Quando pensei em escrever este artigo, muitas coisas passaram pela minha cabeça, entre elas o que significava, realmente, um artigo. Retomando os meus tempos da faculdade, lembro-me que na época precisávamos levar “às riscas” as normas que cadenciavam um bom artigo. Todavia, recordar e analisar o que seria um bom artigo fugiria do tema do próprio artigo, aqui, proposto por mim. E, pensando sobre o que isto, de verdade, significa, chego a perceber que nem mesmo o cadenciamento de um bom artigo faz a diferença. Explico.
Lendo sobre outros artigos, especialmente os de Literatura, chamaram-me a atenção alguns textos e entre eles encontrei um que falava sobre ser um leitor. O texto dava dicas de como gostar de ler e tinha o título assim: “Gosta de ler? O que fazer para gostar de ler?” Trazia, também, o índice comparativo de leituras feitas entre o Brasil e a Europa. E, das muitas dicas proveitosas que o jovem Joatam deixou para nós, o mesmo terminava a escrita dele assim: “Tudo é questão de como você encara as coisas e de iniciativa. Se você der o primeiro passo, com o tempo verá que a leitura sempre deveria ter feito parte da sua vida. Até mesmo estará exercitando o seu celebro, ficando assim mais ágil”.
De forma a exercitar o meu cérebro, quero complementar o artigo do jovem escritor (penso ser), não que o mesmo precise de complemento, mas na verdade juntar o saber dele com o meu, para que numa “complementação única” possamos fazer desta corrente de leitores algo forte e grande. Antes, quero falar da importância e louvar a preocupação dele em querer formar leitores e ele está certo,
“ tudo é questão de como você encara as coisas”.
Entendo, que tudo está na frase dele e nós, enquanto professores, neste caso de Literatura, seja o continente que estejamos, precisamos como dizia a velha letra, “estar onde o povo está”. E, questiono-me, onde está o nosso aluno? Na sala de aula? Claro que isto é um facto ilusório, porque nosso aluno não está em sala de aula. Ele está no mundo dele que, actualmente, corresponde a todos os espaços alcançáveis dele, que correspondem as suas necessidades. Então, fico a pensar como ensinar Literatura se não tenho leitores ou alguém que esteja dentro da sala de aula, e quando digo que ele não está, refiro-me a não cumplicidade estabelecida entre o professor e o aluno porque, na verdade, ele está, mas somente de corpo, a alma habita o que realmente o alimenta. Nesta cadeia, fico a pensar também o que alimenta, hoje, o nosso aluno? E arrisco um palpite, porque já fui aluna; nosso aluno está lendo o que faz sentido para ele, somando o que faz a diferença, e que ingenuamente, pensamos não ser relevantes.
A literatura não pode ser encarada na escola básica, secundária e universitária, somente como matéria de estudos. Novas perspectivas metodológicas são necessárias para que a mesma mantenha, no ensino, a sua essência de criação. Quando reflectimos sobre os modos do ensino da literatura, ocorrem-nos sempre os problemas de ensinamentos dos textos literários. Obras fora de um contexto actual e longe da realidade estudantil.
Acredito, como professora de Literatura, que à medida que o caminho é percorrido pelo aluno via obras que o possam atrair, este fato torna-o leitor capaz de ler os clássicos ao longo da vida e preparado para acender a universidade. Creio também, que a leitura de obras “marginais” pode conduzir à leitura de obras consideradas literárias, fazendo leitores aptos ao reconhecimento da importância da Literatura e formadores de sim mesmos por meio da leitura. E, para tal o professor deve oferecer formas didáticas diferenciadas, como ler obras “marginais” que venham ao encontro do que os alunos gostem para que o mesmo sinta o desejo de ler. Isto significa que o mesmo pode apresentar predisposição para gostar da disciplina e por isso não se interessar por ela. Daí, a necessidade de implementar uma metodologia que busque ensinar a literatura de uma forma direccionada, afim de resgatar o leitor, caso contrário não teremos leitores, mas sim “leitores” para atingir as necessidades, somente curricular. Entende-se, com isso, que há uma ligação muito próxima entre a literatura e a formação do indivíduo, ultrapassando todo e qualquer parâmetro, somente, curricular, e isso se dará à medida que tivermos autênticos leitores; uma forma de chegar a formação literária pelo o que o nosso aluno gosta de ler, pelas obras marginais.
