quarta-feira, 11 de novembro de 2009

A Escrita - Um Ato Sentido

Criada e desenvolvida pelas sociedades ao longo do tempo, a escrita representa a forma comunicativa verbal ou não verbal. Esse processo tecnológico de comunicação é a representaçao de idéias ou palavras.
Dentro da comunicação humana o ato de escrever está assegurado via a troca de informações entre duas ou mais pessoas, na qual o emissor e o receptador conseguem construir uma ponte entre diversos assuntos e com isso crescerem à medida que vão se comunicando.
O crescimento humano dentro da comunicação, via escrita, gera muitas polêmicas porque nem sempre quem lê concorda com aquilo que lê e isso não se dá em diferentes processos de comunicação. Todavia, é na troca dessa informação que dá o crescimento humano.
Poderíamos ficar meses escrevendo sobre a comunicação humana, sobre a linguística anos a fio, mas antes de ficar escrevendo sobre a linguística.
Resumidamente, a linguística é a ciência que estuda a linguagem, Portanto, a função de um linguista é estudar toda e qualquer manifestação linguística como um fato merecedor de descrição e explicação dentro de um quadro científico adequado. Nessa ciência temos as principais observações que nos auxiliam, por exemplo, na hora da escrita:

Fonética, o estudo dos diferentes sons empregados em linguagem;
Fonologia, o estudo dos padrões dos sons básicos de uma língua;
Morfologia, o estudo da estrutura interna das palavras;
Sintaxe, o estudo de como a linguagem combina palavras para formar frases gramaticais.
Semântica, podendo ser, por exemplo, formal ou lexical, o estudo dos sentidos das frases e das palavras que a integram;
Lexicologia, o estudo do conjunto das palavras de um idioma, ramo de estudo que contribui para a lexicografia, área de atuação dedicada à elaboração de dicionários, enciclopédias e outras obras que descrevem o uso ou o sentido do léxico;
Terminologia, estudo que se dedicada ao conhecimento e análise dos léxicos especializados das ciências e das técnicas;
Estilística, o estudo do estilo na linguagem;
Pragmática, o estudo de como as oralizações são usadas (literalmente, figurativamente ou de quaisquer outras maneiras) nos atos comunicativos;
Filologia é o estudo dos textos e das linguagens antigas.
Seguindo o raciocínio, se consigo me comunicar, via sinais ou não, se sou sabedora de todos os conhecimentos da linguística, eu sei escrever?
A resposta é NÃO!
Este artigo sobre o ato de escrever nasceu de resposta a uma afirmação que li esses dias de um senhor que em resposta a outro artigo meu titulado "Para os Que Gostam de Escrever Corretamente III (última)", na verdade foram três dicas que dei para auxiliar o ato da escrita e esse artigo era o último, no qual eu afirmava que escrever é um ato Divino e de Dom e se esse ato fosse aprimorado, melhor seria. Pois bem, recebi desse senhor, de forma muito carinhosa entre outras observações, a seguinte: “Querida Gislaine! Concordo com você, quando diz que devemos ler pelo menos sessenta minutos por dia, para que com o tempo passemos a escrever bem,mas dizer que escrever bem é um dom, discordo plenamente. O ato de escrever é apenas um processo sistemático de leitura e muita práticidade. Só isso!” (Elizeu Paulino Pinto).
Bem, fiquei a pensar no comentário dele, que muito agradeço a todos que comentam sempre meus artigos, mas ele me fez pensar de uma forma diferente, entre tantos pensares. Porque sei que o ato de escrever não é um processo sistemático de leitura e de prática. E asseguro que por mais que todos detenham o conhecimento isso não garante a escrita, digo, a boa escrita. Para além disso, fiquei a pensar o que levou esse senhor a pensar isso. Sim! Porque a afirmação dele é muito mais complexa que uma simples afirmação ou opinião.
Trabalho no Projeto Livro Aberto, de minha autoria, há quase dez anos. Hoje, é objeto de estudo em meu doutoramento e esse projeto, em suma, forma leitores e/ou resgata aqueles que perderam a vontade de ler. E nessa minha experiência como professora de Literatura e Lingua Portuguesa, confesso que nunca formei um escritor, porque ser escritor não é treino de literatura e muito menos de gramática. Esse assunto dá pano para muitas mangas, mas vou explicar.
