segunda-feira, 12 de abril de 2010

Literatura, Literacia e Formação de Leitores

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Segundo Benavente, a priori tínhamos a alfabetização como método de acesso do homem com o mundo, todos deveriam saber ler e escrever para estarem inseridos na sociedade, caso não soubessem eram considerados excluídos. Com o passar do tempo e com os primeiros estudos realizados nos Estados Unidos da América, verificou-se que os indivíduos, mesmo alfabetizados, não conseguiam fazer uso deste aprendizado para o dia a dia de suas vidas. Foi então que nasceu a versão da nova alfabetização, ficando esta com a capacidade de domínio destas práticas aprendidas, como ler, escrever e fazer calculos.
No estudo que realizou sobre Literacias em Portugal, Benavente constatou, dentro de um grupo específico sobre periodicidade e tipos de leituras, que a leitura dos livros anda distante , da mesma forma que os tipos de leituras estão longe das obras literárias. A autora diz-nos:

“(…) A leitura de livros é rara dentro do grupo (apenas três jovens a indicam como forma de ocupar os tempos livres), sendo em geral restrita à banda desenhada (…)” (BENAVENTE, 1996: 260-262)

Portugal ocupa o segundo lugar dentro do Continente Europeu de não fazer uso do hábito da leitura. Ao quererem atribuir este fato aos preços dos livros, em entrevista a Rádio Notícias TSF , na época o atual presidente da APEL Rui Beja diz com relação aos preços dos livros que estes estão ligados a demanda de tiragem em cada país, ou seja, quanto maior a tiragem teremos uma queda no preço da obra e que consequentemente os altos preços em Portugal estão ligados diretamente aos níveis de literacias e aos hábitos de leituras no país.
Fato este já percebido e anunciado anteriormente pela escritora Isabel Alçada, que alertava para necessidade de se criar métodos para o desenvolvimento afetivo de leitores com os livros:

“(…) é preciso criar o hábito da leitura (…)”. (ALÇADA, 2007)

Segundo Becker, o professor deve oferecer formas didácticas diferenciadas, que venham ao encontro do que os alunos gostem para que os mesmos sintam o desejo de ler. Na maioria dos casos, os alunos apresentam predisposição para não gostar da disciplina de literatura justamente porque a soma do conteúdo literário estudado em sala de aula, geralmente, como já citamos, com uma escrita requintada para as necessidades sociais de época, mas que para o contexto atual, faz-se completamente fora de sentido e desatualizada dentro da vida do aluno do século XXI e somada a metodologia aplicada fazem com que o aluno tenha uma predisposição a não se interessar pela disciplina.
Daí, a necessidade de implementar uma metodologia que busque ensinar a literatura de uma forma direccionada, afim de resgatar o leitor. Caso contrário, não teremos leitores, mas sim “leitores” para atingir as necessidades, somente curriculares. Entende-se, com isso, que há uma ligação muito próxima entre a literatura e a formação do indivíduo, ultrapassando todo e qualquer parâmetro, somente, curricular, e isso se dará à medida que tivermos autênticos leitores; uma forma de chegar à formação literária pelo o que o nosso aluno gosta de ler. (BECKER, 2005:43).
Uma opção que nos parece plausível, aplica-se a partir da prioridade que devemos ter sobre todo esse entendimento de mudanças que as sociedades atravessaram e entendermos que diante de nós está um aluno do século XXI e não dos séculos passados, o qual se utiliza de uma linguagem totalmente diferenciada dos textos que precisam estudar. E para, além disso, são leitores de tempo algum, a não ser do que lhes interessa.
Inúmeras são as possibilidades de inserção da Literatura Marginal dentro da sala de aula, podemos começar por formar leitores para podermos ensinar a literatura a partir das obras que nossos alunos gostam de ler, que nos parece a mais justa. Quando refletimos a respeito de não termos leitores ou quando nossa reflexão passa para o abandono escolar, sempre nos vem à mente a idéia que estas perdas estão relacionadas ao fato de que a escola não respeita as diversidades culturais existentes dentro dela, da mesma forma que pretende impor seus valores, via suas metodologias.
____________*Leitura no Domaine de Nerige, s/d; Alex Russell Flint ( Reino Unido)
óleo sobre tela

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