segunda-feira, 26 de abril de 2010

José Saramago e a Leitura

José Saramago e algumas dicas importantes à formação de leitores:


Estímulo à leitura
José Saramago, Prêmio Nobel da Literatura, diz que "o estímulo à leitura é uma coisa estranha, não deveria ter que haver outro estímulo além da necessidade de um instrumento que permita conhecer", opinou. "As coisas vão mal quando é preciso estimular. Ninguém precisa de estímulos para se entusiasmar com o futebol", disse, lembrando que por trás do esporte há uma "operação de propaganda fabulosa".



Educação
Saramago afirma ainda que atualmente se confunde a "instrução", ligada ao conhecimento, com a "educação", ligada aos valores. "Onde está a educação na escola em que os professores são agredidos, humilhados, desprezados", questionou, dizendo que eles "são os heróis do nosso tempo". No entanto, lembra que há "professores incompetentes", que trabalham "sem vocação". E fez uma recomendação: a leitura em voz alta deve ser encorajada na sala de aula.


Gramática
O Nobel da Literatura também criticou a linha de ensino que prega que a correção ortográfica não é importante. "Qualquer operário sabe que tem que ter suas ferramentas limpas e em condições de serem usadas. A língua é a ferramenta por excelência".



*Fontes preservadas pelo blog.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

O Prazer do Texto
Por Rubem Alves


"(...) Toda aprendizagem começa com um pedido. Se não houver o pedido, a aprendizagem não acontecerá. Há aquele velho ditado: “É fácil levar a égua até o meio do ribeirão. O difícil é convencer a égua a beber“. Traduzido pela Adélia Prado: “Não quero faca nem queijo. Quero é fome“. Metáfora para o professor: cozinheiro, Babette, que serve o aperitivo para que a criança tenha fome e deseje comer o texto...
Onde se encontra o prazer do texto? Onde se encontra o seu poder de seduzir? Tive a resposta para essa questão acidentalmente, sem que a tivesse procurado. Ele me disse que havia lido um lindo poema de Fernando Pessoa, e citou a primeira frase. Fiquei feliz porque eu também amava aquele poema. Aí ele começou a lê-lo. Estremeci. O poema – aquele poema que eu amava – estava horrível na sua leitura. As palavras que ele lia eram as palavras certas. Mas alguma coisa estava errada! A música estava errada! Todo texto tem dois elementos: as palavras, com o seu significado. E a música... Percebi, então, que todo texto literário se assemelha à música. Uma sonata de Mozart, por exemplo. A sua “letra“ está gravada no papel: as notas. Mas assim, escrita no papel, a sonata não existe como experiência estética. Está morta. É preciso que um intérprete dê vida às notas mortas. Martha Argerich, pianista suprema (sua interpretação do concerto n. 3 de Rachmaninoff me convenceu da superioridade das mulheres...) as toca: seus dedos deslizam leves, rápidos, vigorosos, vagarosos, suaves, nenhum deslize, nenhum tropeção: estamos possuídos pela beleza. A mesma partitura, as mesmas notas, nas mãos de um pianeiro: o toque é duro, sem leveza, tropeções, hesitações, esbarros, erros: é o horror, o desejo que o fim chegue logo.
Todo texto literário é uma partitura musical. As palavras são as notas. Se aquele que lê é um artista, se ele domina a técnica, se ele surfa sobre as palavras, se ele está possuído pelo texto – a beleza acontece. E o texto se apossa do corpo de quem ouve. Mas se aquele que lê não domina a técnica, se ele luta com as palavras, se ele não desliza sobre elas – a leitura não produz prazer:queremos que ela termine logo. Assim, quem ensina a ler, isto é, aquele que lê para que seus alunos tenham prazer no texto, tem de ser um artista. Só deveria ler aquele que está possuído pelo texto que lê. Por isso eu acho que deveria ser estabelecida em nossas escolas a prática de “concertos de leitura“. Se há concertos de música erudita, jazz e MPB – por que não concertos de leitura? Ouvindo, os alunos experimentarão os prazeres do ler. E acontecerá com a leitura o mesmo que acontece com a música: depois de ser picado pela sua beleza é impossível esquecer. Leitura é droga perigosa: vicia... Se os jovens não gostam de ler, a culpa não é deles. Foram forçados a aprender tantas coisas sobre os textos - gramática, usos da partícula “se“, dígrafos, encontros consonantais, análise sintática –que não houve tempo para serem iniciados na única coisa que importa: a beleza musical do texto literário: foi-lhes ensinada a anatomia morta do texto e não a sua erótica viva. Ler é fazer amor com as palavras. E essa transa literária se inicia antes que as crianças saibam os nomes das letras. Sem saber ler elas já são sensíveis à beleza. E a missão do professor? Mestre do kama-sutra da leitura...



