sexta-feira, 26 de junho de 2009

Da Literatura e Da Vida

Quando pensei em escrever este artigo, muitas coisas passaram pela minha cabeça, entre elas o que significava, realmente, um artigo. Retomando os meus tempos da faculdade, lembro-me que na época precisávamos levar “às riscas” as normas que cadenciavam um bom artigo. Todavia, recordar e analisar o que seria um bom artigo fugiria do tema do próprio artigo, aqui, proposto por mim. E, pensando sobre o que isto, de verdade, significa, chego a perceber que nem mesmo o cadenciamento de um bom artigo faz a diferença. Explico.
Lendo sobre outros artigos, especialmente os de Literatura, chamaram-me a atenção alguns textos e entre eles encontrei um que falava sobre ser um leitor. O texto dava dicas de como gostar de ler e tinha o título assim: “Gosta de ler? O que fazer para gostar de ler?” Trazia, também, o índice comparativo de leituras feitas entre o Brasil e a Europa. E, das muitas dicas proveitosas que o jovem Joatam deixou para nós, o mesmo terminava a escrita dele assim: “Tudo é questão de como você encara as coisas e de iniciativa. Se você der o primeiro passo, com o tempo verá que a leitura sempre deveria ter feito parte da sua vida. Até mesmo estará exercitando o seu celebro, ficando assim mais ágil”.
De forma a exercitar o meu cérebro, quero complementar o artigo do jovem escritor (penso ser), não que o mesmo precise de complemento, mas na verdade juntar o saber dele com o meu, para que numa “complementação única” possamos fazer desta corrente de leitores algo forte e grande. Antes, quero falar da importância e louvar a preocupação dele em querer formar leitores e ele está certo,

“ tudo é questão de como você encara as coisas”.

