 viviam nos doze países da Comunidade cerca de 44 milhões de pessoas abaixo do nível considerado como limiar da pobreza, número que em 1990 passou para 53 milhões” (Relatório da Comissão).
Entre os muitos objetivos que a REAPN possui, encontram-se os norteadores deste projeto de inclusão social:

“Promover acções que aumentem a eficácia dos programas de luta contra a pobreza e a exclusão social e incentivar acções inovadoras neste campo;
Estabelecer/dinamizar uma interacção (rede) entre as instituições, grupos e pessoas que trabalham no terreno da luta contra a pobreza e a exclusão social;
Colaborar na concepção/definição de programas de acção e políticas sociais;
Garantir a função de "grupo de pressão" para os menos favorecidos;
Promover junto das pessoas ou grupos que se encontram em situação de pobreza/exclusão, por um lado, e junto dos agentes de intervenção (profissionais, trabalhadores sociais, dirigentes de instituições particulares de solidariedade social), por outro, a integração social e a organização de serviços e outras actividades que visem principalmente o desenvolvimento cultural, económico, moral e físico das pessoas que se encontram em situação de pobreza/exclusão”.

Uma atitude no mínimo louvável que também chega dentro das salas de aula, diante da percepção sensível de considerar que o estudante, seja ele português ou não, também está grafado dentro do quadro da exclusão social. E uma forma de combater esta exclusão, em sala de aula, está em um projeto elaborado por eles que é um guião a toda comunidade educativa.
Entendo também que este grandioso projeto deveria ser lido, entendido e executado por todos os continentes de forma adaptada cada um às suas necessidades, afinal a idéia é de grande serventia humanitária.
Dentro do projeto, Guião para os Professores, não somente encontramos conceitos e definições do tipo: pobreza, exclusão social, bem como se trabalhar em sala de aula com estes conceitos e percepções para tentar amenizar e combater a exclusão social.
Vou disponibilizar o site da REAPN, com o pdf, que está para todos terem acesso e no mínimo seguirem esta atitude tão grande e de inclusão social.
http://www.reapn.org/publicacoes_visualizar.php?ID=150

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Ler e Prazer


Comentou, certa vez, Rubem Alves que somente deveria de ler quem está possuído pelo texto que lê:

“(…)Todo texto literário é uma partitura musical. As palavras são as notas. Se aquele que lê é um artista, se ele domina a técnica, se ele surfa sobre as palavras, se ele está possuído pelo texto – a beleza acontece. E o texto se apossa do corpo de quem ouve. Mas se aquele que lê não domina a técnica, se ele luta com as palavras, se ele não desliza sobre elas – a leitura não produz prazer: queremos que ela termine logo. Assim, quem ensina a ler, isto é, aquele que lê para que seus alunos tenham prazer no texto, tem de ser um artista. Só deveria ler aquele que está possuído pelo texto que lê (...)”. (Correio Popular, Caderno C, São Paulo, 19/07/2001).

Em outro artigo que publiquei, comentei que a leitura é um ato divino e que este ato de encontro entre o leitor e o texto precisa ser um ato prazeroso. É como se dois amigos se encontrassem para falar dos fatos da vida compostos por diversas características que cada um traz consigo.
Disse, muitas vezes, aos meus alunos que ler era também igual a beijar, nem sempre beijamos bem, mas nem por isso deixamos de beijar, estamos sempre tentando melhorar o nosso beijo. E entre muitos beijos, encontramos os melhores beijos.
Este encontro mágico que a leitura propicia deve ser praticado; é no hábito da leitura que aperfeiçoamos nossa própria leitura e aumentamos nossos conhecimentos sobre nós e os demais.
Nunca fui a favor da indicação de livros, porque imagino que indicar um livro para alguém é preciso, antes de tudo, conhecer bem este alguém para perceber que melhor leitura lhe convém ou que pensamos que lhe convém. Todavia, as diversas leituras fazem parte da vida de todos, e, se tivermos o hábito de ler, mesmo que o livro naquele momento não diga nada, ainda assim, devemos permanecer com esta prática .
Quero disponibilizar uma lista com alguns livros que penso que você poderia pensar em ler e começar a praticar ou dar seguimento as suas leituras. São eles:



Ilíada, Homero
Odisséia, Homero
Hamlet, William Shakespeare
Dom Quixote, Miguel de Cervantes
A Divina Comédia, Dante Alighieri
Ulysses, James Joyce
Guerra e Paz, Leon Tolstoi
Crime e Castigo, Dostoiévski
Édipo Rei, Sófocles
Otelo, William Shakespeare
Fausto, Goethe
O Processo, Franz Kafka
Som e a Fúria, William Faulkner
A Terra Desolada, T.S. Eliot
O Vermelho e o Negro, Stendhal
Os Miseráveis, Victor Hugo
O Estrangeiro, Albert Camus
A Eneida, Virgilio
Noite de Reis, William Shakespeare
Histórias Extraordinárias, Edgar Allan Poe
A Comédia Humana, Balzac
Grandes Esperanças, Charles Dickens
As Viagens de Gulliver, Jonathan Swift
Finnegans Wake, James Joyce
Os Lusíadas, Luís de Camões
1984, George Orwell
Tartufo, Molière
Mensagem, Fernando Pessoa
Memórias Póstumas de Brás Cubas, Machado de Assis
O Retrato de Dorian Gray, Oscar Wilde
A Náusea, Jean-Paul Sartre
Cem Anos de Solidão, Gabriel García Márquez
A Ilustre Casa de Ramires, Eça de Queirós
O Apanhador no Campo de Centeio, J.D. Salinger
Contos de Agatha Cristhe
Orgulho e Preconceito, Jane Austen
O Caçador de Pipas, Khaled Hosseini
O Senhor Valéry, Gonçalo Tavares
S/Z, Roland Barthes
Todos os livros de José Saramago
Todos os livros de Mia Couto
Todos os livros de Miguel Torga