Dentro do processo aprendizagem, no qual o meu projeto é alicerçado, sempre tive consciência que se tivessemos bons leitores, estaríamos formando para vida indivíduos que além de possuirem sua opinião, estariam, via leitura, agregando outras opiniões, conhecimentos do outro e de si e com isso formando e se formando. Sempre entendi e tive como objeto de pesquisa e de experiência, resgatar ou formar o leitor, fato esse que somado pela utópica ideia de mudar o mundo, por meio da leitura, e sempre defendi que não poderíamos fazer disso um ato concreto, se não começassemos por um número pequeno de participantes, entretanto, seletos e respeitados nas suas opções literárias, pois estariam em formação humana dentro do ciclo da vida. Quando me refiro a um número pequeno de participantes, falo, por exemplo, de um número de alunos em sala de aula. E esse número reduzido de participantes deverá ser incentivado a começar no seu espaço físico alcançável de leitura, na contexetualização do lido com o vivido, numa projeção futura para o mundo e, no mínimo, com resultados para seu mundo, que conseqüentemente agirá sobre os demais. E assim, sucessivamente, a engrenagem de mudança começa a andar. Uma ação comunitária benéfica para todos, na qual a leitura, disfarçadamente, resgata o leitor, e o leitor aprende a ler.
Sempre acreditei que a literatura existe para adquirirmos cultura, conhecimento da nossa e das sociedades passadas, mas para além, muito além disso ela é o registro da arte da escrita e com ela carrega o papel psicológico, dentro da humanização de formar indivíduos.
E por fim, sempre defendi que ela deveria ser um ato de escolha, ou seja, ser ensinada via obras que falem à leitura do aluno, e que a escola deve estar atenta, pois para se fazer bom leitor é necessário respeitar gosto e idade. È apresentar ao aluno variedades de leituras para que ele se “ache” num livro, que encontre seu dia-a-dia, a sua realidade e, assim, aprender a transformar e formar a sociedade em que vive.
Pois bem, voltando à questão que me fez elaborar esse artigo, quero dizer o que sempre disse aos meus alunos: todos nascemos com o Dom da escrita. TODOS!
Diferentemente do que algumas pessoas pensam, o ato de escrever não é algo que pode ser desenvolvido ao longo dos anos, até pode e deve ser exercitado, mas não é isso que vai formar um escritor, porque o ato de escrever, o DOM da escrita está em SENTIR o que vamos escrever.
Seria muito óbvio dizer que com conhecimento das regras e com o treino da escrita eu serei um bom escritor, ou mesmo um escritor. Penso que dessa forma estaríamos burlando as regras e passando, de forma ilegal, na frente daqueles que não possuem o conhecimento. Mas, se quem não detem o conhecimento consegue escrever, então fico a pensar...., mais uma vez, o que faz com que eles consigam escrever? Sim, porque posso dar mil exemplos aqui, desde Camões, até Chico Buarque, que não tiveram escolaridade superior para o domínio da escrita, mas mesmo assim conseguiram fazer do ato da escrita a maior representação. Mas de que representação estou falando? Pois, cheguei onde queria chegar.
Todo ato de escrita é o ato de sentir. Assim como na vida, precisamos sentir o que estamos vivendo para poder viver. O ser humano precisa tocar e se deixar tocar para fazer que a arte nasça, para que esse ato Divino, esse Dom aconteça.
Lembro de um aluno “inteligentíssimo”, do terceirão, aliás, eu tinha de estudar mais quando ia ministrar para ele porque ele me fazia buscar mais alternativas para o grupo e esse exemplo quero dar porque é o maior que tenho entre todas as ciências do mundo inteiro, e ele me dizia: professora nunca vou conseguir fazer um poema, porque não sei escrever. Todavia, bastou estar amando para expressar todo o seu sentimento. Quero ressaltar que esse meu aluno tinha, em todas as matérias, a média 9,0 e para os padrões europeus isso significava 19.
Precisamos sentir, amar o que fazemos para que o Dom aconteça. Só quem ama consegue fazer da escrita e dos demais ato desse universo um ATO DIVINO. E alguém poderia me dizer: “ah!!!, mas escrever é para quem ama escrever, não é para um químico....” Em resposta a essa afirmação eu diria: sim, ser escritor, ser um químico, ser dentista, ser faxineira, ser doutor é para quem ama o que faz e até mesmo a química requer o registro da escrita e se o químico ama o que ele faz, consequentemente ele vai escrever bem sobre a química, a começar pelos regristros simbólicos dos elementos químicos.
Fechando o ciclo, quero dizer com tudo isso é que a leitura exerce sobre nós um processo de ativar nossos sentimentos, porque entre o papel e a escrita está há algo que pulsa, o ser humano, e se um texto for bem lido, bem interpretado, bem analisado, bem dramatizado, bem elaborado, ele desperta no leitor aquilo que o fez escrever, o sentimento. E esse sentimento, com esse sentir desenvolve escritas, com ou sem conhecimento científico, que até ele mesmo duvida.
Ao Sr. Elizeu, meu muito obrigada por me fazer pensar mais um pouco sobre o ato de escrever.

2 comentários:

  1. Olá Gislaine; gostei bastante da forma com que escreve, e do blog em si; o mesmo está muito bom. Estarei lhe acompanhando com satisfação. Abraços Marco

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  2. Prof.Gislaine,
    Muito interessante e acrescenta muito este seu artigo no meu entendimento do ler e escrever.

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