A literatura existe para adquirirmos cultura, conhecimento da nossa e das demais sociedades, sejam elas atuais ou passadas e para nos conhecermos, mas acima de tudo ela é uma arte. Desta forma, entendemos que a leitura literária não pode ser apenas imposta, ela deve sim, ser incentivada, pois, sempre que possível, dar liberdade de escolha. Indicar o que se deve ou se pode ler, não pode passar de um mero conselho. O aluno sabe o que gosta, quer ter direito de escolha, e ignorar sempre tal gosto é tirar o prazer da leitura. Ler algo que aguce sua curiosidade vale muito mais, de início, do que ler determinados autores que não contam da sua realidade, que não possuem a sua linguagem escolar, jovial de gírias, e acima de tudo fora de seu tempo. Acreditamos que à medida que o caminho é percorrido pelo aluno, via obras que o atraem, chegaremos a um aluno apto para o futuro universitário e para a vida. E o que nos faz apreciar as epopéias homéricas, a despeito de nada termos com os costumes e a religião dos gregos, do mesmo modo que nos apaixonamos pelo "Don Quixote", sem nos sentirmos presos às concepções sociais do mundo em que surgiu e a que visava mostrar e quiçá satirizar.
Nosso jovem leitor, como já citamos, está pronto, não é que ele não goste de ler, na verdade ele quer algo que fale sua língua e que estimule a sua imaginação. O tema pode ser do seu tempo e do seu espaço, desde que aguce a sua curiosidade.
O ofício do professor foi, por muito tempo, assimilado à aula magistral seguida de exercícios. Ouvir uma lição, repassar exercícios ou estudar livros, são formas de aprendizagem. Porém, considerar com insistência esses métodos como sendo únicos meios de aprendizagem é pretensioso. Sabe-se que somente aprendem verdadeiramente por meio dessa pedagogia, os “herdeiros”, aqueles que dispõem dos meios culturais para tirar proveito de uma formação que se dirige formalmente a todos, na ilusão de aqüidade, identificada nesse caso pela igualdade de tratamento. Isso parece evidente hoje. No entanto, foi necessário um século, opondo-lhe um modelo mais centrado nos aprendizes, suas representações, sua atividade, as situações concretas nas quais são mergulhados seus efeitos didáticos. Uma nova competência, a capacidade de organizar e de dirigir situações de aprendizagem faz-se necessária. Cada aluno, sem dúvida nenhuma, vivência à aula conforme seu humor, sua capacidade de concentração e tudo que lhe ligue ao mundo que o interessa no que aprendeu. E isso não se dá diferente na literatura. Dizer para nosso aluno que uma obra é boa ou ruim seria o mesmo que pautar o que ele deve ler, como que mostrá-lo o caminho. Porém, para leitura não há caminho, ela dar-se-á espontaneamente, subjetivamente. E se nosso aluno quer ler, ele precisa ler aquilo que interessa.
Poderia dizer-se que estamos falhando na tarefa de ensinar, que estamos deixando espaço demasiado para o ensinamento. Entretanto, para ensinarmos literatura precisamos de leitores e eles precisam começar por algum campo alcançável, logo, nada mais justo que comecem pelo campo que gostam e assim, conseqüentemente, passarão a gostar das demais obras, porque agora já são leitores.
A escola seja ela básica, secundária ou mesmo universitária, deve estar atenta, pois para se fazer leitores é necessário respeitar gostos e idades. Há que apresentar ao aluno variedade de leituras para que ele venha e encontre-se num livro.
Logo, a metodologia para um artigo, nem faz diferença. E como diz o nosso escritor: "tudo está na forma como a gente encara as coisas...se você der o primeiro passo".