segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Sir Ken Robinson, a Educação e a Criatividade

Ilustração de Nicolas Delgado*

Assistindo ao vídeo do Sir Ken a respeito da Educação, titulado Do Schools Destroy Creativity?, conseguimos perceber, entre muitos aspectos, o uso do tema proposto, ou seja, a própria criatividade para se mostrar criativo. É como se na prática Sir Robinson fizesse uso das ferramentas que diz serem necessárias à Educação atual. E, de forma criativa, vem-nos falar de um tema muito antigo dentro da Educação que se trata das abordagens sobre as metodologias educacionais ao longo de nossas vidas.
Analisando um pouco acerca da vida do Senhor Robinson, temos diante de nós um homem portador de uma deficiência física. Talvez, tenha partido daí a sensível atitude contrária da expressão “educar da cintura para cima”, um PhD em Educação, que teve sua carreira inicial voltada para as artes e que mais tarde, em 2003, recebeu o título de cavaleiro da rainha Elizabeth II por seus serviços prestados às artes, e que defende a idéia que devemos “preparar nossos alunos para errar, pois somente assim eles terão uma idéia original, mas que estar errado não é a mesma coisa de ser criativo”.
Voltando um pouco às metodologias educacionais, usamos a citação do palestrante,“(…) Educar em todo o seu ser(…)” que vai ao encontro de toda abordagem educacional desde o último século e ganha uma ressalva, ampla e mais clara, no século atual, mas que na prática não se tem aplicado o tanto que se tem explorado sobre essas metodologias de ensinar, “no todo”, o ser humano. Sir Robinson traz, como um dos exemplos em sua palestra, uma referência a William Shakespeare, mencionando que o dramaturgo deveria se sentir irritado com atitudes educacionais que fugiam das suas práticas artísticas. A fim de comprovar a afirmação de Robinson, talvez esteja o fato que William Shakespeare nunca tivesse frequentado estudos sistemáticos e por tal motivo o mesmo escritor em sua comédia Love’s labour’s lost encenava o personagem Holofernes, satirizando os mestres-escolas em geral. Principalmente, aqueles a quem lembrava da sua cidadezinha natal de Strantford-on-Avon, porque Shakespeare sabia, mais do que ninguém, que toda vocação nata do ser humano era camuflada pela necessidade do sistema educacional da época. E se William fosse vivo atualmente, não seria diferente, imaginamos que seria muito pior.
O pensamento shakesperiano, de satirizar os professores com seus métodos para ensinar, dá-nos uma idéia da longevidade do quanto o tema vem se mostrando fora do contexto dos alunos e que somente os alunos mais audaciosos tomam por liberdade a escolha de encontrar seus talentos naturais que vão atender às suas paixões pessoais, como bem cita Sir Robinson em seu último livro, The Element.
Uma idéia correlacional que nos ocorre ao assistir o vídeo de Sir Ken é, justamente, aquela do professor de literatura, no filme Sociedade dos Poetas Mortos, interpretado por Robin Williams, no qual o professor protagonista, para além dos ensinamentos da disciplina, tenta desempenhar um papel incentivador diante dos dons percebidos em seus alunos, passando grande parte do filme sussurrando aos ouvidos dos mesmos: “Carpe Diem”, expressão encontrada no poema titulado “Odes”, de Horácio, que significa “atribuir o nosso tempo as coisas úteis, aquilo que realmente vai fazer diferença em nossas vidas, colhendo o instante, sem confiar no amanhã, porque a vida é breve” e que como cena final tem a subida de alguns alunos à mesa para fazer uma alusão às diferenças dos homens que serão com aqueles que ficaram sentados.
Trazendo para um exemplo mais próximo, geograficamente falando, outra idéia paralela ao que Sir Robinson diz-nos está ligada à Escola da Ponte, aqui em Portugal, a qual quem conhece fica, no mínimo, impressionado. Alunos que explicam, com atos, porque tudo lá é diferente. E é mesmo diferente. Aprendem o conteúdo por meio de dispositivos, ou seja, um aluno ajudando o outro.
Se pudesse dar um nome, daria de uma corrente do aprender, ou uma bola de neve de conhecimentos. Porque André, de nove anos, explicou-me que a matemática ele aprende pesquisando, tirando dúvidas com os colegas mais velhos e quando está pronto, digo, preparado, pensando que está apto ao conteúdo, ele lança no dispositivo que está pronto para fazer a avaliação. Resumidamente, é o André quem determina o momento de responder por aquilo que aprendeu.
Na parte superior da escola podemos encontrar a arte, na concretização da palavra, alunos pintando, confeccionando ao som de Bach, sim! Johann Sebastian Bach.
Quiçá, a realidade mostrada por Shakespeare, Robin Williams, Sir Robison e muitos outros, sejam as mesmas de um sistema educacional secular falho que leva em consideração, entre outros fatores, “a religião, o dinheiro e essas coisinhas”, de certa forma ensinadas para não dar uma importância maior à criatividade. Afinal, de que nos servirão dançarinos, pintores, escritores, artistas diversos ou não se não sabemos ensinar-lhes o uso de seus dons para a prosperidade de suas vidas e das demais? Mais certo seria, então, ensinar tudo que já temos por aí, que há séculos ditam os moldes educacionais de formação e que não requerem mudanças, justamente porque o ato de mudar significa ter de mexer no pensar e esse ato dá trabalho.
A grande jogada, se podemos chamar assim, de Sir Robinson é fazer uso da própria criatividade para se mostrar criativo dentro da arte de ensinar. E para além disso, mostrar que o homem quando foge das suas aptidões natas, torna-se apenas mais um.
Será que somos apenas mais um professor ou vamos nos mexer para pensar?
Assistam ao vídeo, vale a pena !

* Máscaras de Nicolas Delgado, pintor e dramaturgo.

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