quarta-feira, 17 de novembro de 2010

O Professor e a Literatura


"E continuou dizendo: "Ditosa idade e século ditoso, aquele em que hão de sair à luz as minhas famigeradas façanhas dignas de gravar-se em bronze, esculpir-se em mármores, e pintar-se em painéis para lembrança de todas as idades! Ó tu, sábio encantador, quem quer que sejas, a quem há de tocar ser o cronista desta história, peço-te que te não esqueças do meu bom Rocinante, meu eterno companheiro em todos os caminhos e carreiras"
(Dom Quixote de La Mancha).



Analisando o papel do professor de literatura, em outros tempos tínhamos a idéia de que deveria ser o professor a fornecer indicações de livros, assim como ensinar o percurso da literatura feito pelos escritores ao longo dos tempos. É uma forma de aprendizagem, bem verdade, mas não é a única e nem deve ser mais a única, porque o uso de tais práticas tem distanciado o aluno das obras literárias e se é uma (des) construção de aprendizagem não combina com E- DUCAÇÃO, porque e-ducação é antes de tudo formar o homem no todo, considerando seu passado, presente e o seu futuro. Afinal, a idéia de ter à frente um professor que repassa conteúdos, com objetivos específicos, atendendo à demanda mercantilista, é um ato consciente, no mínimo, devastador para a formação do aluno enquanto leitor e na sua formação de SER humano.

A utópica idéia de mudar o mundo, por meio da leitura, não pode ser concretizada se não começar por um número pequeno de participantes, entretanto, seletos, pois estão em formação humana dentro do ciclo da vida. E esse número reduzido de participantes deverá ser incentivado a começar no seu espaço físico alcançável, numa projeção futura para o mundo e, no mínimo com resultados para seu mundo, que conseqüentemente agirá sobre os demais. E assim, sucessivamente, a engrenagem de mudança começar a andar. Uma ação comunitária benéfica para todos.

A literatura é uma arte e como toda arte nasce da ação criativa de imaginar, inserir e retratar o ser humano, da mesma forma que coexiste na aprendizagem para adquirirmos cultura, conhecimento da nossa e das demais sociedades, sejam elas atuais ou passadas e para nos conhecermos a nós próprios, mas acima de tudo ela é uma arte bem como lembra-nos Umberto Eco quando diz:
“As obras literárias convidam-nos à liberdade de interpretação porque nos propõem um discurso a partir dos inúmeros planos de leitura e nos colocam perante as ambigüidades da linguagem e da vida de uma forma única e mágica”. (ECO, 2003:9-23).

Uma opção que nos parece plausível e justa, aplica-se a partir da prioridade que devemos ter sobre todo esse entendimento de mudanças que as sociedades atravessaram e entendermos que diante de nós está um aluno do século XXI e não dos séculos passados, o qual se utiliza de uma linguagem totalmente diferenciada dos textos que precisam estudar. E para, além disso, são leitores de tempo algum, a não ser do que lhes interessa.

Nosso olhar não é ingênuo e é claro que o papel do professor para além de ser um formador de opiniões, é o de mediador, atuando como um “filtro” para escolha do material a ser trabalhado. Logo, vai estar inserido em seu, digamos, “filtro” o nosso próprio contexto histórico-social-cultural que tem sua nascente, desde muito recente e resumidamente, em sua formação acadêmica.

Esta fusão de ambos contextos, de professor e aluno, deve ter como prioridade não excluir o que nosso aluno gosta de ler diariamente, mas selecionar este material e a partir dele aplicar métodos para se chegar às obras literárias.

Não queremos dizer com isto que o nosso aluno não deva conhecer a literatura e seus autores, bem pelo contrário, é por sentirmos esta necessidade que queremos deixar claro que a inserção da obra marginal é justamente a Literacia que entendemos para formar leitores proficientes para leituras das obras consideradas literárias e que esta leitura seja explorada e transformada em uma ação real para suas vidas.