Entendo, que tudo está na frase dele e nós, enquanto professores, neste caso de Literatura, seja o continente que estejamos, precisamos como dizia a velha letra, “estar onde o povo está”. E, questiono-me, onde está o nosso aluno? Na sala de aula? Claro que isto é um facto ilusório, porque nosso aluno não está em sala de aula. Ele está no mundo dele que, actualmente, corresponde a todos os espaços alcançáveis dele, que correspondem as suas necessidades. Então, fico a pensar como ensinar Literatura se não tenho leitores ou alguém que esteja dentro da sala de aula, e quando digo que ele não está, refiro-me a não cumplicidade estabelecida entre o professor e o aluno porque, na verdade, ele está, mas somente de corpo, a alma habita o que realmente o alimenta. Nesta cadeia, fico a pensar também o que alimenta, hoje, o nosso aluno? E arrisco um palpite, porque já fui aluna; nosso aluno está lendo o que faz sentido para ele, somando o que faz a diferença, e que ingenuamente, pensamos não ser relevantes.
A literatura não pode ser encarada na escola básica, secundária e universitária, somente como matéria de estudos. Novas perspectivas metodológicas são necessárias para que a mesma mantenha, no ensino, a sua essência de criação. Quando reflectimos sobre os modos do ensino da literatura, ocorrem-nos sempre os problemas de ensinamentos dos textos literários. Obras fora de um contexto actual e longe da realidade estudantil.
Acredito, como professora de Literatura, que à medida que o caminho é percorrido pelo aluno via obras que o possam atrair, este fato torna-o leitor capaz de ler os clássicos ao longo da vida e preparado para acender a universidade. Creio também, que a leitura de obras “marginais” pode conduzir à leitura de obras consideradas literárias, fazendo leitores aptos ao reconhecimento da importância da Literatura e formadores de sim mesmos por meio da leitura. E, para tal o professor deve oferecer formas didáticas diferenciadas, como ler obras “marginais” que venham ao encontro do que os alunos gostem para que o mesmo sinta o desejo de ler. Isto significa que o mesmo pode apresentar predisposição para gostar da disciplina e por isso não se interessar por ela. Daí, a necessidade de implementar uma metodologia que busque ensinar a literatura de uma forma direccionada, afim de resgatar o leitor, caso contrário não teremos leitores, mas sim “leitores” para atingir as necessidades, somente curricular. Entende-se, com isso, que há uma ligação muito próxima entre a literatura e a formação do indivíduo, ultrapassando todo e qualquer parâmetro, somente, curricular, e isso se dará à medida que tivermos autênticos leitores; uma forma de chegar a formação literária pelo o que o nosso aluno gosta de ler, pelas obras marginais.
A literatura existe para adquirirmos cultura, conhecimento da nossa e das demais sociedades, sejam elas atuais ou passadas e para nos conhecermos, mas acima de tudo ela é uma arte. Desta forma, entendemos que a leitura literária não pode ser apenas imposta, ela deve sim, ser incentivada, pois, sempre que possível, dar liberdade de escolha. Indicar o que se deve ou se pode ler, não pode passar de um mero conselho. O aluno sabe o que gosta, quer ter direito de escolha, e ignorar sempre tal gosto é tirar o prazer da leitura. Ler algo que aguce sua curiosidade vale muito mais, de início, do que ler determinados autores que não contam da sua realidade, que não possuem a sua linguagem escolar, jovial de gírias, e acima de tudo fora de seu tempo. Acreditamos que à medida que o caminho é percorrido pelo aluno, via obras que o atraem, chegaremos a um aluno apto para o futuro universitário e para a vida. E o que nos faz apreciar as epopéias homéricas, a despeito de nada termos com os costumes e a religião dos gregos, do mesmo modo que nos apaixonamos pelo "Don Quixote", sem nos sentirmos presos às concepções sociais do mundo em que surgiu e a que visava mostrar e quiçá satirizar.
Nosso jovem leitor, como já citamos, está pronto, não é que ele não goste de ler, na verdade ele quer algo que fale sua língua e que estimule a sua imaginação. O tema pode ser do seu tempo e do seu espaço, desde que aguce a sua curiosidade.
O ofício do professor foi, por muito tempo, assimilado à aula magistral seguida de exercícios. Ouvir uma lição, repassar exercícios ou estudar livros, são formas de aprendizagem. Porém, considerar com insistência esses métodos como sendo únicos meios de aprendizagem é pretensioso. Sabe-se que somente aprendem verdadeiramente por meio dessa pedagogia, os “herdeiros”, aqueles que dispõem dos meios culturais para tirar proveito de uma formação que se dirige formalmente a todos, na ilusão de aqüidade, identificada nesse caso pela igualdade de tratamento. Isso parece evidente hoje. No entanto, foi necessário um século, opondo-lhe um modelo mais centrado nos aprendizes, suas representações, sua atividade, as situações concretas nas quais são mergulhados seus efeitos didáticos. Uma nova competência, a capacidade de organizar e de dirigir situações de aprendizagem faz-se necessária. Cada aluno, sem dúvida nenhuma, vivência à aula conforme seu humor, sua capacidade de concentração e tudo que lhe ligue ao mundo que o interessa no que aprendeu. E isso não se dá diferente na literatura. Dizer para nosso aluno que uma obra é boa ou ruim seria o mesmo que pautar o que ele deve ler, como que mostrá-lo o caminho. Porém, para leitura não há caminho, ela dar-se-á espontaneamente, subjetivamente. E se nosso aluno quer ler, ele precisa ler aquilo que interessa.
Poderia dizer-se que estamos falhando na tarefa de ensinar, que estamos deixando espaço demasiado para o ensinamento. Entretanto, para ensinarmos literatura precisamos de leitores e eles precisam começar por algum campo alcançável, logo, nada mais justo que comecem pelo campo que gostam e assim, conseqüentemente, passarão a gostar das demais obras, porque agora já são leitores.
A escola seja ela básica, secundária ou mesmo universitária, deve estar atenta, pois para se fazer leitores é necessário respeitar gostos e idades. Há que apresentar ao aluno variedade de leituras para que ele venha e encontre-se num livro.
Logo, a metodologia para um artigo, nem faz diferença. E como diz o nosso escritor: "tudo está na forma como a gente encara as coisas...se você der o primeiro passo".

2 comentários:

  1. O que pode uma simples mortal, que atende pelo apelido de TT..comentar?? Dizer que gostei é muito pouco,eu amei!! Parabéns minha amiga, Da vida... Da literatura..Da música...Da madrugada...e daí??

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  2. Gis, estou me deliciando com seu blog, de verdade! tanto que, já estou sentindo aquela "comichão" na ponta dos dedos, crescendo uma vontade “retada” de escrever algo sobre nosso derradeiro encontro...como não gostaria de ser invasiva na sua vida privada, lhe peço autorização, nobre “colhegua” blogueira, para postar no meu blog o meu relato. Aguardo seu pronunciamento!
    Bjs

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