APERITIVOS
1.“Analfabeta não é a pessoa que não sabe ler. É a pessoa que, sabendo ler, não gosta de ler.“ (Quem foi que disse isso? Acho que foi o Mário Quintana).
2.A menininha de 9 anos me explicou como as crianças na sua escola aprendiam a ler: “Aqui na Escola da Ponte não aprendemos letras e silabas. Só aprendemos totalidades...“
3.Os compositores colocam em suas partituras indicações para orientar o intérprete: lento, presto, adagio, alegretto, forte, piano, ralentando. Os escritores deveriam fazer o mesmo com seus textos. Há textos que devem ser lidos lentamente, expressivamente, tristemente. Outros que exigem leveza, rapidez, riso. O leitor experiente não precisa dessas indicações. Mas elas poderiam ajudar os principiantes.
4. “Mais valem dois marimbondos voando que um na mão“ (Almanak do Aluá).
5. Graciliano Ramos relata que, quando menino, na escola lhe ensinaram um ditado: “Fale pouco e bem e ter-te-ão por alguém“. Ele repetia o ditado mas ficava com uma dúvida: “Quem será esse ‘Tertião’?“
(Correio Popular, Caderno C, 19/07/2001.) ".

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Literatura, Literacia e Formação de Leitores

*__
Segundo Benavente, a priori tínhamos a alfabetização como método de acesso do homem com o mundo, todos deveriam saber ler e escrever para estarem inseridos na sociedade, caso não soubessem eram considerados excluídos. Com o passar do tempo e com os primeiros estudos realizados nos Estados Unidos da América, verificou-se que os indivíduos, mesmo alfabetizados, não conseguiam fazer uso deste aprendizado para o dia a dia de suas vidas. Foi então que nasceu a versão da nova alfabetização, ficando esta com a capacidade de domínio destas práticas aprendidas, como ler, escrever e fazer calculos.
No estudo que realizou sobre Literacias em Portugal, Benavente constatou, dentro de um grupo específico sobre periodicidade e tipos de leituras, que a leitura dos livros anda distante , da mesma forma que os tipos de leituras estão longe das obras literárias. A autora diz-nos:

“(…) A leitura de livros é rara dentro do grupo (apenas três jovens a indicam como forma de ocupar os tempos livres), sendo em geral restrita à banda desenhada (…)” (BENAVENTE, 1996: 260-262)

Portugal ocupa o segundo lugar dentro do Continente Europeu de não fazer uso do hábito da leitura. Ao quererem atribuir este fato aos preços dos livros, em entrevista a Rádio Notícias TSF , na época o atual presidente da APEL Rui Beja diz com relação aos preços dos livros que estes estão ligados a demanda de tiragem em cada país, ou seja, quanto maior a tiragem teremos uma queda no preço da obra e que consequentemente os altos preços em Portugal estão ligados diretamente aos níveis de literacias e aos hábitos de leituras no país.
Fato este já percebido e anunciado anteriormente pela escritora Isabel Alçada, que alertava para necessidade de se criar métodos para o desenvolvimento afetivo de leitores com os livros:

“(…) é preciso criar o hábito da leitura (…)”. (ALÇADA, 2007)