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O Alienista, Machado de Assis (sugestão de Helena Frenzel)

______________________________________________

Obs.: Não esqueça: Esta é uma indicação pessoal, que contém alguns livros e por isso nunca deixe de ler aquilo que você gosta de ler. Aliás, mande um e-mail para nós, com seus livros preferidos, que vamos aumentando nossa lista.
Boa leitura !

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

(Re) Pensar a Educação

Se pegarmos os verbos, perceberemos que todos nos levam a uma ação, da mesma forma que alguns da primeira conjugação remetem-nos para a idéia de realizações como: educar, ensinar, caminhar, sonhar. Mas ensinar, sonhar o quê? educar, caminhar para onde? Talvez, as locuções adverbiais de lugar, tempo e modo nos digam para onde, como e quando. Métodos de um aprender cercado de explicações científicas, mas que esquecem o significado dos valores simples da vida.
À lembrança da explicação gramatical somada à outra lembrança, desta vez socrática, leva-nos a refletir sobre o ato de ensinar. Educação vem do latim educare e educere, o primeiro conduz o indivíduo de um ponto ao outro; o segundo tira para fora as habilidades desses indivíduos. Logo, E-ducação é o ato de inserir o sujeito ao mundo com suas habilidades, conceito este explicado tão bem na maiêutica de Sócrates e retratado por Platão no diálogo de Mênon.
Quiçá, o entendimento à complexidade da Educação esteja na simplicidade do verbo amar. Mas falar de amor, atualmente, parece algo fora de qualquer contexto, quando tal fato é mencionado as pessoas se olham, se “cutucam”, comentam, como se isto fosse um fato distante e fora da inerência natural do homem.
A Pedagogia do Amor é tão complexa que somente pode ser descrita e entendida na simplicidade do próprio ato de ensinar de forma apaixonada. Paulo Freire dizia que os olhos dos professores apaixonados brilham quando diante de uma explicação percebem, no sorriso do aluno, que ele entendeu o que o próprio professor não esperava explicar e que escola é gente, o diretor é gente, o professor é gente, o aluno é gente, a faxineira é gente, somos gente é nada mais natural que amar a toda a gente. A educação somente fará sentido se a docência respeitar ao discente, tornando o ato de educar, um ato decente.
Os valores sociais mudaram e com isto nossa forma de educar e encaminhar parecem ter tomado o rumo complicado da vida.
Chegamos a um ponto que o verbo E-DUCAR virou um verbo de consumo, mas não consumo de trocas de saberes, de encaminhamentos e sim mercantilista.
A atual funcionabilidade do sistema educacional tornou-se um problema para a formação do indivíduo, na qual o ensino emergente e profissionalizante busca atender o mercado de trabalho, com objetivos imediatos e robotizados, fazendo com que homens esqueçam os valores fundamentais para sua vivência.
Em outro momento, poderíamos pensar que a demanda mercantilista de alunos-profissionais está atendendo suas próprias necessidades, mas até que ponto uma determinada profissão dá liberdade ao homem, em que eixo está a ligação da profissão que cada um adota e o que cada um, realmente, é?. E de que liberdade estamos falando? Será que a liberdade profissionalizante faz parte da autonomia de cada um ou ainda, será que esta autonomia é um fragmento das necessidades sociais consumistas e que retrata a falta de preparo para a vida, ou será que o encaminhamento para a vida não é ponto de reflexão dentro da educação?
Por vezes chegamos a pensar que estamos refletindo sozinhos e que esta solidão de pensamento faz com que cada vez nos sintamos mais fora do sistema. Todavia, não para abandonar as nossas certezas estruturadas em nossos valores, mas para acreditar cada dia mais que devemos ficar atentos às reais necessidades e às emergências que a vida apresenta.
Conforme Beck , estamos situados em uma era de (des) construção, uma era muito pobre, onde só há lugar para uma filosofia consumista, e a tal ameaçadora uniformidade de pensamento e ações tomou conta. A idéia desenfreada da oferta capitalista do século XIX parece (re) surgir com força total e novidades parecem correr o tempo, contrapondo-se ao percurso natural dos fatos. Todavia, Edgar Morin adverte-nos que nossa missão não é mais de ganhar o mundo, mas civilizá-lo. (MORIN, 2005: 05).