Segundo Becker, o professor deve oferecer formas didácticas diferenciadas, que venham ao encontro do que os alunos gostem para que os mesmos sintam o desejo de ler. Na maioria dos casos, os alunos apresentam predisposição para não gostar da disciplina de literatura justamente porque a soma do conteúdo literário estudado em sala de aula, geralmente, como já citamos, com uma escrita requintada para as necessidades sociais de época, mas que para o contexto atual, faz-se completamente fora de sentido e desatualizada dentro da vida do aluno do século XXI e somada a metodologia aplicada fazem com que o aluno tenha uma predisposição a não se interessar pela disciplina.
Daí, a necessidade de implementar uma metodologia que busque ensinar a literatura de uma forma direccionada, afim de resgatar o leitor. Caso contrário, não teremos leitores, mas sim “leitores” para atingir as necessidades, somente curriculares. Entende-se, com isso, que há uma ligação muito próxima entre a literatura e a formação do indivíduo, ultrapassando todo e qualquer parâmetro, somente, curricular, e isso se dará à medida que tivermos autênticos leitores; uma forma de chegar à formação literária pelo o que o nosso aluno gosta de ler. (BECKER, 2005:43).
Uma opção que nos parece plausível, aplica-se a partir da prioridade que devemos ter sobre todo esse entendimento de mudanças que as sociedades atravessaram e entendermos que diante de nós está um aluno do século XXI e não dos séculos passados, o qual se utiliza de uma linguagem totalmente diferenciada dos textos que precisam estudar. E para, além disso, são leitores de tempo algum, a não ser do que lhes interessa.
Inúmeras são as possibilidades de inserção da Literatura Marginal dentro da sala de aula, podemos começar por formar leitores para podermos ensinar a literatura a partir das obras que nossos alunos gostam de ler, que nos parece a mais justa. Quando refletimos a respeito de não termos leitores ou quando nossa reflexão passa para o abandono escolar, sempre nos vem à mente a idéia que estas perdas estão relacionadas ao fato de que a escola não respeita as diversidades culturais existentes dentro dela, da mesma forma que pretende impor seus valores, via suas metodologias.
____________*Leitura no Domaine de Nerige, s/d; Alex Russell Flint ( Reino Unido)
óleo sobre tela

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Quando o Aluno NÃO Lê
Para Professores e Pais


O Projeto Livro Aberto tem algumas dicas para quando o aluno NÃO lê, são elas:


*Ame o que faz;
*Procure perceber e entender o(s) motivo(s)pelo qual o aluno Não lê;
*Leia, o exemplo é muito mais educativo do que mil palavras;
*Nunca troque o que será lido por pontos na média;
*Tenha um olhar individual sobre a turma;
*Não faça da Literatura uma ferramenta para passar nos Exames Nacionais/Vestibular;

A partir daí:


*Faça da leitura um prazer;

*Mostre a importância que o aluno tem para você;

*Valorize a produção do aluno e as leituras que ele JÁ faz;

*Mostre que está possuído pelo texto que você ensina;

*Torne o texto um atrativo;

*Faça do texto um contexto;

*Do texto e contexto atual, interaja esse texto com a vida do aluno;

*Mostre e viva a riqueza da intertextualização;

*Transforme o texto em um cenário;

*Busque recursos para as leituras (criatividade, interação,
imaginação,tecnologias, cenários, figurinos etc);

*Que tal o professor ser o próprio escritor em estudo?;

*Junte as artes da escrita (Literatura), do movimento (Dança) e da dramatização (Teatro);

*Leia em voz alta para o seu aluno;

*Transforme sua sala de aula em um momento mágico de leitura;

*Mostre ao seu aluno a importância da Literatura na formação do Indivíduo;


*E nunca deixe para depois o que pode ser lido hoje. Porque a maior frustação que um aluno pode ter é quando ele chega para o professor, fala sobre o que está lendo e o professor diz: "Podemos ver isso amanhã?"